SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A probabilidade de um passageiro morrer por causa de acidentes com balões é bastante baixa, mas, estatisticamente, é mil vezes maior na comparação com quedas de avião ou 6.000 vezes mais quando elevadores despencam.
Os cálculos são do professor Régis Varão, do Departamento de Matemática da Unicamp (Universidade de Campinas), a partir de dados de estudos fornecidos pela reportagem.
Apesar de números baixos, quando uma dessas aeronaves de ar quente cai, as consequências tendem a ser graves.
Em duas semanas, nove pessoas morreram em acidentes no balão no Brasil, uma em Capela do Alto (SP) e outras oito em Praia Grande (SC).
Até então, casos com mortes não apareciam na base estatística do Painel de Ocorrências Aeronáuticas na Aviação Civil Brasileira. Desde 2014, primeiro ano da série disponível no site do serviço da Aeronáutica, apenas duas ocorrências passaram por investigação, nenhuma delas com mortes.
Nos EUA, onde a prática da atividade é regulamentada e muito mais difundida que no Brasil -segundo a Confederação Brasileira de Balonismo, dos cerca de 15 mil balões que voam pelo mundo, cerca de 11 mil estão em céus norte-americanos, contra 200 no Brasil-, a cada 100 mil voos, estatisticamente há uma morte.
O dado é fornecido por João Luna, especialista em segurança de aviação e aeronavegabilidade contínua, com formação no ITA (Instituto de Tecnologia Aeronáutica), a partir de informações do NTSB (National Transportation Safety Board), o conselho que regula a segurança nos transportes nos Estados Unidos.
Já estudo disponível na revista cientfíca National Library of Medicine, também com informações do NTSB, mostra que a incidência de mortes é alta quando ocorrem acidentes envolvendo balões de ar quente tripulados. A pesquisa analisou casos de 2000 a 2011, quando 78 dessas aeronaves caíram, provocando 91 feridos com gravidade e cinco mortes.
Ao todo, 83% dos casos resultaram em um ou mais desfechos graves ou fatais, aponta a pesquisa.
“Quando esses acidentes ocorrem, a taxa de feridos por voo é alta devido à baixa proteção da estrutura dos balões e por causa dos riscos dos pousos forçados”, afirma Luna.
Na comparação com acidentes aéreos envolvendo aviões e helicópteros, a chance de morte é bem maior.
De acordo com um estudo do MIT (Massachusetts Institute of Technology) publicado no ano passado, o risco de morte em acidente aéreo comercial no mundo, entre 2018 e 2022, foi de 1 em 13,7 milhões. No Brasil, essa estatística era inferior, de 1 em 80 milhões.
“A possibilidade de morrer em acidente aéreo no Brasil é de 0,000001%, ou seja, há mil vezes mais chance de morrer em acidente de balão que em avião”, afirma o professor Varão, da Unicamp.
Nos EUA são estimadas 30 mortes por ano em acidentes com elevadores, vistos como muito seguros, em um total de 30 milhões de viagens (probabilidade de 0,00000017% conforme o docente da Universidade de Campinas). “Na comparação, a chance de se morrer num balão é 6.000 vezes maior”, diz.
NECESSIDADE DE REGULAMENTAÇÃO E CERTIFICAÇÃO
Especialistas apontam que a falta de regulação e certificação no Brasil aumenta o grau de perigo no caso dos balões.
No último sábado (21), após o acidente que matou oito pessoas e feriu outras 13 em Santa Catarina, a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) classificou o balonismo como atividade aerodesportiva considerada de alto risco devido à sua natureza e características.
A agência é responsável por fiscalizar voos de balões. Conforme mostrou a Folha de S.Paulo, segundo a Anac, não há nenhuma operação de balão certificada pelo órgão para atuar de forma comercial.
“A atividade tem como natureza ser um voo não controlado, depende totalmente das condições climáticas, por isso é de risco”, afirma Valmar Gama, diretor da Abravoo (Associação Brasileira de Segurança de Aviação), apontando a necessidade de plano de voo, que ele acredita ser raro no balonismo.
A expectativa é que os dois acidentes no país devem mudar a história do balonismo, principalmente por causa de regulação e maior fiscalização. “Na aviação [comum], cada peça é certificada”, diz Luna.
No dia 18 de junho, três dias depois do acidente em Praia Grande, empresários e representantes do setor acionaram o governo federal para cobrar medidas sobre legalização e regulamentação do balonismo turístico comercial em todo o país.
“O sucesso às vezes é um mau professor, lições devem ser apreendidas”, afirma Gama.