SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um estudo do Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) da USP (Universidade de São Paulo) publicado nesta sexta-feira (27) aponta que pelo menos 20% da alimentação diária de moradores das regiões Sul e Sudeste do Brasil é formada por alimentos ultraprocessados.

O estudo avaliou dados de todos os municípios brasileiros. Das 5.570 cidades do país, Aroeiras do Itaim, no Piauí, teve o menor índice, com uma dieta em que 5,7% são ultraprocessados. Já em Florianópolis (SC) esse índice é de 30,5%.

Santa Catarina é o estado que mais consome esse tipo de alimento, com 23,9% das calorias diárias vindas de ultraprocessados. No outro extremo, em Tocantins a taxa é de 12,9%.

O Sul do país concentra as maiores taxas, acima dos 20% no consumo calórico diário. O Sudeste aparece na sequência, liderado por São Paulo -na capital paulista, 25,5% da alimentação diária é de consumo de ultraprocessado.

As regiões Norte e Nordeste do país, com exceção da Bahia, aparecem com as menores taxas de consumo de ultraprocessados. Nos municípios de Dois Irmãos do Tocantins (TO) e Monte Santo do Tocantins (TO), a participação desses alimentos na dieta diária é de 5,83% e 5,87%, respectivamente.

Para Leandro Cacau, pesquisador do Nupens e principal autor do estudo, os resultados no Sul e Sudeste podem ser explicados pela urbanização e renda dos moradores dessas regiões. “Municípios que têm residentes com cinco ou mais salários mínimos são aqueles que possuem maior consumo de alimentos mais processados”, afirma.

O estudo apontou que todas as capitais, com exceção de Vitória, no Espirito Santo, registraram taxas de consumo de ultraprocessados acima dos 20%.

O pesquisador ressalta, porém, que o menor consumo desses alimentos em áreas rurais não quer dizer que os moradores dessas regiões estejam, necessariamente, tendo acesso a uma alimentação saudável.

“Sabemos que essas pessoas consomem alimentos básicos como arroz, feijão, farinha e mandioca e que existe um menor consumo de utraprocessados, mas não dá para afirmar que eles consomem, por exemplo, frutas, cereais integrais, verduras e outros alimentos que são marcadores de uma alimentação saudável”, afirma Cacau.

Para o pesquisador, os novos dados podem ser úteis para a implementação de políticas públicas de âmbito municipal, estadual ou federal, que sigam o Guia Alimentar para a População Brasileira, que promove uma alimentação à base de alimentos minimamente processados.

O levantamento estatístico foi baseado em dados de 46.164 pessoas participantes da última Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF 2017-2018) e aplicados a dados sociodemográficos do Censo de 2010. Para mitigar a diferença temporal entre os números, os autores da pesquisa aplicaram fatores de correção com base em informações de cada município.

A POF ouviu brasileiros com idade a partir dos 10 anos e, para o levantamento, foram reportados mais de 1.800 alimentos –classificados como in natura ou minimamente processados, de ingredientes culinários processados, processados e ultraprocessados (alimentos prontos com formulações industriais).