BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Até cinco meses atrás um dos personagens mais poderosos da República, o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP) vê ameaçada a pretensão eleitoral em seu estado, Alagoas, fruto de uma disputa política que vem travando há oito meses a indicação pelo presidente Lula (PT) do próximo ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
O preenchimento da vaga no tribunal foi, inclusive, um dos temas da conversa entre Lira e Lula no último dia 14, no Palácio da Alvorada.
Adversários do ex-presidente da Câmara afirmam que ele é o responsável por atrasar a indicação da procuradora Maria Marluce Caldas Bezerra, do Ministério Público de Alagoas, até que haja algum acerto sobre a formação das chapas majoritárias no estado em 2026, o que ele nega.
O ex-presidente da Câmara tem afirmado a interlocutores que não se opõe à indicação de Marluce e se queixa do que classifica ser uma narrativa falaciosa para enfraquecê-lo.
Lira tem a pretensão de disputar uma das duas vagas ao Senado, mas a lógica desse tipo de eleição em estados do Nordeste exige uma composição política prévia para aumentar as chances de êxito.
Tradicionalmente, os candidatos favoritos contam com apoio de clãs locais e principalmente de prefeitos, que atuam como cabos eleitorais destinados a cabalar o maior número de votos em suas cidades.
O plano A de Lira é concorrer ao Senado tendo como competidor viável apenas Renan Calheiros (MDB), que é seu adversário político e que vai disputar a reeleição. Com isso, a vitória de ambos estaria mais ou menos precificada.
Ocorre que recentes entendimentos entre o clã Calheiros e o prefeito de Maceió, JHC (PL), têm ameaçado esse plano.
De acordo com políticos locais, há a possibilidade de JCH deixar o PL e, em vez de disputar o Governo de Alagoas, como era o previsto, se candidatar ao Senado em dobradinha com Renan, criando obstáculos a Lira.
Se isso se confirmar, a chapa JHC-Renan seria completada pela candidatura ao governo de Renan Filho (MDB), senador licenciado e ministro dos Transportes.
É aí que a indicação da procuradora ao STJ entra.
Marluce é tia de JHC, que trabalha para emplacá-la no tribunal. De acordo com políticos alagoanos, o prefeito teria se comprometido a abandonar o barco de Lira e abrir caminho para Renan Filho na disputa estadual caso Lula confirme a indicação.
Com isso, Lula teria em 2026 um forte palanque em Alagoas, com seu atual ministro dos Transportes disputando o governo estadual, além de uma chapa ao Senado fiel, que incluiria um nome hoje popular em Maceió e que se desgarraria do PL e do bolsonarismo.
O problema, dizem adversários do ex-presidente da Câmara, é Lira.
Aliados do ex-presidente da Câmara afirmam que a equação vendida por JHC, que estaria se comprometendo com os diferentes atores políticos, não para em pé, já que algumas dessas possibilidades vão de encontro ao que teria sido acertado previamente: a candidatura do prefeito ao governo estadual, não o Senado.
A sinalização de aproximação de JHC com Lula é vista com cautela por aliados do presidente, já que o prefeito trocou o PSB pelo PL entre o primeiro e segundo turno das eleições presidenciais de 2022 para apoiar Jair Bolsonaro (PL), adversário do petista na disputa. JHC tem ensaiado há meses deixar o PL, mas até o momento esse movimento não foi concretizado.
Além de ainda manter grande influência no Congresso, tendo emplacado o seu sucessor, Hugo Motta (Republicanos-PB), Lira relata uma das principais propostas de interesse do governo, a que isenta o Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000.
De um lado, o grupo dos Calheiros critica Lira dizendo que ele foi responsável por levar um problema local ao presidente da República. De outro, aliados do ex-presidente da Câmara falam que foi culpa dos Calheiros envolver o petista nessa situação.
Um adversário de Lira diz que a lógica seria Lula atender aos Calheiros, que são seus aliados históricos, diferentemente do ex-presidente da Câmara. E que qualquer movimento diferente disso pode trazer ruídos na relação com essa ala do MDB que apoia o petista.
O motivo da ida de Lira ao Palácio da Alvorada no último dia 14 é fruto de controvérsia, de acordo com versões de pessoas a par do teor das conversas.
Alguns dizem que o ex-presidente pediu para acompanhar Hugo Motta no encontro, em que foi discutido com Lula a crise do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) e o represamento das emendas parlamentares. Outros afirmam que Lira foi chamado.
Adversários do ex-presidente da Câmara dizem que ele pediu a Lula para não decidir a nomeação para a vaga ao STJ enquanto persistir a falta de acordo para a chapa majoritária em Alagoas em 2026.
Além de Marluce, integram a lista tríplice elaborada pelo STJ Sammy Barbosa Lopes, do Ministério Público do Acre que também conta com apoios de peso, como o do corregedor nacional de Justiça, Mauro Campbell e Carlos Frederico Santos, do Ministério Público Federal.
Aliados de Lira dizem que o presidente chamou o parlamentar para conversas de temas variados como já ocorreu em outras ocasiões neste ano e não com a premissa de falar do cenário em Alagoas. Ao final do encontro, que durou mais de duas horas, teria partido do ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), trazer a indicação do STJ à tona.
Rui teria afirmado que eventual indicação de Lula não terá relação com o cenário político, e o petista repetido que não tomará nenhuma decisão sem discutir mais a fundo o tema com Lira.
O ex-presidente da Câmara tem dito a aliados que será candidato ao Senado em qualquer situação. O desejo do parlamentar é lançar um de seus filhos para uma vaga na Câmara.