SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Um tribunal da Rússia anunciou nesta quinta-feira (26) sentença de 16 anos de prisão ao fotógrafo Grigori Skvortsov, acusado de traição, após ele supostamente ter admitido o repasse de informações detalhadas sobre antigos bunkers da era soviética a uma jornalista dos Estados Unidos.

Skvortsov, 35, foi preso em São Petersburgo em novembro de 2023. Por meses, seus familiares não souberam quais eram exatamente as acusações contra ele, segundo o jornal russo The Moscow Times. Ele nega ter cometido qualquer crime.

Depois, veio à tona que ele respondia à acusação de traição ao Estado por ter enviado a uma jornalista americana materiais históricos de acesso público —documentos complementares ao livro “Bunkers Secretos Soviéticos: Fortificações Urbanas Especiais dos Anos 1930–60”.

Mas Skvortsov disse ter repassado apenas informações de acesso público disponíveis na internet ou que constam em livros de um autor russo sobre instalações subterrâneas soviéticas projetadas para uma possível guerra nuclear. Ele não revelou o nome da jornalista americana envolvida.

A declaração do fotógrafo foi feita durante entrevista concedida em dezembro de 2024 a um grupo de advogados russos no exílio, o Pervy Otdel. Esse grupo foi rotulado pelas autoridades russas como “agente estrangeiro”, designação com conotação negativa herdada da era soviética e usada para restringir a atuação de entidades críticas ao governo.

O livro publicado em 2021 pelo historiador Dmitri Iurkov investiga os bunkers soviéticos, incluindo um antigo abrigo do Ministério das Relações Exteriores que já teve seu sigilo retirado, além de estruturas arquitetônicas pouco lembradas da era da Guerra Fria, de acordo com o diário russo. A obra era comercializada legalmente na Rússia e chegou a ser anunciada no jornal estatal Rossiyskaya Gazeta.

Em 2022, o órgão de vigilância da mídia estatal, Roskomnadzor, afirmou, citando decisão judicial, que uma palestra de Iurkov sobre o livro supostamente revelou segredos de Estado.

“Eu não tinha acesso a segredos de Estado e não tive intenção maliciosa”, disse o fotógrafo Skvortsov ao Pervy Otdel, durante entrevista feita na prisão antes de ser julgado.

Ievgeni Smirnov, advogado do Pervy Otdel, disse que o caso é absurdo e afirmou temer que não seja o primeiro nem o último nesse tipo de situação, enfatizando que o livro em questão estava à venda no país.

“Ele nunca teve contato com os procedimentos de manuseio de segredos de Estado —simplesmente não tinha como saber o que era ou não era segredo de Estado”, disse Smirnov ao Moscow Times.

Segundo o tribunal de Perm, Skvortsov cumprirá a pena em um campo de prisão de segurança máxima. O julgamento foi fechado ao público e, segundo a corte, a traição foi comprovada.

Uma foto divulgada pelo tribunal regional de Perm mostra o fotógrafo aparentemente calmo, vestido de preto, dentro de uma cela envidraçada, enquanto ouvia a leitura do veredito.

Em comunicado publicado no Telegram, um grupo de apoio a Skvortsov lamentou a condenação: “O milagre não aconteceu”. A única esperança para o fotógrafo, segundo o grupo, seria uma troca de prisioneiros entre a Rússia e o Ocidente.

Após a invasão da Ucrânia em 2022, a Rússia ampliou o conceito de segredo de Estado e passou a prender acadêmicos, cientistas e jornalistas acusados de compartilhar informações confidenciais.