SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em forte queda de 1,07% nesta quinta-feira (26), cotado a R$ 5,497, na esteira da derrubada dos decretos do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) no Congresso Nacional.

A moeda enfrentou uma sessão de forte desvalorização globalmente, afetada pela possível nomeação antecipada do sucessor de Jerome Powell no comando do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos). O índice DXY, que compara a força do dólar ante seis divisas pares, caiu 0,39%, a 97,29 pontos.

Já a Bolsa brasileira acompanhou o bom humor de Wall Street e fechou em forte alta de 0,99%, a 137.113 pontos. Por lá, o S&P 500 avançou 0,80%, e o Dow Jones e o Nasdaq Composite, 0,94% e 0,97%, respectivamente.

Em dia de agenda cheia para os mercados, dados econômicos do Brasil e dos EUA também estiveram em foco.

A Câmara dos Deputados e o Senado Federal derrubaram na noite de quarta os três decretos publicados pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que mexiam nas alíquotas do IOF, em mais uma derrota da gestão petista no Legislativo.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo avalia três alternativas para responder à derrubada: ir à Justiça contra a decisão do Congresso, buscar uma nova fonte de receita ou fazer um novo corte no Orçamento que “vai pesar para todo mundo”.

Em entrevista ao C-Level Entrevista, novo videocast semanal da Folha, o ministro afirmou que a decisão será tomada pelo presidente Lula, mas defendeu a judicialização. “Na opinião dos juristas do governo, [a decisão do Congresso que derrubou o decreto do IOF] é flagrantemente inconstitucional.”

Haddad disse que acreditava ter chegado “num baita de um acordo” para calibrar as alíquotas do imposto quando se reuniu com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), na noite do dia 8.

“Saí de lá imaginando que estava tudo bem. Não só eu, todo mundo. Eu não sei o que mudou. Eu não consigo… O que mudou daquele domingo para hoje?”, declarou, quase 20 dias depois da reunião.

O plano de judicializar a decisão se ampara no argumento político de que o governo pretende cobrar dos ricos em favor dos pobres. Ao travar esse embate, o Executivo pode acirrar a disputa com parlamentares de centro e de direita, em um contexto já adverso às pautas da gestão petista.

“O Congresso mostrou um grau de resistência e confronto com o Executivo maior do que se esperava”, comenta Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.

“A preocupação dos investidores é que essa trava na agenda econômica do governo no Congresso, em particular a de aumento de receitas, possa trazer dificuldades no cumprimento da meta fiscal, forçando uma situação de piora da dívida.”

Ainda no cenário doméstico, os investidores ponderaram sobre os números da inflação medidos pelo IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), uma prévia do indicador oficial. O aumento de preços desacelerou a 0,26% em junho, após marcar 0,36% em maio, segundo dados divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

O novo resultado ficou abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro coletadas pela agência Bloomberg, que era de 0,3%.

“O dado reafirma a leitura de maio, quando a inflação passou a dar sinais mais claros de que o período recente de pressões possa estar perto do fim. Dado que a reversão que se vê nesse momento ocorre através de itens pouco sensíveis à taxa de juros e que o atual ciclo de aperto monetário ainda não foi completamente transmitido à economia, não se pode descartar uma inflação menor que o esperado no segundo semestre”, avalia André Valério, economista sênior do Inter.

Embora os fatores domésticos tenham influenciado na desvalorização do dólar nesta quinta, o exterior foi a principal causa. O assunto na praça internacional foi a possível nomeação antecipada do sucessor de Jerome Powell na presidência do Fed, conforme reportado pelo jornal The Wall Street Journal.

Segundo a publicação, a antecipação seria uma forma do presidente Donald Trump pressionar a mudança no comando do banco central e diminuir o período de transição no cargo.

Powell tem mandato até maio de 2026 e vem sendo alvo constante de críticas de Trump devido à postura considerada cautelosa pelo governo. O Fed tem optado por manter a taxa de juros do país no patamar atual de 4,25% a 4,5% desde dezembro.

Nesta semana, o republicano já afirmou que a taxa poderia estar dois ou três pontos percentuais abaixo do índice atual, depois de chamar Powell de “burro” e “idiota” pela manutenção dos juros. Por sua vez, o presidente do Fed afirmou que sua intenção é cumprir o mandato até o final.

Segundo o WSJ, Trump pretende antecipar o anúncio para setembro ou outubro deste ano. Uma das fontes ouvidas pela reportagem diz que, dependendo da situação, a medida pode ocorrer ainda mais cedo.

“O fato de Trump poder nomear com antecedência quem vai ser o próximo condutor da política monetária e a crítica frequente que ele faz ao Fed traz receios de credibilidade da política monetária e está enfraquecendo o dólar globalmente”, diz Mattos, da StoneX.

Novos dados também reforçaram a cautela sobre a economia norte-americana —e, por consequência, sobre o dólar. O resultado do PIB do país no primeiro trimestre foi revisado e mostrou uma contração de 0,5% na taxa anualizada, ante a estimativa anterior de retração de 0,2%.

O número fomenta ainda mais os receios dos investidores com a maior economia do mundo, que atravessa incertezas provocadas pela política comercial errática de Trump. De forma geral, esse cenário tem refletido em perdas para os ativos dos EUA. Os países têm até 9 de julho para firmar acordos tarifários com os EUA.