RECIFE, PE (FOLHAPRESS) – Dirigentes do PSDB pretendem fazer um encontro com o ex-ministro Ciro Gomes na próxima semana para discutir uma eventual filiação dele à sigla. A cúpula da legenda também quer aparar arestas com o ex-governador do Ceará após ele ter feito várias críticas ao partido nos últimos anos.

Ciro é filiado ao PDT, mas a migração do partido para a base aliada do governador Elmano de Freitas (PT) abriu caminho para uma saída dele da sigla.

No PSDB, o responsável pela interlocução com Ciro é o ex-senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), que tem boa relação com o ex-ministro e já foi aliado dele no estado.

A tendência é que, na próxima semana, o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, tenha um encontro com Ciro junto a outros integrantes da sigla. O local da reunião ainda não está definido.

A direção do PSDB está inclinada a defender uma candidatura de Ciro ao Governo do Ceará em 2026. O partido visa a volta ao protagonismo em um estado importante do Nordeste e a eleição de deputados aliados do ex-ministro pelo partido.

No Ceará, Ciro está rompido com o PT desde 2022 e tem feito oposição ao governador Elmano de Freitas.

Há, porém, membros do PSDB que têm ressalvas a Ciro por críticas que ele fez recentemente ao partido e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

No encontro, os dirigentes querem estimular Ciro a aparar as arestas e, caso ele opte pela filiação, alinhar o discurso de uma mea-culpa sobre falas proferidas no passado.

Em 2018, quando disputou a Presidência da República pela terceira vez, Ciro ironizou uma carta escrita por FHC pedindo a união das candidaturas de centro em meio à polarização que se desenhava entre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, que seguiram para o segundo turno das eleições naquele ano.

“É muito mais fácil um boi voar de costas. O FHC não percebe que ele já passou. A minha sugestão para ele, que ele merece, é que troque aquele pijama de bolinhas que está meio estranho por um pijama de estrelinhas. Porque, na verdade, ele está preparando o voto no Fernando Haddad, porque ele não tem respeito a nada e a ninguém, a não ser ao seu próprio ego”, disse Ciro em um ato de campanha.

Ao Painel, da Folha de S.Paulo, Perillo minimizou as declarações: “Tenho certeza de que Ciro reconhece as virtudes do presidente Fernando Henrique Cardoso”.

Em entrevista ao SBT em dezembro de 2015, Ciro classificou Aécio Neves, atualmente deputado federal e um dos principais líderes do PSDB, como “uma decepção para um velho amigo de 35 anos”. Segundo pessoas próximas, mesmo assim, o parlamentar mineiro não teria apresentado ressalvas à filiação.

Ciro pode integrar uma coalizão de oposição ao PT no Ceará no próximo ano. Ele foi aliado do partido no estado por 16 anos, mas a aliança implodiu em 2022, quando o atual ministro da Educação, Camilo Santana (PT), lançou candidato próprio petista nas eleições para o governo.

Na ocasião, Ciro apoiou o ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, que era do PDT e agora está filiado ao União Brasil. A candidatura acabou derrotada pelo PT no primeiro turno.

Em maio, Ciro fez um apelo pela união das oposições no Ceará e sinalizou apoio à candidatura ao Senado do deputado estadual bolsonarista Alcides Fernandes (PL). Ele é pai do deputado federal André Fernandes (PL), derrotado em 2024 no segundo turno da disputa pela Prefeitura de Fortaleza. “Espero votar em você para senador”, afirmou Ciro a Alcides.

Caso Ciro seja candidato ao Governo do Ceará, há possibilidade de aliança com o PL e o União Brasil a nível estadual. Dirigentes do PSDB já enviaram recado a Ciro de que não teriam ressalva para qualquer aliança no estado, apesar de os tucanos possivelmente optarem por um palanque diferente do PL na disputa nacional em 2026.

Apesar do desejo tucano, Ciro indicou a aliados locais que pretende apoiar Roberto Cláudio para o governo estadual. O ex-prefeito ingressou no União Brasil com apoio do ex-deputado Capitão Wagner, derrotado na disputa pelo Executivo cearense em 2022 e para a Prefeitura de Fortaleza três vezes seguidas.

Wagner é cotado para disputar o Senado em 2026 junto com Alcides Fernandes. Restaria, nesse cenário, a definição do cabeça de chapa, que poderia ser Ciro ou Roberto Cláudio.

Pelo lado governista, Elmano de Freitas deve ser candidato à reeleição. A disputa está pelas duas vagas ao Senado. Os deputados federais Eunício Oliveira (MDB), José Guimarães (PT) e Júnior Mano (PSB) são pré-candidatos a senador, assim como o empresário Chiquinho Feitosa (Republicanos), que foi suplente de Tasso Jereissati.

O senador Cid Gomes (PSB) tende a abdicar da reeleição e apoiar Júnior Mano, que foi expulso do PL em 2024 após participar da campanha do atual prefeito de Fortaleza, Evandro Leitão (PT).

Cid, inclusive, está rompido politicamente com o irmão Ciro. Em entrevista a uma rádio de Sobral (CE) em maio, o senador disse que, se o irmão for candidato em 2026, ficará “numa situação absolutamente constrangedora”.

Antes disso, Ciro afirmou não ter problemas no campo pessoal com o irmão, mas o chamou de cúmplice do governo petista: “Deus tirou das minhas costas a dor lancinante de uma facada nas minhas costas. Entretanto, eu vejo o senador Cid como conivente e cúmplice dessa tragédia que está acontecendo no estado”.

Em caso de filiação, Ciro retornaria ao PSDB após quase 30 anos. Ele foi filiado ao partido de 1990 a 1997. No período, foi governador do Ceará e ministro da Fazenda do governo de Itamar Franco.

O histórico partidário do ex-ministro inclui também passagens por PSD, PMDB, PPS, PSB, Pros e PDT. Em várias ocasiões, Ciro definiu sua trajetória partidária como “uma tragédia”, em razões das várias mudanças de agremiação.