PEQUIM, CHINA (FOLHAPRESS) – O Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura (AIIB), contraponto de Pequim ao Banco Mundial, de Washington, anunciou uma operação de financiamento para o Brasil em que passa a avaliar a “natureza como infraestrutura”. Visa a recuperação dos manguezais, que estocam carbono naturalmente.
Segundo o economista-chefe da instituição, o sueco Erik Bergloff, será a primeira ação na nova categoria Financiamento Baseado em Política Climática. Com isso, argumenta, “podemos começar a melhorar as políticas para investimento na natureza”.
A nova metodologia “é basicamente uma análise padrão de custo-benefício”, como as outras do banco, “mas amplificada pela análise da valoração do capital natural”.
No Brasil, país com a segunda maior área de manguezais, estes estão sendo avaliados não só pela capacidade de estocar carbono, “mas também analisando os outros benefícios que advêm deles”, para aprovação do financiamento.
Bergloff citou, como uma das experiências que originaram a nova estratégia, a resposta do AIIB à recente crise das enchentes no Rio Grande do Sul, que não se limitou à infraestrutura urbana atingida. “Tentamos abordar o problema também visando o futuro”, descreveu. “Como podemos usar a natureza, rio acima, para gerenciar as inundações?”
Segundo um executivo do banco, o anúncio feito na décima reunião anual do AIIB marca o posicionamento da instituição no apoio, a partir de agora, a projetos ambientalmente sustentáveis no Brasil, tendo como foco a “natureza como infraestrutura”.
Realizado no Parque Olímpico de Pequim, onde fica a sede do banco, o encontro reuniu mais de 3.500 representantes de cerca de cem países. Contou com dois brasileiros, o ex-ministro da Fazenda Nelson Barbosa, hoje diretor do BNDES, e a secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Tatiana Rosito.
Barbosa, sentado ao lado de Bergloff, falou de programas voltados à área ambiental no governo Lula, como a monitoração de impacto dos projetos de infraestrutura usando satélites. Mas sobretudo destacou um fundo nacional priorizado por Lula após a ausência de resultado nas doações dos países desenvolvidos.
“Todos os anos há muitas reuniões em que algumas pessoas anunciam US$ 100 bilhões para isso, US$ 100 bilhões para aquilo, mas o fato é que o dinheiro não chegou”, disse Barbosa. “É por isso que o terceiro governo Lula decidiu seguir adiante por conta própria.”
No Fundo Clima, recursos captados no exterior pelo Tesouro Nacional são administrados pelo BNDES e chegam em reais para os projetos ambientais internos. No ano passado, foram US$ 2 bilhões.
“O Tesouro assume o risco cambial”, descreveu Barbosa. “Com isso, conseguimos repassar as taxas internacionais em dólares americanos para a moeda nacional brasileira, reduzindo o custo do projeto pelo menos pela metade.”
A reunião anual escolheu Zou Jiayi, ex-vice-ministra das finanças da China, para presidir o AIIB a partir de janeiro. Ela teve passagens pelo Banco Mundial e pelo Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), este baseado em Xangai e criado pouco antes do AIIB.
O Brasil também é um dos fundadores do banco de Pequim, mas dá mais atenção ao NDB. Entre seus 110 membros estão Índia, Rússia, Indonésia, Irã, Arábia Saudita, Egito, África do Sul, Etiópia, Argentina, Chile e europeus como Alemanha, França e Reino Unido, mas não os Estados Unidos.