SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, intensificou sua pressão sobre o Federal Reserve (o banco central americano) para reduzir os juros do país nesta segunda-feira (30), acusando o presidente da instituição, Jerome Powell, de custar ao país “uma fortuna” em um bilhete escrito à mão.
O recado, exibido pela porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, foi escrito em uma folha de papel que classifica em ordem crescente as taxas de juros de diversos países ao redor do mundo. Os EUA aparecem no final, com uma taxa de até 4,50%. O Brasil, com a Selic a 15% ao ano, estaria mais abaixo na lista.
Em uma publicação nas redes sociais nesta segunda, Trump ainda disse que Powell e seus pares do conselho do Fed, que votam nas decisões de política monetária, “deveriam ter vergonha de si mesmos por permitir que isso aconteça com os Estados Unidos”.
“Se estivessem fazendo seu trabalho adequadamente, nosso país estaria economizando trilhões de dólares em custos de juros”, escreveu Trump. “O Conselho apenas fica sentado e observa, então são igualmente culpados.”
Enquanto isso, os republicanos estão tentando aprovar um amplo projeto de lei de impostos e gastos que está prestes a aumentar drasticamente o déficit federal, o que forçaria o governo a destinar mais dinheiro para cobrir os pagamentos de juros sobre a dívida. Trump pediu uma redução de até 2,5 pontos percentuais nas taxas de juros, bem abaixo do nível de 4,25% a 4,5% que está em vigor desde janeiro.
A crítica é a mais recente em meses de ataques nos quais Trump insultou Powell diretamente e até ameaçou demiti-lo como presidente. Na sexta-feira (27), o presidente incentivou Powell a renunciar antes que seu mandato como presidente termine em maio de 2026. Powell pode permanecer como diretor até 2028, se desejar.
Trump também sugeriu nomear um substituto para Powell antes do término de seu mandato, uma medida que poderia complicar as comunicações para o Fed.
A próxima vaga no conselho do Fed é para o cargo ocupado por Adriana Kugler, cujo mandato deve expirar em janeiro. Nesta segunda-feira (30), o secretário do Tesouro Scott Bessent levantou a ideia de nomear o sucessor de Powell para essa posição e posteriormente elevá-lo a presidente.
Um pré-requisito para o próximo presidente é que ele deve estar disposto a reduzir as taxas de juros, disse Trump na sexta-feira, uma promessa que arrisca minar a independência de longa data do banco central em relação à Casa Branca.
Depois de reduzir os custos de empréstimos em um ponto percentual no ano passado, o Fed manteve uma abordagem de “esperar para ver” sobre novos cortes em meio à incerteza sobre como a economia responderá às políticas de Trump, incluindo tarifas.
Uma das maiores queixas do presidente é que outros países continuaram a reduzir as taxas de juros enquanto o Fed permaneceu parado.
Enquanto os ataques a Powell continuavam, ele estava em Sintra, Portugal, reunindo-se com outros banqueiros centrais globais. Em um jantar nesta segunda para marcar o início da conferência anual do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, presidente do banco, tirou um momento para reconhecer Powell.
Ele “personifica o padrão do banqueiro central corajoso”, disse Lagarde, acrescentando que Powell merecia os aplausos da sala. Ela agradeceu a outros dois formuladores de políticas europeus de longa data, e então a sala deu uma ovação de pé.
Powell deve falar nesta terça-feira (1º) em um painel na conferência. Além de Lagarde, outros participantes incluem Andrew Bailey, do Banco da Inglaterra.
Trump tem rotineiramente apontado para o Banco Central Europeu, que cortou as taxas oito vezes no último ano, ao criticar Powell. O Banco da Inglaterra também reduziu as taxas no último ano, mas manteve os custos de empréstimos estáveis em sua reunião mais recente em junho.