BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ministro Fernando Haddad (Fazenda) reiteraram a aposta no discurso de classes ao dizer que as medidas tributárias defendidas pelo governo buscam justiça social. As declarações são dadas horas após o presidente da Câmara, Hugo Motta (União-PB), criticar o que chamou de “polarização social”.
Governo e Congresso estão em um embate sobre o tema, com a gestão Lula tentando fechar as contas públicas com propostas que elevam a tributação do que vem chamando de “andar de cima”. Motta, por sua vez, diz que o clima entre os parlamentares não é favorável a aumento de impostos e impôs neste mês uma derrota ao Executivo ao derrubar o decreto que aumentaria o IOF (Imposto sob Operações Financeiras).
“Nós vamos continuar fazendo justiça social. Podem gritar, podem falar, mas chegou o momento de fazer justiça pelo Brasil”, afirmou Haddad. Em suas falas, o ministro também criticou os chamados “jabutis” (jargão político em referência ao animal que só sobe se alguém o colocou ali, ou seja, por interesse de alguém) inseridos na legislação que beneficiam somente determinados empresários.
“Vamos fechar todas as brechas para os jabutis. No Brasil, jabuti é órfão de pai e mãe, ninguém assume a paternidade de um jabuti, que existe para beneficiar empresários. Cada vez que a gente remove um jabuti, tem a grita do andar de cima de que está aumentando imposto. Não, isso é ter o mínimo de respeito ao trabalhador que paga suas contas.”
Haddad também saiu em defesa do presidente Lula após críticas de Bolsonaro no dia anterior (que versaram sobre posicionamento na geopolítica global e veladamente a outros temas, como corrupção) e questionou que moral o ex-presidente teria na discussão tributária, mencionando que o então presidente deixou de reajustar a tabela do Imposto de Renda.
“Não posso deixar de mencionar o ataque que o senhor sofreu nas redes sociais do seu antecessor, que talvez tenha se chateado com o fracasso do evento da [avenida] Paulista ontem e resolveu te atacar”, disse. “Ele é muito diferente do senhor, o senhor sabe. O senhor nunca pediu para qualquer um de nós petistas, nem mesmo eu que representei o senhor em 2018, nunca pediu um favor, anistia, nada.”
Em seu discurso, em seguida, Lula reforçou as falas do ministro e destacou as pautas voltadas à tributação que o governo busca aprovar no Congresso.
“Nós queremos fazer com que esse país se transforme num país justo e ele começa a ser justo pela tributação. E depois ele continua a ser junto pela repartição. E é por isso que nós estamos fazendo o projeto [para quem tem salário] até R$ 5.000 ter isenção. É por isso que a gente vai fazer que quem consome até 80 kWh (quilowatt-hora) de energia pague menos. É por isso que a gente vai fazer com que o gás chegue mais barato na casa das pessoas”, disse.
“Isso é para melhorar a qualidade de vida das pessoas. Ninguém quer que as pessoas vivam a vida inteira de Bolsa Família. Ninguém quer. O que nós queremos é que a pessoa viva tranquilamente às custas da sua capacidade profissional, da capacidade produtiva”, disse.
As declarações foram dadas durante lançamento do Plano Safra da Agricultura Familiar, no Palácio do Planalto. Os anúncios foram divididos em dois eventos, este primeiro voltado à agricultura familiar, enquanto o segundo será voltado ao empresariado, marcado para terça-feira (1º).
Sobre o tema, Lula cobrou que Haddad e os demais integrantes do seu governo falem sobre redução na taxa de juros, após anunciar que o Plano Safra manteve as taxas de juros para a produção de alimentos e linhas de crédito custeio (3% para produtos de alimentos da cesta básica e 2% para produtos da sociobiodiversidade, agroecologia e orgânicos).
“Todo mundo fala taxa de juros, todo mundo fica olhando o aumento da Selic. As pessoas se queixam, mas a taxa de juro está muito cara. Pois bem, se você pegar um juro a 14% ao ano e você descontar inflação, esse juro vai ser 9%. Então é importante que a gente aprenda a falar essas coisas para as pessoas se darem conta de que os nossos bancos estão fazendo aquilo que historicamente não faziam”, disse.
O evento teve a presença de parlamentares e ministros de governo, entre eles Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), de representantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e de outras organizações vinculadas à agricultura familiar.