BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo brasileiro enviou uma aeronave da FAB (Força Aérea Brasileira) para transportar líderes de 13 delegações caribenhas à Cúpula Brasil-Caribe, encontro de chefes de estado da região que ocorreu no dia 13 de junho, em Brasília.

De acordo com o Itamaraty, a operação foi feita para garantir uma maior presença de representantes no evento–a maioria dos países não dispunha de recursos como aeronaves oficiais para fazer o translado das autoridades.

O avião da FAB fez três paradas para buscar os representantes: Nassau (Bahamas), Porto de Espanha (Trinidad e Tobago) e Georgetown (Guiana). Depois, transportou os líderes caribenhos a Brasília.

Foram incluídas no voo as delegações de Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Santa Lúcia, Granada, Guiana, Haiti, São Cristóvão e Névis, São Vicente e Granadinas, Jamaica, Trinidad e Tobago, além da Comunidade do Caribe e Associação dos Estados do Caribe.

Também foi levada em consideração a dificuldade de conexão aérea entre o Brasil e o Caribe: com pouca oferta de voos diretos, o custo de empresas comerciais é alto pela necessidade de escalas em outros países da América Latina.

O procedimento é adotado em eventos de alto nível que envolvam países que não dispõem de aeronaves oficiais ou rotas comerciais com o Brasil, como foi feito na edição do evento de 2010, realizada no segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Conforme prática adotada em eventos internacionais dessa natureza, o Itamaraty ofereceu hospedagem (uma suíte executiva) aos chefes de delegação que compareceram à cúpula.

No total, a Caricom, como é chamada a cúpula, recebeu cerca de 16 representantes de países caribenhos em Brasília, que enviaram presidentes, vices ou ministros.

As discussões da cúpula incluíram a crise humanitária no Haiti, metas para a COP30, que será realizada em Belém em novembro deste ano e demais assuntos de interesse econômico e social com o Brasil, como o fortalecimento da Celac (Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos), e ampliação do engajamento com a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.

A prática de buscar líderes com aeronave oficial também ocorreu em 2021, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), em que o Planalto enviou um avião da FAB para buscar o presidente da Guiné-Bissau, para uma visita oficial ao Brasil. Na época, o presidente Umaro Sissoco Embaló chegou a ser apelidado de “Bolsonaro da África”.

Nesse caso, o Itamaraty disse que o deslocamento do presidente bissau-guineense em aeronave da FAB se inseria no quadro dos laços culturais, históricos, linguísticos e de amizade que o Brasil mantém com Guiné-Bissau.

Também foram usados como justificativa os agravantes da pandemia, que prejudicou as conexões aéreas internacionais, conforme disse o órgão na época.

Neste ano, além do suporte logístico, foi anunciada uma doação do governo brasileiro ao Haiti, cuja crise humanitária foi um dos principais temas do encontro.

O país está com cerca de 80% de sua capital controlada atualmente por facções, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas) e está em um governo de transição. Na cúpula, foi representado pelo presidente do Conselho Presidencial de Transição do Haiti, Fritz Jean.

Lula defendeu maior engajamento da ONU para aliviar a crise haitiana e anunciou um aporte de US$ 5 milhões do Brasil ao Banco de Desenvolvimento do Caribe.

Antes, o governo estudava fazer um aporte de até US$ 9 milhões, mas o valor foi reduzido por causa das restrições orçamentárias brasileiras. A doação deve ir para projetos relacionados a mudanças climáticas, combate à pobreza e melhoria da educação.

As responsabilidades do governo brasileiro em situações internacionais esteve no meio de polêmica nos últimas dias, após a morte da brasileira Juliana Marins, 26, na Indonésia. O governo informou que não faria o traslado de Juliana sob o argumento de que um decreto de 2017 não previa esse tipo de operação.

Diante da restrição da lei e da repercussão negativa, o presidente Lula afirmou na quinta-feira (26) que o governo arcaria com o traslado e haveria mudança no decreto –o que ocorreu nesta sexta (27).

A norma prevê uso de aeronaves para visitas de Estado e casos como concessão de asilo diplomático, como no episódio da ex-primeira dama do Peru Nadine Heredia, que chegou ao país em uma aeronave da FAB. Na época, o governo mencionou razões humanitárias –permitido pela lei.