SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ainda não era meia-noite e iria levar mais de seis horas para a próxima decolagem, mas Silmara Bettini, 49, puxava uma mala de rodinhas pelos saguões de Congonhas. Não que tivesse chegado com antecedência para evitar fila no embarque. Ela era uma cem pessoas credenciadas para fotografar aviões no aeroporto da zona sul de São Paulo. O evento foi aberto 5h deste sábado (28).

“Achei mais seguro pegar um carro de aplicativo naquele horário do que na madrugada por causa dos equipamentos”, disse. Na bagagem, além de suas câmeras e lentes, ela levou baterias reservas, água e toalha. Outros grupos passaram a madrugada no aeroporto, que só é aberto para pousos e decolagens às 6h.

Esse foi o primeiro spotter day –encontro de plane spotters, observadores de avião, na tradução literal, no caso, fotógrafos– promovido pela Aena desde que a concessionária de origem espanhola assumiu a gestão do aeroporto em outubro de 2023. A Folha foi convidada para acompanhar o evento.

Por causa da complexidade de Congonhas, Tiago Dantas, diretor de operações do aeroporto, disse que os protocolos de segurança tiveram de ser reforçados, inclusive com a convocação de mais profissionais do que o habitual. “Houve uma equipe exclusiva para o evento”, afirmou.

O grupo deste sábado reuniu fotógrafos amadores a profissionais. Muitos tinham pendurado no pescoço rádios comunicadores que captavam as conversas entre a torre de controle e pilotos para saber o momento certo de se posicionar

Esse era o caso do servidor público Fernando Garcia, de Guarulhos (SP), ex-funcionário da antiga companhia aérea Vasp e um dos responsáveis por um grupo com mais de 250 spotters no WhatsApp. “O rádio ajuda para a gente acompanhar como está a chegada de um avião ou se vai arremeter”, afirmou.

Foi a arremetida de uma aeronave da Azul, aliás, que provocou a primeira grande euforia do grupo, que também usou aplicativos de celular com radares para monitorar quanto tempo levaria para chegar uma aeronave ou se seria alguma especial.

Rodrigo Cozzato, 46, tinha no bolso um papel com uma lista de matriculas de aviões que ele ainda não tem, como numa coleção de figurinhas.

Cozzato estava grudado na grade que delimitava o espaço dos fotógrafos ao lado de dois amigos de encontros, Rodrigo Bertoli, 49, do Recife, e Lúcio Dadu, 41, do Rio de Janeiro.

“Nos conhecemos há mais de 15 anos, antes das redes sociais serem usadas para as pessoas publicarem suas fotos de aviões como hoje”, disse Dadu.

Bertoli aproveitou as férias para visitar parentes e participar do evento. Entre suas “figurinhas carimbadas” estava um Concorde, supersônico aposentado no início dos anos 2000, fotografado em Londres, para onde ele foi apenas para isso.

“Somos fotógrafos de verdade, com cursos e equipamentos”, lembrou Cozzato, que tem em seu celular um avião da Nasa registrado na Califórnia (EUA).

A Aena levou mais de um ano após assumir Congonhas para organizar o evento, que já era realizado pela concessionária em outros aeroportos que administra, como no Recife, porque esperava por todas as certificações, segundo o diretor Dantas.

“O evento em si é muito parecido em todos os aeroportos, mas Congonhas tem um diferencial, está no meio da cidade. Tem os aviões e o que está em volta daqui. Isso traz uma necessidade maior, tanto de logística para fazer o evento sair do papel quanto para garantir que as operações aconteçam.”