SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O professor de ciências da comunicação e tradutor Jawad Haidari, 33, diz não acreditar no cessar-fogo entre Irã e Israel, costurado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com ajuda do Qatar e anunciado na segunda-feira (23). “O conflito atual não terminou. Ele ainda vai longe”, afirma o iraniano à reportagem.
Jawad vive em Qom, a cerca de 50 km de Fordow, a principal instalação nuclear do país persa, localizada dentro de uma montanha e que foi atingida pelas bombas americanas no último sábado (21). Ele conversou com a reportagem em português (ele viveu quatro anos no Brasil) e descreve os dias de conflito como difíceis.
“Eles atacavam, bombardearam. Sem parar. Ninguém merece, né? A gente fica com dor pelas crianças, mulheres, que ficam assustadas e se sentem inseguras”, diz. O iraniano tinha, inclusive, um voo marcado para o Brasil que foi suspenso devido à guerra.
Ele conta que amigos enviaram mensagens preocupados. “Isso deu força, fiquei muito feliz. Mas eles não entendem o que a gente sente”, completa. Muçulmano xiita, como a maior parte dos iranianos, Jawad diz que não pensa mais em sair do país.
Além de não querer deixar a família, diz entender que “tem que ficar para poder vencer isso [o conflito]”. “Os iranianos são corajosos. A gente vivenciou a guerra com o Iraque [entre 1980 e 1988] por oito anos. Sempre tem conflito no Oriente Médio. Não pode fugir, não pode deixar. [A gente vai] fugir de casa e ir pra onde?”, questiona.
Jawad diz que “na guerra só a união funciona”. “Israel achava que [aqui] é o Líbano, a Síria, o Iraque ou a Palestina”, diz, em referência a países bombardeados por Tel Aviv. “Mas aqui no Irã tem civilização, tem história, tem mais de 90 milhões de habitantes. E o pessoal ficou mais unido agora.”
Para o professor, o regime iraniano “tem falhas”, mas as críticas perderam força em meio aos ataques israelenses. “O governo se defendeu bem, conseguiu manter a calma.”
Segundo ele, o país tentou manter uma sensação de normalidade, mesmo com bombas caindo. “Nenhum posto de gasolina parou de funcionar, nenhum supermercado foi fechado, ninguém saiu do local de trabalho.”
O professor afirma não ter desistido de visitar o Brasil, lugar que chama de “seu segundo país”: “Assim que a guerra acabar, vou ver meus amigos”.
O conflito iniciado no dia 13 de junho foi o enfrentamento militar mais dramático entre os países inimigos desde a fundação da República Islâmica em 1979. Os Estados Unidos intervieram diretamente, bombardeando as instalações nucleares de Natanz, Isfahan e Fordow.
No total, cerca de 600 iranianos foram mortos em bombardeios de Israel, e 28 israelenses morreram após ataques do Irã, de acordo com os respectivos governos. A primeira ofensiva de Tel Aviv eliminou membros do alto escalão iraniano, como o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e o líder da Guarda Revolucionária.