BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A manifestação do Brics sobre os ataques de Israel e dos Estados Unidos contra o Irã reflete divisões internas no bloco sobre a escalada do conflito no Oriente Médio.
O tom do comunicado conjunto, de terça-feira (24), é bastante mais moderado do que as manifestações individuais de alguns países do Brics sobre os bombardeios, inclusive a do Brasil.
Houve resistência da Etiópia e da Índia a uma declaração mais crítica aos governos Donald Trump (EUA) e Binyamin Netanyahu (Israel) durante as negociações para o posicionamento, que se iniciaram ainda antes da operação militar americana contra instalações nucleares do Irã. O argumento desses países foi o de que era necessário encontrar uma linguagem equilibrada entre os dois lados do conflito.
A presidência do Brics, exercida neste ano pelo governo Lula (PT), publicou na noite de terça uma declaração na qual o grupo expressa “profunda preocupação com os ataques militares contra a República Islâmica do Irã desde o dia 13 de junho de 2025, os quais constituem violação do direito internacional e da Carta das Nações Unidas, e a subsequente escalada da situação de segurança no Oriente Médio”.
O documento também destaca a necessidade “urgente de romper o ciclo de violência e restaurar a paz”.
“Conclamamos todas as partes envolvidas a engajarem-se, por meio dos canais de diálogo e diplomáticos existentes, com vistas a desescalar a situação e resolver suas divergências por meios pacíficos”, diz o comunicado. A declaração conjunta expressa ainda preocupação com ataques a instalações nucleares.
Não há qualquer menção a Israel e aos Estados Unidos no texto.
Hoje, além do Brasil, são membros plenos do Brics os seguintes países: Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã. A Arábia Saudita, convidada em 2023, nunca oficializou seu ingresso, mas tem escalado representantes para as reuniões.
A redação acordada pelo Brics começou a ser negociado após o ataque surpresa de Israel contra o Irã, em 13 de junho. Em resposta, o país persa disparou mísseis contra o território israelense.
Durante as trocas de propostas de declaração, China, Rússia e o próprio Irã defenderam termos bastante críticos à ação de Israel e, depois do bombardeio ordenado por Trump, à dos EUA. A ideia desses governos era fazer do Brics uma plataforma que responsabilizasse Israel e EUA pela escalada das tensões no Oriente Médio e pela desestabilização na região.
A linguagem proposta logo encontrou obstáculos. No caso da Índia, o governo do primeiro-ministro Narendra Modi tem evitado declarações que culpem diretamente um lado ou outro pelo conflito. Modi teve recentemente uma ligação com o presidente do Irã, Masoud Pezeshkian, na qual afirmou que a Índia “está do lado da paz e da humanidade” e enfatizou a necessidade de uma “desescalada imediata”.
A posição indiana de buscar manifestações de caráter mais neutro pode ser explicada, por um lado, pela cooperação do país com Israel nas áreas de defesa e inteligência e, por outro, pelo receio de uma desestabilização no Oriente Médio que impacte o fornecimento de petróleo.
O pronunciamento do Brics sobre a crise difere da adotada pelo Brasil em nível nacional. Após o bombardeio dos EUA, o Itamaraty publicou uma nota na qual condenou com veemência “ataques militares de Israel e, mais recentemente, dos Estados Unidos, contra instalações nucleares, em violação da soberania do Irã e do direito internacional”.