SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O veterano do Exército dos Estados Unidos Sae Joon Park chegou ao país ainda criança da Coreia do Sul, alistou-se após o ensino médio, participou da invasão do Panamá em 1989 e foi condecorado por ferimentos em combate. Após quase 50 anos vivendo ali, com green card, foi pressionado pelo governo a escolher entre retornar voluntariamente à sua terra natal ou arriscar ser deportado pelo país em nome do qual lutou.

Park optou por deixar a família e os amigos de décadas e retornar ao país onde ele quase não conhece mais ninguém. “Eu não acredito que isso esteja acontecendo nos EUA”, disse Park, 55, residente permanente legal, em entrevista à emissora NPR antes de deixar o Havaí na segunda-feira (23). “É inacreditável, é o país pelo qual lutei.”

O sul-coreano contou que, durante o tempo dedicado ao Exército, ajudou a derrubar o regime de Manuel Noriega (1934-2017) no Panamá. Park contou que desenvolveu transtorno de estresse pós-traumático após o serviço militar e acabou viciado em crack. Em 2009, foi preso em Nova York tentando comprar a droga e passou alguns anos na prisão.

Ao faltar em audiência -para evitar ser reprovado em teste antidrogas-, ele perdeu a chance de transformar o green card em cidadania, um benefício concedido a veteranos que servem com honra, e recebeu uma ordem de remoção.

De acordo com o jornal The Guardian, um juiz então determinou sua deportação, mas permitiu que ele permanecesse no país desde que se apresentasse anualmente ao ICE (sigla para Serviço de Imigração e Alfândega). Esse acordo costuma ser dado a pessoas cuja deportação não é considerada prioridade, e Park aproveitou para se estabelecer no Havaí e criar um filho e uma filha.

Em junho, ele contou que agentes do ICE, sob orientação do governo de Donald Trump, o avisaram que ele seria detido e deportado se não deixasse o país voluntariamente nas semanas seguintes. Park optou por se despedir de amigos, filhos e da mãe de 85 anos, que enfrenta os primeiros sinais de demência.

Park disse que percebeu que talvez nunca mais veja seus entes queridos enquanto se preparava para embarcar em Honolulu. “Ela meio que não entende bem o que está acontecendo”, disse sobre a mãe. “Não estarei lá para um funeral, para o casamento da minha filha.”

O caso dele ganha destaque em meio às políticas migratórias de Trump, que aumentaram o rigor no controle de imigrantes com green card, mesmo veteranos com histórico militar.

Apoiadores de Park iniciaram abaixo-assinado em plataforma online para tentar reverter sua situação migratória. O documento conta com quase mil assinaturas.

O texto da petição explica que Park foi obrigado a se autodeportar para não ser detido, pois a ordem de remoção o impedia de permanecer legalmente no país. Ele afirma que as dificuldades que teve com drogas foram resultado do trauma adquirido durante o serviço militar.

A petição pede que seu o caso criminal seja reaberto e que as condenações que hoje impedem seus advogados de cancelar o processo de deportação no tribunal de imigração sejam canceladas. Segundo organizadores, o objetivo é permitir que Park possa retornar aos EUA, país onde construiu sua vida e que, como militar, jurou defender.

Segundo o The Guardian, a subsecretária de Segurança Interna, Tricia McLaughlin, afirmou que o histórico de Park “inclui condenações por posse, fabricação ou venda de arma perigosa, porte de arma carregada em local público, agressão e posse de substância controlada”. Destacou ainda que a ordem prévia de deportação retirava dele qualquer “base legal para permanecer nos EUA”.

Park classificou o tratamento do ICE como “muito injusto”. Em mensagem no Facebook, agradeceu o apoio dos últimos dias e lamentou ter sido forçado a deixar o lugar que considera seu lar. “É muito triste ter sido removido de casa.”

Ele disse que chegou aos EUA sozinho, aos 7 anos de idade, com um adesivo no peito para identificação, e nunca imaginou que, 48 anos depois, sairia novamente sozinho. Ele diz ter vivido “jornada com boas lembranças” e espera voltar para casa e reencontrar quem ama.