SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O francês Jean Todt, ex-chefe da escuderia Ferrari nos títulos do piloto alemão Michael Schumacher na Fórmula 1 e ex-presidente da FIA (Federação Internacional de Automobilismo), afirmou que o mundo vive uma epidemia silenciosa de mortes no trânsito.

Todt é atualmente enviado especial da ONU (Organizações das Nações Unidas) para segurança viária e está em São Paulo para divulgar uma campanha por cautela no trânsito. Quando jovem, ele também foi piloto de rali.

A campanha, que nesta semana está na capital paulista, conta com fotos de celebridades e esportistas mundiais com frases de efeito. O tenista sérvio Novak Djokovic, ex-número 1 do mundo, por exemplo, combate o uso de álcool e direção. As imagens estão em displays na avenida Paulista, entre outros locais.

Os avisos incluem também a obrigatoriedade do uso de cinto de segurança e alertas sobre excesso de velocidade e utilização de celular ao dirigir. A campanha está sendo feita em cerca de 50 países e em 30 idiomas.

O francês apresentou números da letalidade no trânsito mundial para reforçar a tese de epidemia de mortes sobre rodas.

Segundo dados apresentados em entrevista nesta sexta-feira (27) na sede da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) em São Paulo, anualmente 1,2 milhão de pessoas morrem em acidentes de trânsito e outras 50 milhões ficam gravemente feridas no mundo.

No Brasil, são mais de 34 mil óbitos todo os anos em ruas e estradas.

Os acidentes de trânsito são a causa principal das mortes de crianças e jovens de 5 a 29 anos. “Nós não sabemos como curar o Parkinson ou esclerose múltipla, mas sabemos como diminuir as mortes no trânsito”, afirmou.

Segundo Todt, os países precisam investir, entre outros, em educação, segurança viária e fiscalização.

Ele estava acompanhando de Jean-Charles Decaux, co-CEO da JC Decaux, empresa de mídia eletrônica, e de Flávia Antunes Michaud, chefe do escritório da Unicef no Rio de Janeiro. O francês reforçou a meta global de reduzir os números da violência do trânsito para a metade em uma década, até 2030.

Com um capacete de motociclista na sua frente na mesa da entrevista, ele sugeriu que o Brasil crie uma lei que obrigue a compra de um objeto de proteção semelhante àquele toda vez que se adquire um veículo de duas rodas.

Todt lembrou que em muitos países, motocicletas são usadas por três ou quatro pessoas ao mesmo tempo, e sem capacete. Ele cobrou rigor na fiscalização, principalmente de velocidade. “O trânsito precisa de disciplina e isso se consegue com punição aos que não cumprem as leis”, disse.

À Folha de S.Paulo, Todt lembrou do acidente que matou o piloto brasileiro Ayrton Senna em 1994, em uma batida no Grande Prêmio de San Marino, em Ímola (Itália), que provocou uma mudança no patamar de segurança na Fórmula 1. Isso para dizer que é possível fazer o mesmo no trânsito.

“De lá até hoje tivemos apenas uma morte na F-1”, afirmou, sobre o acidente com o francês Jules Bianchi, que bateu em um guindaste no Japão, em 2014.

Todt, que também participaria de um evento de segurança viária promovido pelo Detran (Departamento de Trânsito), disse que nesta sexta-feira iria se encontrar com o piloto Felipe Massa, com quem trabalhou na Ferrari, e faria o convite para que participasse da campanha. “Muitas pessoas estão pedindo para ser voluntárias”, afirmou.