A história do sino Vox Patris, instalado na Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (GO), é o ponto de partida da série documental Sino Peregrino – O Som da Esperança, que será lançada nesta terça-feira (25), durante a Romaria do Divino Pai Eterno. Com roteiro do jornalista Marcelo Canellas e direção de Teo Taveira, a produção propõe uma abordagem ampla sobre fé, cultura popular e as controvérsias envolvendo a gestão religiosa na região. Considerado o maior sino em funcionamento no mundo, o Vox Patris se tornou um símbolo de devoção e também de debate sobre os rumos da religiosidade no Brasil contemporâneo.
A série, dividida em cinco episódios, percorre a trajetória do sino desde sua fabricação na Polônia até sua chegada ao Brasil, destacando os aspectos logísticos, culturais e espirituais desse percurso. A ideia inicial, segundo o diretor, era contar a história por trás das dimensões do sino e da complexa operação de transporte. Com o tempo, o projeto ganhou novos contornos, incorporando reflexões sobre a fé coletiva, a função simbólica do sino e os desdobramentos recentes envolvendo a Basílica de Trindade.
Marcelo Canellas, que já abordou temas sensíveis em produções como Boate Kiss – A Tragédia de Santa Maria, destaca que o sino é, ao mesmo tempo, um objeto litúrgico e uma peça de valor cultural. A série traz depoimentos de religiosos, fiéis, estudiosos da cultura brasileira e autoridades locais, além de abordar episódios como a Operação Vendilhões, deflagrada pelo Ministério Público de Goiás, que investigou a gestão da Associação Filhos do Pai Eterno e resultou no afastamento do padre Robson de Oliveira Pereira. A produção adota um tratamento jornalístico, com foco na apresentação objetiva dos fatos e das mudanças administrativas adotadas pela nova direção da Basílica.
A série também reflete sobre a influência da herança africana na sonoridade dos sinos e na forma como esse elemento se integrou à identidade cultural brasileira. Canellas destaca a importância de reconhecer o sino como parte da tradição popular, e relembra o tombamento dos toques de sinos de Minas Gerais como patrimônio imaterial pelo Iphan. A narrativa inclui ainda referências históricas, como a crônica de Machado de Assis sobre o sineiro negro do Outeiro da Glória, no Rio de Janeiro, ressaltando como os sinos carregam significados que ultrapassam o campo religioso.
O Sino Peregrino – O Som da Esperança se propõe, portanto, a ser mais do que um registro técnico ou histórico: é um retrato das múltiplas dimensões que a fé pode assumir no Brasil, das celebrações populares aos questionamentos institucionais, passando pelo simbolismo de um sino que, para muitos, representa esperança, transformação e pertencimento.