SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Morreu nesta quinta-feira (26) aos 91 anos de idade o celebrado jornalista americano Bill Moyers, em Nova York, nos Estados Unidos. A informação foi confirmada pelo CEO da emissora CNN, Tom Johnson, amigo de longa data de Moyers, que construiu uma carreira de décadas na televisão americana. A família do jornalista disse que ele morreu depois de uma longa doença.
Após um breve período como pastor batista, a carreira de Moyers na comunicação começou quando foi contratado como estagiário no escritório do então senador pelo Texas Lyndon B.Johnson, em 1954. Ao longo dos anos, se tornou um dos assessores mais próximos de Johnson, e quando este assumiu a Presidência dos EUA após o assassinato de John F. Kennedy, em 1963, Moyers se tornou porta-voz oficial da Casa Branca.
Ele era a única pessoa ainda viva que podia ser vista na clássica foto do momento em que Johnson aceita o cargo de presidente dos EUA, à bordo do avião presidencial, após a confirmação da morte de Kennedy, em 22 de novembro de 1963.
Em seu período como porta-voz do governo, Moyers lidou com o crescente envolvimento americano na Guerra do Vietnã e o início do envio de milhões de soldados dos EUA para a região, muitas vezes defendendo ardorosamente a decisão de escalar o conflito e criticando a imprensa por sua cobertura na época uma decisão, diria mais tarde, da qual se arrependeu.
Ele também atuou na eleição de Johnson para um mandato completo em 1964 e foi responsável pelo tom pacifista da campanha que, dizem muitos analistas, garantiu ao presidente uma das vitórias mais expressivas da história política americana.
Moyers deixou o cargo público em 1967 após atritos com Johnson justamente sobre a condução da Guerra do Vietnã. Apesar da postura em público, o jornalista era contrário ao crescente envolvimento dos EUA no conflito, e se afastou do presidente quando este se mostrou determinado a ampliar cada vez mais a guerra em busca de uma vitória que nunca veio.
Décadas mais tarde, Moyers explicaria sua decisão de deixar a Casa Branca: “Havíamos nos tornado um governo da guerra, e não um governo de reforma, e não havia mais espaço criativo para mim nestas circunstâncias”.
Depois disso, trabalhou nas emissoras CBS e NBC antes de chegar à emissora pública PBS, onde passou mais de 40 anos. Lá, comandou programas que trataram de assuntos tão diversos como a guerra às drogas, religião, destruição do meio ambiente, dança contemporânea, a consolidação da imprensa nos EUA e uma série de especiais sobre a política nacional.
Seu programa de entrevistas na PBS, o Bill Moyers Journal, foi ao ar por quase dez anos, entre 1972 e 1981. No período, o jornalista entrevistou figuras como o economista sueco Gunnar Myrdal, autor do livro que daria lastro acadêmico à decisão da Suprema Corte que pôs fim à segregação racial, e a célebre poeta Maya Angelou, autora de “Eu Sei Por Que o Pássaro Canta na Gaiola”.
Em 1988, produziu um especial sobre o escândalo Irã-Contras do governo de Ronald Reagan, quando ficou comprovado que a Casa Branca estava vendendo armas ilegalmente ao Irã com o objetivo de financiar os Contras, um grupo paramilitar anticomunista na Nicarágua.
Com o tempo, tornou-se um dos rostos mais conhecidos da televisão americana e também uma das vozes mais marcantes da imprensa do país, com sua fala mansa e sotaque texano perceptível interrogando e pressionado políticos e autoridades ao vivo na PBS ao longo das décadas.
Moyers também ficou conhecido por suas conversas com figuras culturais influentes nos EUA, como o escritor Joseph Campbell, o bispo sul-africano Desmond Tutu, e o diretor de “Star Wars”, George Lucas.
Ao fincar raízes em uma emissora pública, distante das realidades do poderoso jornalismo comercial americano, Moyers foi também um crítico ferrenho da concentração da mídia naquele país, que ele viu se aprofundar com os próprios olhos no final do século 20 e início do 21.
Certa vez, em uma entrevista em 2007, ele disse: “Acho que meus colegas da televisão comercial são jornalistas talentosos e dedicados, mas eles escolheram trabalhar em um meio empresarial que limita o talento deles para se encaixar na natureza corporativa da vida nos EUA. E você não é recompensado por falar verdades difíceis sobre esse país em um ambiente movido pelo lucro.”
Moyers acumulou dezenas de prêmios importantes ao longo da carreira, vencendo mais de 30 Emmys, 11 prêmios Peabody, três prêmios George Polk, e conquistando um lugar no Hall da Fama da Televisão Americana, em 1995.
O jornalista se casou em 1954 com a escritora Judith Davidson, com quem teve três filhos.