SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O parlamento do Irã aprovou uma resolução nesta quarta-feira (25) suspendendo a cooperação do país persa com a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), o órgão da ONU que fiscaliza os programas nucleares dos países signatários do Tratado de Não Proliferação Nuclear (NPT).
O Irã ainda é membro do NPT, mas as tensões entre o país e a AIEA vinham crescendo antes mesmo do início da guerra com Israel -Tel Aviv justificou o conflito dizendo que Teerã estava prestes a ser capaz de desenvolver uma bomba atômica.
Horas antes dos primeiros bombardeios, a AIEA emitiu um parecer duro contra o Irã, afirmando que o país não cumpre suas obrigações de não proliferação. Teerã acusou a agência de, dessa forma, legitimar uma agressão ilegal contra o país.
O presidente do Parlamento, Mohammad Qalibaf, disse à imprensa estatal iraniana que o país pretende acelerar seu programa nuclear civil. A medida aprovada nesta quarta ainda precisa ser aprovada pelo chamado Conselho Guardião para entrar em vigor -pela Constituição iraniana, escrita após a Revolução Islâmica de 1979, esse conselho tem poder de veto sobre o Parlamento, e seus membros são selecionados pelo Líder Supremo, de maneira direta e indireta.
Teerã nunca admitiu publicamente que desenvolve uma bomba atômica, e agências de inteligência americanas também dizem que esse programa não existe. Por outro lado, a AIEA confirma que o Irã enriquece urânio a níveis muito superiores ao necessário para geração de energia elétrica em reatores, o que indicaria a intenção de utilizar esse material militarmente.
Qalibaf disse ainda que a AIEA, ao não condenar os ataques de Israel contra as instalações nucleares iranianas, “comprometeu sua credibilidade internacional”. Por isso, afirmou, “a República Islâmica do Irã suspenderá sua cooperação com a AIEA até que a segurança de suas instalações seja garantida”.
A agência de energia atômica da ONU não comentou a aprovação da medida no Parlamento do Irã. O diretor da AIEA, o argentino Rafael Grossi, disse que busca retomar o trabalho de fiscalização do programa nuclear iraniano assim que possível com o objetivo de entender o dano causado pelos bombardeios de Israel e dos Estados Unidos.
Grossi disse ainda nesta quarta que existe forte possibilidade que os estoques de urânio altamente enriquecido do Irã não foram afetados pelos ataques. Segundo ele, os cerca de 400 kg do material provavelmente foram removidos das instalações nucleares de Fordow, Natanz e Isfahan logo no início da guerra.
Esses três locais foram os mais mirados por Israel durante a guerra, e se tornaram alvo do bombardeio americano direto no sábado (21), quando o presidente Donald Trump ordenou um ataque sem precedentes contra o Irã por forças de Washington.
O diretor da AIEA disse ter sido formalmente notificado pelo Irã de que o país tomaria medidas para proteger seu material físsil. “Eles não entraram em detalhes, mas está claro o que isso significa”, afirmou Grossi. “Para confirmar essa informação, entretanto, precisamos voltar [ao Irã].