RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A taxa de desemprego do Brasil recuou a 6,2% no trimestre até maio, apontam dados divulgados nesta sexta-feira (27) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É o menor patamar para esse intervalo na série histórica iniciada em 2012.

O indicador estava em 6,8% nos três meses até fevereiro, que servem de base de comparação na Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua).

O novo resultado ficou levemente abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro, que era de 6,3%, segundo a agência Bloomberg. O intervalo das estimativas ia de 6,2% a 6,7%.

Apesar do choque de juros praticado pelo BC (Banco Central) para conter a inflação, o mercado de trabalho ainda mostra sinais de força, de acordo com o IBGE.

“Observando os dados, está claro que o mercado de trabalho continua avançando, continua resistindo a essa medida [juros altos]”, afirmou William Kratochwill, analista da pesquisa do instituto.

A população ocupada com algum tipo de trabalho (formal ou informal) alcançou 103,9 milhões. É o maior patamar da série para o trimestre até maio e o segundo mais elevado considerando diferentes períodos.

Houve crescimento de 1,2% ante fevereiro. Em termos absolutos, isso significa mais 1,2 milhão de ocupados.

Já o nível da ocupação foi de 58,5% até maio. Trata-se do percentual de pessoas de 14 anos ou mais que estavam trabalhando em relação ao total da mesma faixa etária.

O nível mais recente está próximo do recorde da série de diferentes trimestres. A máxima foi de 58,8% no intervalo até novembro de 2024.

O IBGE destacou que o contingente de trabalhadores com carteira assinada no setor privado renovou o patamar recorde dos diferentes trimestres: 39,8 milhões. O número estava em 39,6 milhões até fevereiro.

Esse grupo não foi o único a bater recorde. Outra máxima veio dos trabalhadores ocupados por conta própria, que chegaram a 26,2 milhões. Os empregados no setor público também renovaram o recorde (13 milhões).

Do total de 26,2 milhões de trabalhadores por conta própria, 19,2 milhões não tinham CNPJ (73,1%). Ou seja, eram considerados informais. A fatia restante, de 7 milhões (26,9%), contava com o registro formal.

O IBGE detalha desde o fim de 2015 se os autônomos possuem ou não CNPJ. O que os dados mostram é que os trabalhadores por conta própria com o registro alcançaram o maior número na série (7 milhões), apesar de o grupo formalizado ainda ser minoria no total.

A busca pelo CNPJ pode estar ligada em parte à necessidade de acessar meios de pagamento e serviços bancários, de acordo com William Kratochwill, do IBGE.

“A pessoa tem de vender, tem de trabalhar e, para melhorar sua condição na luta do mercado de trabalho, tem essa necessidade de se formalizar.”

Pesquisa Datafolha indicou neste mês que 59% dos brasileiros prefeririam trabalhar por conta própria, ante 39% que se sentem melhor contratados por empresa.

O mesmo levantamento apontou que, desde 2022, cresceu de 21% para 31% o percentual que considera mais importante ganhar mais do que ser registrado. Já os brasileiros que valorizam a CLT mesmo com salário menor caíram de 77% para 67% nesse intervalo.

NÚMERO DE DESEMPREGADOS CAI A 6,8 MILHÕES

De acordo com o IBGE, o número de desempregados no Brasil recuou a 6,8 milhões. É o menor da série para os trimestres até maio.

Houve redução de 8,6% (menos 644 mil) na comparação com período encerrado em fevereiro (7,5 milhões).

Nas estatísticas oficiais, uma pessoa de 14 anos ou mais é considerada desempregada quando não está trabalhando e segue à procura de oportunidades.

Kratochwill avaliou que a atividade econômica vem em um “bom caminho”, o que contribuiu para a redução da desocupação.

Ao ser questionado por jornalistas, o pesquisador evitou cravar se o Brasil já se encontra em um quadro de pleno emprego.

Conforme o técnico, essa análise demandaria um olhar mais aprofundado para outras variáveis, além da taxa de desocupação.

“Estamos em uma economia aquecida, e o que vem pela frente vai depender muito das ações de política econômica. Não sei como o governo vai observar esses números e tomar suas atitudes”, afirmou.

Analistas do mercado financeiro consideram que o choque de juros tende a desacelerar a economia brasileira até o fim do ano, após o estímulo da safra recorde de grãos no início de 2025.

Há, contudo, incertezas se o governo Lula (PT) estará disposto a abrir mão de estímulos à atividade antes das eleições de 2026.

RENDA RENOVA RECORDE

Na média, a renda de todos os trabalhos da população ocupada alcançou R$ 3.457 por mês no trimestre encerrado em maio. Com isso, renovou o recorde da série histórica.

O indicador mostrou leve variação positiva de 0,4% ante fevereiro (R$ 3.442), o que o IBGE considera relativa estabilidade. Na comparação com um ano antes (R$ 3.354), a renda teve crescimento de 3,1%.

Em nota, a gestora Kínitro Сapital disse que o mercado de trabalho segue surpreendendo até os mais otimistas.

“Já esperávamos um recuo do desemprego pela sazonalidade [até maio], mas o movimento segue um pouco mais intenso e com reflexos sobre o rendimento dos trabalhadores, indicando importante suporte ao consumo.”

A Kínitro declarou que as surpresas com o ritmo de contratações, a reaceleração de dados de renda e medidas de estímulo ao crescimento adotadas pelo governo apontam para uma “resiliência maior” do que a prevista inicialmente.

“Acreditamos que o mercado de trabalho continuará forte ao longo de 2025. Nossa projeção é de que a taxa de desemprego encerre o ano em 5,5%, patamar bastante baixo para os padrões históricos do país”, afirmou a economista Claudia Moreno, do C6 Bank.

A menor desocupação já registrada na Pnad foi de 6,1% até novembro de 2024. É um patamar bem próximo do verificado até maio de 2025 (6,2%).

O maior nível da série, por outro lado, foi de 14,9%. Isso ocorreu nos intervalos encerrados em setembro de 2020 e março de 2021, na pandemia.

Outra informação publicada pelo IBGE é a taxa de participação, que passou de 62,2% até fevereiro para 62,4% até maio.

Esse indicador mostra a proporção de pessoas de 14 anos ou mais que estão inseridas na força de trabalho como ocupadas (empregadas) ou desempregadas (à procura de vagas).

O percentual segue abaixo do patamar pré-pandemia. Era de 63,7% no trimestre até maio de 2019, antes da crise.

Em parte, o quadro da taxa de participação é associado ao envelhecimento da população. Por essa lógica, a saída da força de trabalho de pessoas mais velhas contribuiria para frear a procura por emprego e, assim, reduzir também a pressão sobre a taxa de desocupação.

O IBGE já afirmou ser possível ainda que jovens estudantes tenham se afastado do mercado com a melhora da renda dos responsáveis pelas famílias. Essa situação seria positiva em caso de dedicação aos estudos.

SÉRIE SERÁ ATUALIZADA

O instituto informou nesta sexta que a série histórica da Pnad passará por atualização. Os números estarão reponderados na próxima divulgação, agendada para o fim de julho.

A medida se deve à necessidade do órgão de incorporar as projeções populacionais mais recentes, feitas a partir do Censo Demográfico 2022. Esse procedimento técnico era aguardado e já ocorreu anteriormente.