SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A renda média dos motoristas de aplicativo caiu entre 4% e 13% no período de 2022 a 2024, de acordo com estudo realizado pelo Cebrap, com dados cedidos pelas associadas Amobitec, entidade que representa 99, iFood, Lalamove, Uber e Zé Delivery.

No período, a remuneração dos entregadores aumentou entre 11% e 16%, enquanto o rendimento médio de todos os trabalhos calculado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) avançou 12,1%.

Os dados consideram o ganho líquido dos trabalhadores de aplicativo, descontando custos com impostos, manutenção do carro e combustível. Para fazer as comparações, os valores foram atualizados pela inflação do período.

O estudo do Cebrap foi feito a partir da análise dos dados cedidos pelas plataformas, além de coleta de valores referentes a 2024 e pesquisa qualitativa com entrevistas feitas com profissionais por meio de grupos focais nas cinco regiões do país.

Na quarta-feira (25), durante evento da Casa Jota, a Amobitec apresentou dados parciais da pesquisa, destacando o crescimento de 5% na remuneração bruta —sem descontar custos com a atividade. A apresentação não detalhou a queda na renda final dos motoristas.

O autor do estudo, o sociólogo Victor Calil, disse que o rendimento bruto não reflete a realidade dos trabalhadores, por ignorar o aumento dos custos de manutenção.

Sob orientação de Calil, a reportagem recuperou as estimativas de rendimento líquido de 2022 (feitas em edição anterior da pesquisa), corrigiu os valores pela inflação e verificou a queda nos ganhos dos motoristas.

A Amobitec nega omissão. ⁠”O dado de ganho líquido está no estudo; basta comparar [com o relatório anterior sobre 2022].”

Segundo a associação, a metodologia, apuração, análises e dados apresentados são de responsabilidade do Cebrap. “Patrocinamos o estudo e houve o evento para dar visibilidade aos dados.”

Calil destaca que, no período de análise, houve aumento nos preços de autopeças (27%) e nos impostos (15%), o que impacta diretamente os trabalhadores de transportes de passageiros. No período, caiu o gasto com combustível (7%) e multas (5%), mas os aumentos prevaleceram.

No geral, o gasto estimado dos motoristas para trabalhar subiu, em valores corrigidos, de R$ 2.746 para R$ 2.885 mensais —alta de 5,1%. Para os entregadores, esse avanço foi de 0,5%.

Enquanto isso, o valor pago por hora aos motoristas passou de R$ 44 em 2022 para R$ 47 em 2024, com as correções pela inflação. Para os entregadores, o pagamento por hora subiu de R$ 29,80 para R$ 31,33.

Em 2024, segundo o Cebrap, os motoristas de aplicativo receberam por 40 horas semanais valores entre R$ 3.083 (considerando que 30% do tempo foi parado) e R$ 4.400 (com 10% do tempo à espera de corridas).

Os entregadores, por sua vez, tiveram uma rotina de trabalho mais próxima a um emprego com 20 horas semanais, de acordo com o Cebrap. A jornada deles tem mais especificidades, com picos de pedidos em horários de almoço e jantar, diz Calil.

Se trabalhassem 20 horas por semana, os entregadores teriam renda líquida mensal entre R$ 1.138 e R$ 1.581. Para uma jornada de 40 horas, teriam ganho líquido mensal entre R$ 2.669 e R$ 3.581.

“Os valores ficam acima do salário mínimo no período de realização da pesquisa (R$ 1.412 por mês ou R$ 6,42 por hora) e também são superiores à renda média observada pelo IBGE para trabalhadores do setor de serviços com ensino médio completo (R$ 2.392), nível de escolaridade mais prevalente em ambas as categorias”, diz a Amobitec.

De acordo com levantamento do Cebrap com uma amostra aleatória de 1.500 entregadores, 54% dos profissionais tinham o trabalho por plataforma como única atividade remunerada, ante 52%, em 2022 —oscilação dentro da margem de erro de 2,5%.

A pesquisa também ouviu 1.500 motoristas de aplicativo. Nesse grupo, 58% tinham a atividade via aplicativo como a única fonte de renda, uma queda em relação aos 63% de 2022.

O Brasil registrou, em 2024, 2,2 milhões de pessoas trabalhando nessas empresas, um número que também subiu desde 2022. No período, a quantidade de motoristas avançou 35%, e a de entregadores, 18%.

QUASE METADE DOS ENTREGADORES E MOTORISTAS NÃO CONTRIBUI PARA INSS

Entre os entregadores, 43% não contribuem para o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), sendo que 5% afirmam ter plano de previdência privada.

Como 27% dos entregadores têm um segundo trabalho, eles contribuem por meio da outra carreira. Outros 27% contribuem por meio do MEI (Microempreendedor Individual) e 3% pelo pagamento do carnê do INSS (GPS, guia da Previdência Social)

No grupo dos motoristas, 47% estão sem cobertura do INSS, sendo que 7% dizem contratar um plano de previdência privada.

Entre eles, 27% contribuem via MEI e outros 5% recorrem à GPS, enquanto 21% contribuem por meio de um segundo emprego.

Os dados sobre contribuições à Previdência foram levantados pela primeira vez.

Segundo Calil, a maioria dos entregadores e parte dos motoristas ouvidos em entrevistas qualitativas declaram não ter rendimentos suficientes ou capacidade de se planejar para contribuir, sendo que os profissionais com mais de 45 anos se mostram mais dispostos a poupar para a aposentadoria.

Ainda de acordo com o pesquisador, há um desconhecimento sobre os benefícios previdenciários. “A maioria dos entregadores ouvidos relatou já ter sofrido algum sinistro [acidente de trânsito], mas nenhum buscou o auxílio saúde pago pelo INSS”, afirmou.