SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – As sementes ingeridas e defecadas por antas têm mais chance de se desenvolver e germinam até duas vezes mais rápido em comparação com as que caem diretamente na terra. É o que mostra uma pesquisa publicada nesta sexta-feira (27) na revista científica Acta Amazonica.

O estudo envolveu a coleta de 140 amostras de fezes de animais que vivem em uma área de proteção permanente de uma usina hidrelétrica de pequeno porte no rio Braço Norte, afluente do Tapajós. O local fica no limite entre as cidades de Guarantã do Norte e Novo Mundo, no norte de Mato Grosso, e faz parte da zona de transição entre a amazônia e o cerrado.

Conhecidas como “jardineiras das florestas”, as antas percorrem distâncias grandes e contribuem para a dispersão de plantas em locais com menor competição com outras espécies.

Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Univates (Universidade do Vale do Taquari) compararam a porcentagem e o tempo de germinação das sementes encontradas nos excrementos dos animais com um grupo controle, de sementes intactas. Os cientistas também aplicaram uma técnica de escarificação, que simula a fricção do intestino com o uso de um alicate, em um terceiro conjunto de sementes.

As análises consideraram seis espécies de plantas nativas que servem de alimento para as antas: cajá-da-mata, mirindibá-do-cerrado, angelim-favela, sete-cascas, goiabinha-do-mato e jenipapo.

As sementes que passaram pelo trato digestivo dos animais germinaram entre 8 e 65 dias após o plantio (o tempo varia conforme cada espécie), enquanto aquelas tratadas de forma mecânica precisaram de 4 a 66 dias. A germinação do grupo controle, feito com as sementes intactas, levou de 27 a 92 dias.

Entre 26% e 89% das sementes encontradas nas fezes tiveram sucesso na germinação. Nas intactas, a taxa de germinação foi de 17% a 51%. E 37% a 94% das que passaram pelo processo de escarificação se desenvolveram de fato.

A diferença é ainda maior em algumas das espécies analisadas. Sementes de jenipapo excretadas pelas antas germinaram, na média, em 17 dias, quase três vezes mais rápido que as do grupo controle, que levaram 48 dias. A germinação das sementes da espécie presentes nas fezes foi o triplo das intactas: 86% contra 23%.

Em média, as sementes que passaram pelos animais tiveram taxa de germinação superior às do grupo controle em todas as espécies analisadas, com exceção da goiabinha-do-mato.

“A semente defecada pela anta foi exposta a uma sequência de macerações composta pela mastigação e pelos movimentos do trato intestinal, que ajudam a quebrar a dormência da semente e a romper as barreiras físicas entre a casca e o embrião”, explica Mateus Pires, um dos autores do estudo.

Para o pesquisador, os resultados mostram que a conservação das antas é importante para acelerar a recuperação de florestas degradadas no Brasil. Entretanto, a espécie está classificada como vulnerável na Lista Nacional de Espécies Ameaçadas de Extinção, atualizada pelo Ministério do Meio Ambiente em 2022.

As sementes tratadas pelo processo de escarificação germinaram mais rapidamente e com maior taxa de sucesso do que as excretadas pelas antas, possivelmente por causa de efeitos negativos de enzimas e microrganismos no trato digestivo dos animais, segundo o artigo.

Apesar disso, a aceleração na germinação das sementes que passam pelo organismo das antas continua a trazer benefícios, já que é improvável que a técnica manual seja viável para a maioria das espécies de plantas, ponderam os autores.

A pesquisa teve autoria principal da bióloga Lucinere Pinto, sob orientação de Eduardo Périco, vinculados ao Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento da Univates.