JOÃO PERASSOLO
(FOLHAPRESS) – Quem tem mais de 40 anos vai se lembrar do sobrado de dois andares com um jardim na frente e do gravador analógico que Lucas Silva e Silva usava para registrar os seus devaneios de criança. “Alô, alô? Planeta Terra chamando!”, ele dizia, antes de o aparelho começar a piscar e fazer barulhos.
À exceção do garoto, os elementos do seriado “Mundo da Lua”, que as crianças da década de 1990 aguardavam com ansiedade em frente à televisão, estão de volta a partir deste sábado (28), num remake do programa feito pela TV Cultura, canal no qual também foi exibido originalmente. Serão 24 episódios na nova temporada, um por semana.
Lucas Silva e Silva -vivido por Luciano Amaral na série original-, cresceu e virou piloto de avião. Ele agora é representado, em ótima atuação, por Marcelo Serrado, que convence também pela semelhança física. A criança âncora do novo seriado é a filha de Lucas, Emília Lopes Silva e Silva, uma garota debochada de nove anos, interpretada com naturalidade por Sabrina Souza.
Retornam do seriado original Antonio Fagundes, que vive Vô Rô numa atuação tão forçada e caricata quanto a do primeiro “Mundo da Lua”, e Mariana Blum, intérprete de Juliana Silva e Silva, a irmã de Lucas, que também não convence numa interpretação excessivamente galhofa.
Numa comparação lado a lado, o novo “Mundo da Lua” mantém a linguagem do original -a criança é mais adulta que os adultos, que são meio abobalhados. Tanto antes quanto agora, as tramas são as de uma família de classe média, que toma café da manhã junta na cozinha, a empregada atarantada por ali, como se também fizesse parte da família.
Mas o andar dos novos episódios é mais devagar e o tom é menos histriônico que o original. Acontecem menos coisas e os personagens se demoram, como nas diversas cenas do primeiro capítulo em que Lucas, agora um adulto com mais de 40 anos, resgata do guarda-roupas o gravador que usava quando criança e rememora seus bons momentos com o aparelho, um suporte para a sua imaginação fluir.
É uma opção narrativa que vai, obviamente, contra a velocidade do mundo atual e mesmo na contramão de tantas outras séries de TV, formadas por esquetes curtas em que os personagens dialogam como se estivessem sempre com pressa, mesmo que não haja nada urgente na trama. Uma velocidade gratuita em cena para manter a ação no auge e não correr o risco de que o espectador pegue o celular.
O melhor do remake é Emília -a criança sempre tem um comentário sagaz que desmonta os adultos. Ela fala com comedimento e nas horas certas, ao contrário de seus familiares, verborrágicos e excessivos. Assim como Lucas Silva e Silva no original, Emília se afeiçoa ao gravador, que a ajuda a inventar histórias, mas ela tem uma ajuda extra do robô Félix, um brinquedo que ganha vida na sua imaginação.
Inserir um robô na trama talvez seja um aceno ao fato de que agora a tecnologia é indissociável das nossas vidas, mas o robô de “Mundo da Lua” passa a mensagem de uma visão de futuro que tínhamos na década de 1990, algo conectada à ficção científica e ao espaço. Félix é divertido, ingênuo no bom sentido, e se encaixa no espírito da série. Resta saber se as crianças de hoje vão repetir as de ontem e se afeiçoar ao programa.

MUNDO DA LUA
Avaliação Bom
Quando Estreia sábado (28), às 19h; episódio novo todo sábado, às 19h, com reprise às segundas, às 18h
Onde TV Cultura
Classificação Livre
Autoria Flavio de Souza
Elenco Marcelo Serrado, Antonio Fagundes e Patricia Gasppar
Produção Brasil, 2025
Direção João Daniel Tikhomiroff