SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A cidade de São Paulo e municípios vizinhos têm registrado uma sequência de ataques a ônibus este mês de junho. Já são mais de uma centena de casos, sendo que a maior parte envolve pedradas nos vidros dos veículos, de acordo com relatos de motoristas e cobradores à reportagem.

A situação tem causado temor nos profissionais e em passageiros, e está envolta em mistério sobre o que estaria motivando as ações —nenhum grupo reivindicou a autoria dos ataques. O sindicato da categoria afirma que essa quantidade de apedrejamento dos veículos é incomum.

A situação fez com que a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) colocasse o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) na linha de frente das apurações, centralizando as ocorrências antes registradas nas delegacias de cada bairro.

Na capital foram 125 casos em nove dias, segundo dados da gestão Ricardo Nunes (MDB) —foram 78 registros de 12 a 15 e e outros 47 de 18 a 22. Não há informações de feridos ou de pessoas presas na cidade.

A região central foi a mais afetada, com 36 depredações na soma dos dois períodos. Motoristas e cobradores que transitam pela área disseram conviver com a insegurança e com a pressão de garantir para garantir a integridade física dos passageiros.

A Folha de S.Paulo esteve na manhã desta quarta-feira (25) nos terminais Parque Dom Pedro 2º e Princesa Isabel (ambos no centro) e ouviu de condutores que os ataques não são uma situação isolada. Para eles, os atos de vandalismo são organizados.

Alguns profissionais afirmam que as ações são resultados de desafios feitos em grupos de redes sociais, mas não há confirmação oficial de que essa seja a motivação.

Um movimento de depredação semelhante ocorreu em agosto de 2018, quando 34 ônibus foram atingidos em três dias por bolas de gude e pedras. No entanto, foi algo restrito ao bairro de Cidade Tiradentes, na zona leste, e contra uma viação específica.

O temor de que um passageiro seja atingido durante seu expediente tem feito parte da rotina de um motorista de 49 anos, que pediu para não ter seu nome divulgado por temer represálias. Ele disse que os ataques são o principal tema das conversas da categoria.

Segundo os relatos, os apedrejamentos acontecem de forma repentina —o autor ataca e logo se esconde. Há também casos em que o ataque é feito com o uso de bolinhas de gude. Muitos profissionais disseram que preferem não comentar o assunto.

Fiscais dizem que o ônibus é levado para manutenção após ser alvo de ataque, e é substiuído por um veículo da frota reserva. O condutor então precisa fazer um relatório do que aconteceu, com detalhes da ação, local e horário.

Passageiros também já testemunharam os atos de vandalismo. A corretora Francisca Félix, 38, aguardava no terminal Princesa Isabel, nas imediações da cracolândia, quando conversou com a reportagem. Ela disse que o temor de estar em um ônibus alvo de ataque tem causado ansiedade, mas que precisa usar o transporte público. “É preciso providência. Medo de ser atingida no ônibus. Medo de machucarem a gente”.

Na fila para embarcar em um coletivo no Parque Dom Pedro, o churrasqueiro Wellington Bertazo, 48, disse já ter sido vítima da violência no transporte público. Há cerca de quatro anos ele estava dentro de um veículo na zona leste quando um homem entrou com um galão com combustível. “Você não tem segurança dentro do ônibus”.

O cenário atual fez com que o presidente em exercício do sindicato dos motoristas de São Paulo, Valdemir dos Santos Soares, encaminhasse um ofício na terça-feira (24) para o secretário da Segurança Pública Guilherme Derrite, em que pede uma reunião presencial entre os dois para tratar sobre o tema.

Em nota, a SPUrbanuss (sindicato patronal) disse que os últimos acontecimentos causaram sérios prejuízos às empresas concessionárias, atingindo grande quantidade de veículos. “Ações violentas, que colocam em risco a segurança dos passageiros e dos profissionais e afetam a operação normal das linhas do transporte público, são lamentáveis e trazem preocupação às empresas associadas”.

“As empresas operadoras buscam, rapidamente, fazer a reposição do material ou equipamento danificado, para não comprometer a prestação dos serviços de transporte e gerar prejuízos à população”. O momento das depredações coincide com a campanha de negociação salarial entre empresas e a categoria.

Por sua vez, a SPTrans disse repudiar os atos de vandalismo.

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SITUAÇÃO SEMELHANTE NO ABC

Assim como ocorre na cidade de São Paulo, o ABC paulista também tem registrado ataques a coletivos de transporte municipal.

No sábado (14) quatro ônibus foram apedrejados na rua Coronel Alfredo Flaquer, no centro de Santo de André. De acordo com a prefeitura, não houve vítimas, sendo registrados apenas danos materiais nos ônibus.

“As empresas responsáveis pelos veículos afetados acompanham o caso junto às forças de segurança, para que os responsáveis sejam identificados e responsabilizados”, acrescenta a nota.

Já em Diadema um homem foi preso após atacar seis ônibus na quinta-feira (19). Ele foi encaminhado para o 3° DP de Diadema.

Ainda de acordo com a governo, um ataque a coletivo foi reportado na quarta-feira (18) em São Bernardo do Campo. As investigações estão sob responsabilidade da Deic (Delegacia Especializada em Investigações Criminais) do município. A gestão Tarcísio disse ter intensificado o policiamento nas regiões.