SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Criada durante a pandemia de Covid-19, a Estação Cidadania, na Sé, região central da capital paulista, tinha a proposta de garantir espaço de banheiro, banho, refeição e lavar roupas para as pessoas em situação de rua. Três anos após o término oficial da pandemia, o programa continua a funcionar na mesma estrutura do período emergencial, mas com menos serviços.

Já a segunda unidade, que seria instalada nas proximidades da Luz, está contratada pela gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) desde outubro do ano passado, mas ainda não começou a funcionar. A previsão agora é que ela funcione em um imóvel na Santa Cecília, próximo da praça Marechal Deodoro, também no centro.

Responsável pelo atendimento, a organização social Ação Retorno tem trabalhadores contratados há oito meses, mas ainda não distribuiu refeições, nem ofereceu banhos, banheiros ou lavanderia. Parte da equipe já foi alterada e os funcionários estão em uma segunda temporada de treinamentos, afirmaram alguns deles.

A Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania e a entidade afirmam que o funcionamento da nova unidade está prevista para o segundo semestre deste ano. Ambos admitem que os repasses estão sendo feitos para “mobilização da equipe e estruturação inicial”, mesmo sem atendimento.

A Ação Retorno chegou a alugar um imóvel em novembro do ano passado para a instalação do projeto, na rua João Monteiro. Após a aprovação inicial da instalação, o imóvel foi rejeitado e a busca retomada. Segundo a prefeitura, a “mudança de localização da unidade ocorreu por razões técnicas e operacionais”. A organização diz que a decisão “teve como foco evitar danos à população”.

Quem acompanhou as visitas técnicas afirma que o espaço era ideal não só para receber os serviços atuais, como também para oferecer opções para estacionamento de carroças e para a permanência de animais de estimação. Muito diferente do imóvel escolhido no início deste ano na rua das Palmeiras (na Santa Cecília) e que está atualmente em reforma

“Mesmo diante de alguns obstáculos na estrutura do prédio atual, estamos fazendo adaptações para disponibilizar banho, alimentação e outros auxílios”, afirma a presidente da organização, pastora Nildes Nery, em resposta à Folha.

A primeira unidade, na Sé, continua funcionando no mesmo endereço da época da pandemia, no começo da avenida Rangel Pestana, onde antes era uma agência bancária. As áreas de banho e banheiro são cabines temporárias, instaladas numa área externa. Metade dos doze chuveiros teve de ser desativada em razão de problemas estruturais em um prédio ao lado.

As máquinas de lavar roupa são de uso doméstico, o que diminui a capacidade de atendimento. A estação também é usada por pessoas em situação de rua ou em habitações precárias para pegar água potável.

A distribuição das refeições é feita no andar inferior, onde antes funcionava a garagem da agência bancária. As marmitas, contratadas de restaurantes desde a época da Covid, são distribuídas e a maioria das pessoas precisa comer do lado de fora, porque não há espaço para que todos comam em mesas e cadeiras no local.

Houve também, nos últimos meses, duas reduções seguidas no número de refeições servidas. Primeiro de 1.000 para 800 a agora para 600. Em nota, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania afirma que “a demanda é monitorada e atendida conforme parâmetros técnicos”. Diz ainda que “ajustes nos atendimentos foram realizados levando em consideração a capacidade do imóvel e o fluxo de pessoas”.

A qualidade das marmitas também é motivo de reclamação. Algumas chegam com comida azeda, outras fora do peso ou sem mistura, de acordo com usuários que conversaram com a reportagem, Segundo a secretaria, “o fornecimento de refeições é fiscalizado pela pasta de acordo com critérios de segurança alimentar”.