SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após refazer várias novelas emblemáticas, como “Vale Tudo” e “Pantanal”, a Globo agora busca surfar na audiência de outro sucesso, “Êta Mundo Bom!”, mas não com um remake. Estreia nesta segunda-feira “Êta Mundo Melhor!”, uma sequência para aquele folhetim, com o caipira Candinho à frente da história.

É uma aposta segura. A novela original, lançada em 2016, tem a maior audiência média da faixa das seis da Globo na última década, segundo o Kantar Ibope. Escrita por Walcyr Carrasco, “Êta Mundo Bom!” foi elogiada pela leveza da trama e pelo humor dos protagonistas –gente simples, interiorana e sonhadora.

Em “Êta Mundo Melhor!”, Carrasco divide o roteiro com Mauro Wilson, que já escreveu as comédias “Os Trapalhões” e “A Grande Família”. Na história, Candinho, que passou anos procurando pela mãe, agora busca o próprio filho, sequestrado e levado ao orfanato de Zulma, vilã inédita de Heloísa Périsse.

Estão de volta personagens conhecidos de “Êta Mundo Bom!”, como Cunegundes, de Elizabeth Savalla, e Dita, feita por Jennifer Nascimento, agora uma protagonista. Mas o elenco também tem novidades, como Tony Tornado e Larissa Manoela, e a saíde de nomes como Marco Nanini e Camila Queiroz, que à época fez sucesso com a cômica Mafalda.

Wilson diz que o potencial do novo folhetim está na junção entre uma São Paulo dos anos 1950 e temas contemporâneos. O folhetim vai mostrar, por exemplo, personagens brigando contra o machismo, ainda que isso fosse raro à época.

Nos bastidores, “Êta Mundo Melhor!” também ficou mais moderna –vai usar ferramentas de inteligência artificial, sendo a primeira novela da Globo a apostar de forma ampla na tecnologia. O objetivo é animar imagens estáticas da capital paulista àquela época e incorporar emoções a animais.

É o caso do burro Policarpo, companheiro de Candinho e um dos personagens mais populares da trama original, que ressurge com caras e bocas antropomórficas, criadas por meio de inteligência artificial. Um vislumbre disso está em um dos comerciais divulgados pela emissora, em que o bicho aparece de dentes arreganhados, com o lábio levantado, em uma expressão travessa –e pouco real.

Cobrir a cara do animal com uma fisionomia humanizada é um processo que começa ainda nas filmagens, conta Fernando Alonso, diretor de pós-produção e design da Globo. Segundo ele, para que a edição dê certo, a cena precisa ser iluminada de uma forma específica, e o ator que interpreta o animal deve seguir uma movimentação planejada em detalhes diante das câmeras.

Inteligência artificial será usada ainda em outros setores da produção, como som, cores e efeitos visuais, processos agora acelerados com tecnologia. A colorização, que antes levava horas, agora é feita em minutos, diz Alonso.

O ator Ary Fontoura, de 92 anos, que volta a interpretar o dono de sítio Quinzinho em sua 51ª novela, diz acreditar que a novidade será bem recebida. “Não dá para ficar atento ao passado e resistir ao que está por vir. Não tenho medo de inteligência artificial. Nada que surja vai destruir o ser humano. Nós estaremos sempre intactos”, diz.

“Tudo é uma questão de normas. Se a IA for usada de forma arbitrária, pode tirar empregos. Mas as coisas vão se acomodando”, ele acrescenta. Alonso, o diretor à frente da tecnologia, recusa a ideia de que funcionários da emissora vão perder espaço por causa da inteligência artificial. É o ser humano quem comanda a máquina, ele diz.

Walcyr Carrasco já havia se mostrado aberto à novidade. Em evento de lançamento da novela, há duas semanas, o autor afirmou usar IA para fazer pesquisas no processo de imaginar a novela. Agora, por email, diz jamais ter recorrido à tecnologia para escrever os roteiros porque as ferramentas são treinadas para imaginar finais que ele considera moralistas demais. “A IA teria sido excelente, por exemplo, para Esopo criar suas fábulas.”

Os autores dizem que o novo folhetim não é só para quem viu “Êta Mundo Bom!”. É incomum que a Globo crie continuações para suas tramas regulares, exibidas na TV aberta –algo parecido até aconteceu com “No Rancho Fundo” e “Mar do Sertão”, mas as novelas só dividiam alguns personagens e tinham tramas bem distintas.

Para Sergio Guizé, que volta ao papel de Candinho quase dez anos depois, a mudança que deve chamar a atenção do público é a injeção de mais humor e as cenas musicais. “É uma novela bem diferente da anterior. Tem um viés mais popular e é mais puxada ao humor de Charles Chaplin. E dos palhaços também. São personagens que transformam o trágico em cômico.”

Êta Mundo Melhor!

Quando: Estreia na segunda-feira (30), às 18h05

Classificação: 10 anos

Autoria: Walcyr Carrasco e Mauro Wilson

Elenco: Jennifer Nascimento, Sergio Guizé e Heloisa Périssé

Produção: Brasil, 2025

Direção: Amora Mautner

Onde: ver TV Globo e Globoplay