FILADÉLFIA, EUA (UOL/FOLHAPRESS) – O Mundial de Clubes da Fifa, nos Estados Unidos, não trouxe novidades somente em seu formato mais extenso, com 32 equipes de todos os continentes. Com um novo lugar no calendário, o torneio inverteu papéis e tem feito os europeus experimentarem o veneno que atormentou sul-americanos e latinos durante anos: o cansaço.

EUROPEUS CANSADOS?

Enquanto brasileiros e argentinos estão em meio às disputas nacionais e continentais em seus países, os times do Velho Continente acabaram de encerrar seus torneios e estão claramente longe do ritmo ideal.

O desgaste, que já foi motivo de reclamações por parte dos sul-americanos por muito tempo, agora é tema do outro lado. Se antes os clubes deste lado do mundo chegavam sem pernas para disputar o torneio em dezembro, quem sofre com as datas previstas para esse novo formato são representantes do Velho Continente.

“Sabíamos de antemão que o torneio aconteceria no final de uma longa temporada, enquanto para os sul-americanos é bem no meio, quando eles estão no auge”, diz Diego Simeone, técnico do Atlético de Madrid, após eliminação.

Técnico do Chelsea, Vincenzo Maresca avisou de antemão que poupará jogadores em todas as partidas. Além da questão do fim da temporada, outro obstáculo apontado pelo treinador é o forte calor nos Estados Unidos, com temperaturas que têm chegado a 38 graus em algumas regiões.

“Não é fácil por causa da temperatura. Vamos tentar fazer um rodízio de jogadores. Infelizmente para nós, os times brasileiros estão mais acostumados a jogar nesse tipo de temperatura. Precisamos rotacionar três, quatro ou cinco jogadores a cada jogo. É impossível para os jogadores estarem 100% por 11 meses seguidos. Então, estamos tentando treinar menos e priorizar aspectos táticos em vez da intensidade física em nossos treinos diários”, disse Vincenzo Maresca, técnico do Chelsea.

PRESIDENTE DO PORTO DIZ QUE JOGADORES NÃO QUERIAM VIR; SINDICATO ACIONA FIFA

O presidente do Porto, por exemplo, afirmou que muitos de seus jogadores não queriam vir para o torneio nos Estados Unidos. O time português foi eliminado e recebido com protestos da torcida no retorno ao país.

Foi incrível ver que muitos jogadores não queriam estar nesta competição, porque preferiam descansar para retomarem a temporada frescos. O calendário está se tornando exaustivo e mais lesões irão acontecer. Os jogadores não podem contribuir para o espetáculo sem estarem frescosAndré Villas-Boas, presidente do Porto, ao podcast “Man in Blazers”

O tema é tão repetido entre os europeus que o sindicato de jogadores FIFPro Europe entrou com uma ação judicial contra a FIFA por conta do calendário.

BRASILEIROS ATUARAM MAIS

O discurso de cansaço com o fim da temporada é válido, mas isso não significa que Botafogo, Flamengo, Fluminense e Palmeiras chegaram descansados para a competição. Pelo contrário.

Considerando o recorte da temporada europeia 2024/2025, o quarteto atuou mais que os europeus mesmo tendo um período de férias entre dezembro e janeiro. O Flamengo é o recordista com 75 jogos, seguido por Botafogo (74), Fluminense (72) e Palmeiras (64). O Real Madrid é o primeiro da lista com 61.

Técnico do Flamengo e com bagagem na Europa como jogador, Filipe Luís desacredita na narrativa europeia.

Tendo jogado por muitos anos na Europa, não acredito nessa narrativa de cansaço de fim de temporada. Viemos aqui encarando cada jogo como uma final. Isso faz uma grande diferençaFilipe Luis, técnico do Flamengo

HÁ QUEM NÃO SE UTILIZE DESTE ARGUMENTO

Há, porém, técnico de times europeus que estão no Mundial e que não têm utilizado este tipo de lamentação, caso do treinador da Juventus, Igor Tudor.

Não vejo sinais de cansaço na equipe; pelo contrário, vejo muito entusiasmoIgor Tudor

Luis Enrique, técnico do PSG, foi outro que rechaçou críticas ao torneio mesmo tendo perdido para o Botafogo por 1 a 0.

Acho o conceito brilhante. É uma celebração de todo o futebolLuís Enrique, técnico do PSG