SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Com o intuito de dar respostas e acolhimento rápidos para consumidores e colaboradores dentro de cerca de mil lojas físicas espalhadas pelo país, em possíveis situações de racismo, LGBTfobia, capacitismo e demais formas preconceito, a multinacional dos cosméticos Natura resolveu adotar um protocolo de atuação para essas situações.
A empresa também está anunciado a instalação de seis “lojas de diversidade”, com previsão de escalada “agressiva” nacionalmente ainda neste ano. A ideia das unidades é que públicos diversos recebam atenção para demandas específicas por parte de funcionários, que foram treinados para isso.
Nas unidades são disponibilizados tabletes que se interligam com uma central que intermedeia conversas dos vendedores com quem usa Libras (Língua Brasileira de Sinais) ou com quem tenha dificuldade de fala.
Os produtos à venda têm rótulos em braile para cegos, as instalações contam com acessibilidade e há também colaboradores com deficiência. Os locais pretendem também ser mais confortáveis para pessoas neurodivergentes, com menos estímulos e atenção mais próxima nos atendimentos.
Recentemente, a gigante dos cosméticos Sephora também anunciou uma medida para atrair públicos diversos, com a chamada “Compras Calmas”, que são horários específicos em que as lojas não terão música ou agitações e menos estímulos visuais, o que pode levar mais conforto para consumidores autistas.
De acordo com último Censo do IBGE, 14,4 milhões de brasileiros têm diferenças físicas, sensoriais ou intelectuais.
Presente em 14 países, a Natura declara que seguirá como “escolha consciente e de modelo de negócios” com medidas inclusivas. Em 2023, atingiu sua meta de equidade salarial de gênero e raça. No mesmo ano, a alta liderança passou a ter 50% de mulheres.
“A gente declara de maneira muito explícita que diversidade é o que para gente também gera prosperidade. Falamos da importância dessa diversidade na perspectiva da sociedade, da natureza, da dimensão humana também”, afirma a vice-presidente de Pessoas da empresa, Paula Benevides.
A adoção dos protocolos de enfrentamento de queixas por preconceito foi realizada após dois anos de preparação e estudos com especialistas em direito antidiscriminatório e com a abertura de um comitê específico para atuar com a questão.
“O nosso foco é de cuidado. De dar uma atenção a qualquer pessoa que se sentiu discriminada em uma de nossas lojas, seja um colaborador ou um cliente, o mais rápido possível”, diz Aline Lima, líder de diversidade e inclusão na empresa.
Segundo as executivas, gerentes, supervisores e outros funcionários foram treinados para agir diante de diversas situações adversas e para fazer o encaminhamento dos casos, inclusive, para suporte psicológico e jurídico. Eles receberam um guia de orientações e materiais indicativos de ações antidiscriminatórias.
Para Aline Lima, “muitas vezes, pessoas com marcador de diversidade, uma pessoa com deficiência, uma pessoa trans, passam por situações de discriminação e não sabem como reagir, tem medo de falar, não sabe que pode receber um cuidado. Percebemos esse contexto social e estamos agindo”.
A Natura informou que não tem “histórico relevante” de casos de preconceito em suas unidades e que a ação não visa uma autodefesa, mas, sim uma contribuição com a sociedade.
Marta Gil, coordenadora do Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas e consultora na área de inclusão de pessoas com deficiência, analisa com ressalvas as lojas de diversidade.
“Num primeiro momento, me parece inovador e atraente. Por outro lado, me remete ao modelo médico, de diferenciação e segregação. Por que não fazer todas as lojas assim e preparar todos os funcionários? Será que ter lojas específicas não aprofunda o capacitismo? Não afastaria consumidores sem deficiência, que não entrariam na loja por não achar que é para eles também?”, declara.
Djalma Scartezini, CEO da Reis (Rede Empresarial de Inclusão Social), afirma que há pouquíssimas medidas inclusivas dentro do varejo, que ainda não olha a pessoa com deficiência como nicho de mercado.
“Já houve empresas que distribuíram cartilhas e conseguiram melhorar o atendimento. Os resultados mais promissores, porém, são quando você contrata uma pessoa com deficiência, o que muda totalmente as práticas e resultados”, diz ele.
Segundo a Natura, atualmente, 6,6% de seus colabores têm algum tipo de deficiência, o que ultrapassa o preconizado pela Lei de Cotas, que prevê a reserva de 2% a 5% das vagas para esse grupo, a depender do tamanho da empresa.
As plantas de suas áreas de distribuição e produção foram desenhadas com acessibilidade e equipamentos específicos que dão possibilidade para que pessoas com deficiência intelectual, inclusive, trabalhem normalmente com o maquinário.
No centro de distribuição da empresa, na zona norte de São Paulo, totens luminosos com cores vermelha, azul e amarela indicam se existem algum tipo de problema na organização dos produtos. A identificação auxilia pessoas com deficiência auditiva.
Na mesma planta, que é totalmente plana e pode ser acessada por colabores cadeirantes, por exemplo, há bancadas de trabalho com sensores que vão indicando onde determinado produto precisa ser colocado, o que facilita que pessoas com deficiência intelectual atuem.
OUTRAS MEDIDAS INCLUSIVAS ADOTADAS PELA EMPRESA
– Meta de 30% cargos gerenciais para grupos sub-representados, com foco em pessoas negras, até 2030 (atualmente está em 15,8%)
– Colaboradores terceirizados recebem salário superior ao piso mínimo legal
– Colaboradores com deficiência intelectual têm acesso ao emprego apoiado, em que um profissional especializado os acompanha periodicamente
– Funcionários que sejam pais de crianças com deficiência ou neurodivergências recebem adicional de salário para custeio de educação, saúde e cuidador, sem limite de idade
– Programa de aceleração de carreira de pessoas negras
– Equidade salarial entre homens e mulheres e de raça
– Pelo menos 50% das campanhas publicitárias precisam ter lideranças negras na criação
– Berçário gratuito para filhos de funcionários até três anos; podendo os pais interagirem com a criança a qualquer momento
– Apoio no processo de mudança de nome social para pessoas colaboradoras trans, inclusive, auxílio psicológico