BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A decisão do presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB) de pautar, pelas redes sociais, a derrubada de um decreto presidencial levou ao cancelamento de uma audiência que ele teria, na manhã desta quarta-feira (25), com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
No fim da noite de terça-feira (24), Motta surpreendeu o governo ao anunciar no X (antigo Twitter) que, no dia seguinte, levaria a voto projeto que derrubava o decreto do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) publicado pelo Executivo no início do mês.
Integrantes do Palácio do Planalto apostavam em mais duas semanas para poder negociar os termos da proposta com a cúpula da Câmara e melhorar o clima com o Congresso ao acelerar a liberação das emendas parlamentares ao Orçamento, alvo de queixas dos congressistas.
A reunião com Lula, pedida pelo próprio deputado, aconteceria apenas 12 horas depois da postagem.
A opção do presidente da Câmara de comunicar o governo pelas redes sociais espantou integrantes do Palácio do Planalto e do próprio Congresso.
Na terça, o presidente da Câmara solicitou aos articuladores do governo uma reunião com o petista. Segundo relatos de auxiliares do presidente e aliados de Motta, foi reservado um horário na agenda do presidente para o fim da manhã de quarta, às 11h30.
Ao líder do governo na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), Motta sugeriu que a conversa fosse a dois, sem obter naquele momento garantias de que o encontro seria privado.
Ainda na noite de terça, a ministra Gleisi Hoffmann (Secretaria de Relações Institucionais), responsável pela articulação política do governo com o Legislativo, viu a postagem de Motta e a encaminhou ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Na manhã de quarta, Gleisi e Haddad tentaram contato com Motta, mas os ministros não foram atendidos. Fracassadas as tentativas de contato, Motta foi informado do cancelamento, e o encontro não ocorreu.
Um aliado de Motta diz que o cancelamento se deu depois que o parlamentar indicou a membros do governo que não mudaria de posição e manteria o projeto de decreto legislativo na pauta de votações.
Ainda segundo relatos, até agora não houve outras tentativas de comunicação após a derrota do governo no Congresso. Na noite de quarta, o Legislativo impôs uma derrota para o Executivo ao aprovar por grande margem de votos a derrubada do decreto.
A aliados, Lula sinalizou que deverá ligar para Motta e para o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), para conversar sobre os últimos acontecimentos, mas num segundo momento. Interlocutores defendem que é preciso deixar a poeira baixar antes de qualquer movimento.
Desde o começo do ano, com a renovação da cúpula do Congresso, o presidente da República tem procurado estabelecer uma relação direta com Motta e Alcolumbre. O petista aposta nesse diálogo para conseguir negociar pautas importantes para o Executivo no Legislativo, diante da falta de uma base de apoio coesa nas duas Casas.
Diversos encontros desse tipo já ocorreram entre as autoridades muitos deles não registrados na agenda oficial da Presidência. Além de agendas institucionais no Palácio do Planalto, Lula já recebeu os dois políticos em encontros no Palácio da Alvorada.
O presidente da Câmara foi procurado, via assessoria de imprensa, mas não respondeu.