SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O entorno da avenida Brigadeiro Faria Lima, uma das regiões mais desenvolvidas da capital paulista e que abriga grandes empresas dos setores financeiros e de tecnologia do país, deverá receber em pouco mais de um mês o sinal de largada para uma nova etapa de transformações.

A SP Urbanismo, braço da prefeitura responsável por executar projetos de urbanização, prevê para agosto deste ano a realização de um leilão de títulos públicos que darão o direito aos seus compradores de construir novos prédios, ampliar os existentes e até de demolir e reconstruir edifícios no trecho paralelo ao rio Pinheiros, na divisa entre as zonas oeste e sul da cidade.

Nesta área estão bairros como Itaim Bibi, Jardins, Pinheiros, Vila Olímpia e Vila Nova Conceição. Esses instrumentos, negociados no mercado financeiro, são identificados pela sigla Cepac (Certificado de Potencial Adicional de Construção).

Nas áreas de Operações Urbanas Consorciadas, como é o caso da Faria Lima, as Cepacs substituem a outorga onerosa, taxa cobrada diretamente pela prefeitura para permitir construção superior à área do lote e que é aplicada na maior parte da cidade.

O dinheiro arrecadado com leilões de títulos deve ser aplicado em obras de infraestrutura no eixo da operação ou em uma extensão desse perímetro. Essa expansão foi feita para que parte da verba possa ser utilizada em projeto de urbanização da favela de Paraisópolis, a cinco quilômetros da Faria Lima.

Estima-se que 250 mil metros quadrados em construções ainda possam ser liberados na área da operação, o que corresponde a cerca de R$ 2,8 bilhões a serem arrecadados com a venda de certificados.

É com foco nesses recursos que Câmara e prefeitura revisaram recentemente a operação Faria Lima.

Investimentos na região estavam emperrados porque, na avaliação de investidores e empreendedores do mercado imobiliário, as vantagens oferecidas pelas regras aprovadas na operação de 1995 ficaram desvantajosas se comparadas às vigentes em legislações mais recentes para outros bairro.

A comparação é com as liberações de prédios mais altos nas proximidades de estações de metrô, trens e corredores de ônibus, como aprovado na revisão do Plano Diretor em 2023.

Ao revisar a operação, vereadores e prefeitura também permitiram a construção de prédios maiores na área da operação urbana. É uma medida que tende a tornar atraente até mesmo a demolição de edifícios atuais para que novos sejam construídos.

Em maio, a prefeitura enviou para a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) o prospecto com detalhes sobre a operação envolvendo esses títulos. Essa era uma das mais importantes etapas para que o leilão possa ser realizado.

Dos quase R$ 3 bilhões previstos para serem arrecadados, aproximadamente R$ 2 bilhões serão prioritariamente aplicados na urbanização de Paraisópolis e comunidades do entorno, na zona sul da cidade.

Outras obras de infraestrutura estão previstas na operação para melhorar a infraestrutura no próprio entorno da avenida Brigadeiro Faria Lima. Projetos desse tipo têm como regra a aplicação dos recursos arrecadados em melhorias viárias e de serviços públicos para compensar consequências da expansão imobiliária.

Entre as intervenções pretendidas está uma obra para desafogar o tráfego de veículos na região prevista há quase 40 anos. É o boulevard Juscelino Kubitschek, uma passagem subterrânea para ligar dois túneis que ficam sob o rio Pinheiros —presidente Jânio Quadros e Sebastião Camargo— ao complexo Viário Ayrton Senna, que passa sob o parque Ibirapuera.

A ideia de fazer um túnel abaixo da avenida Juscelino Kubitschek é da segunda metade dos anos 1980, na gestão de Jânio Quadros (1917-1992). A obra chegou a ter início, mas foi interrompida e aterrada por Luiza Erundina (na época no PT, hoje no PSOL), que assumiu o cargo em 1989.

Considerando o histórico de operações urbanas financeiramente deficitárias na capital, um integrante da gestão de Ricardo Nunes (MDB) disse à Folha de S.Paulo que o recurso arrecadado dificilmente será suficiente para realizar a obra e a administração terá de captar investimentos de outras fontes.

A gestão Nunes afirma, porém, que a obra é prioritária e que está confiante sobre o êxito da arrecadação para conclusão do projeto.

Quanto às demais intervenções, a prefeitura informou manter alinhamento com diversas secretarias para definir as melhores estratégias, mas destacou que o foco é o complexo Paraisópolis.

Outras obras previstas na resolução do conselho são extensão da hidrovia do rio Pinheiros, incluindo desapropriações e compra de embarcações; reforma do Largo da Batata, prolongamento da avenida Brigadeiro Faria Lima e alça de ligação com a avenida dos Bandeirantes.