SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quatro anos depois de enfrentar a indústria audiovisual anglófona, “Round 6” –ou “Squid Game”– chega ao fim nesta semana, de forma um tanto precoce para um sucesso de tal dimensão, mas alinhada com as intenções de seu criador, o sul-coreano Hwang Dong-hyuk.

Não houve tentativas desconexas de manter “Round 6” no ar por mais tempo do que a história pedia, como acontece com alguma frequência na linha de produção da TV e do streaming. O que também não quer dizer que a Netflix tenha soltado a mão do que se tornou uma de suas maiores “IPs” –propriedades intelectuais, novo e badalado termo mercadológico–, esse ativo tão valioso hoje em dia.

Numa indústria em que cada vez mais estúdios se escoram no sucesso de personagens do passado, investindo em sequências, prequelas e derivados, o gigante do streaming sabe que “Round 6” é um caso raro de sucesso avassalador, com potencial para continuar crescendo mesmo sem os seus personagens seminais.

“Esta série se tornou um fenômeno tão global, uma marca tão reconhecida, que eu acho que é natural que outras séries saiam dela, não só na Coreia. Como criador, é algo que eu vejo com bons olhos, desde que o espírito e os valores de ‘Round 6’ sejam mantidos”, diz Dong-hyuk em conversa por vídeo.

“Eu adoraria que ele [Dong-hyuk] criasse novas histórias”, afirma Lee Jung-jae, vencedor do Emmy de melhor ator por “Round 6”. “Espero que este universo não fique só na Coreia e que possa, talvez, encontrar uma narrativa na América Latina, na Europa, e que ele continue vivo.”

Nada foi oficialmente anunciado pela Netflix, mas rumores sobre os próximos passos deste universo seguem pipocando. As falas de criador e protagonista, também, deixam claro que há intenções de manter as cores vibrantes de “Round 6” em destaque no catálogo da plataforma.

Depois do reality show “Round 6: O Desafio”, que põe pessoas reais para competirem em brincadeiras inspiradas na série –sem a parte em que os perdedores morrem–, os planos podem incluir uma versão americana do jogo, com envolvimento de David Fincher, e uma série sobre a primeira edição da competição, ambientada nos anos 1980. Algo na linha do que houve com “La Casa de Papel”, fenômeno espanhol do serviço.

São apenas rumores, mas Dong-hyuk vem expressando em entrevistas sua vontade de manter a série viva e de escrever sobre o passado de personagens coadjuvantes. Também é difícil pensar que uma história tão bem-sucedida –foram 330 milhões de espectadores e 2,8 bilhões de horas vistas para a primeira temporada, tornando-a a obra original mais popular da plataforma– ficaria acumulando poeira no catálogo.

Isso ajudaria a explicar o porquê de a temporada final sair com agilidade impressionante. Foram três anos entre a primeira e a segunda leva de episódios, mas apenas seis meses entre a segunda e a terceira. Mal houve tempo para os fãs se descabelarem e inundarem as redes sociais com teorias de qual será o destino dos personagens.

A terceira e última temporada começa exatamente onde a segunda termina, sem saltos temporais. Depois de liderar um motim contra os organizadores dos jogos e ver vários de seus aliados morrerem, Seong Gi-hun, personagem de Lee Jung-jae, abraça seu lado mais sombrio.

Ele agora quer vingança a todo custo, inclusive contra aqueles que não embarcaram em sua revolução armada. Enquanto isso, aqueles jogos infantis do sadismo, em que os competidores se enfrentam por um prêmio em dinheiro, recomeçam.

Ao se aproximar do fim, “Round 6” segue como prova viva do interesse do público mundial pela onda de cultura “k”. Dong-hyuk e Jung-jae, porém, dividem os louros com outros criadores e artistas sul-coreanos que, nas últimas duas décadas, aliados a uma estratégia de investimento e “soft power” do governo, vêm conquistando o mundo, seja com o Oscar e a Palma de Ouro de “Parasita” ou com as indicações ao Grammy do BTS.

Para o criador de “Round 6″, o amor que tantos espectadores do Ocidente mostraram pela série é um sinal para que aqueles às margens de Hollywood e da produção britânica possam se arriscar e sonhar com voos mais altos –”gosto da ideia de ser lembrado como um precedente”, diz ele.

Mais importante do que um legado na indústria, porém, Dong-Hyuk acredita no poder das mensagens que sua trama deixa. Em especial numa temporada derradeira que não só mergulha no lado mais humano de seus personagens em busca de uma saída para os horrores à sua volta, mas que é lançada em meio a guerras marcadas por uma violência quase sádica.

“As pessoas não vão decidir cuidar umas das outras, juntar as mãos, parar de usar combustíveis fósseis e pensar na crise do clima da noite para o dia. Mas talvez haja empatia, consciência, humanidade e esperança para nos guiar”, diz o criador e diretor. “Não devemos ficar pensando no que fazer para melhorar o mundo –devemos simplesmente fazer algo.”

ROUND 6 (3ª TEMPORADA)

– Quando Estreia nesta sexta (27), na Netflix

– Classificação 18 anos

– Elenco Lee Jung-jae, Tom Choi e Wi Ha-joon

– Produção Coreia do Sul, 2025

– Criação Hwang Dong-hyuk