SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, comparou os ataques contra o Irã do fim de semana às bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki na Segunda Guerra Mundial e insistiu na ideia de que os bombardeios fizeram o programa nuclear de Teerã retroceder décadas, contrariando a própria agência de inteligência americana.
“Não quero usar o exemplo de Hiroshima, não quero usar o exemplo de Nagasaki, mas foi essencialmente a mesma coisa. Aquilo acabou com aquela guerra. Isto acabou com a guerra”, disse o republicano a jornalistas nesta quarta-feira (25), durante uma reunião com o Secretário-Geral da Otan, Mark Rutte, antes de uma cúpula em Haia.
Trump argumentou que o projeto nuclear do Irã havia sido adiado “basicamente por décadas” e recorreu a seus principais conselheiros para reforçar essa mensagem. Apesar da usual retórica superlativa do republicano, a extensão do bombardeio ainda é incerta.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Esmail Baghaei, afirmou à emissora qatari Al Jazeera nesta quarta que as instalações do país foram “gravemente danificadas” pelo ataques americanos, mas se recusou a dar mais detalhes. Já a Agência de Inteligência de Defesa dos EUA (DIA, na sigla em inglês) avaliou que os ataques atrasaram o programa nuclear do Irã em apenas alguns meses, de acordo reportagens da imprensa americana publicadas nesta terça (24).
Segundo pessoas que tiveram acesso a um relatório preliminar do órgão e foram ouvidas pelos veículos, os ataques não eliminaram por completo as centrífugas nem as reservas de urânio enriquecido de Teerã, apenas bloquearam as entradas de algumas centrais, sem destruir as instalações subterrâneas.
“A inteligência diz: ‘Não sabemos, poderia ter sido muito severo.’ É o que a inteligência diz. Então, acho que isso está correto, mas acredito que podemos desconsiderar o ‘não sabemos’. Foi muito severo. Foi uma obliteração”, disse Trump.
Ele disse ainda que não vê o Irã se envolvendo novamente no desenvolvimento de armas nucleares. “Vamos conversar com o Irã na próxima semana. Podemos assinar um acordo, não sei. Para mim, não acho que seja tão necessário”, disse.
O republicano recebeu o apoio dos secretários de Estado, Marco Rubio, e de Defesa, Pete Hegseth, que também lançaram dúvidas sobre a confiabilidade da avaliação da DIA. “Quando você realmente olha para o relatório a propósito, era um relatório ultrassecreto era preliminar, tinha baixa confiança”, disse Hegseth. “Há um motivo político aqui.”
Os três criticaram as reportagens sobre o documento. Rubio, por exemplo, afirmou que os responsáveis por compartilhá-lo haviam feito análises equivocadas. “Este é o jogo que eles jogam”, afirmou.
Israel tem uma postura mais postura mais próxima da de Trump, que nega estar confiando na inteligência de Tel Aviv. De acordo com o porta-voz do Exército do Estado judeu, Effie Defrin, “ainda é cedo para avaliar os resultados da operação”. “Acredito que desferimos um duro golpe ao programa nuclear, e também posso dizer que o atrasamos vários anos”, declarou, em uma entrevista coletiva nesta quarta.
O chefe da agência de vigilância nuclear da ONU, Rafael Grossi, criticou a avaliação dos danos em termos de meses ou anos necessários para reconstruir as instalações, considerando a questão irrelevante para o objetivo, que é uma solução de longo prazo.
“De qualquer forma, o conhecimento tecnológico está lá e a capacidade industrial está lá. Isso ninguém pode negar. Então precisamos trabalhar juntos com eles”, disse. Sua prioridade era o retorno de inspetores internacionais às instalações nucleares iranianas, o que, segundo ele, era a única maneira de descobrir precisamente em que estado elas se encontravam.
Trump tem desacreditado os órgãos de inteligência dos EUA, e o sucesso dos ataques é politicamente crucial para ele, que passou anos criticando a política internacional americana.
Apoiadores costumam argumentar que ataques do tipo são inconsistentes com as promessas do republicano, focadas em questões domésticas. Trump insiste que o Irã nunca deve ser autorizado a obter uma arma nuclear o que um ataque preciso e decisivo evitaria.
Os EUA se juntaram à campanha militar israelense contra o Irã no domingo (22), nove dias após seu início. Os bombardeios atingiram três instalações nucleares chave de Teerã: Natanz, Fordow e Isfahan. Segundo Washington, o objetivo é desmantelar o programa nuclear iraniano, cujo objetivo é construir uma bomba atômica, segundo potências ocidentais o que a teocracia nega.
Dois dias depois, o republicano anunciou um cessar-fogo entre os dois países que se mostrou frágil nas horas seguintes, com acusações mútuas de violações. Mesmo assim, Trump afirmou nesta quarta que a trégua estava “funcionando muito bem”, mas que os EUA seguiriam pressionando Teerã.
Apesar disso, o presidente sinalizou um possível relaxamento nas sanções à nação. “Eles vão precisar de dinheiro para colocar aquele país de volta em forma. Queremos ver isso acontecer”, afirmou.
O confronto mais mortal entre as duas potências do Oriente Médio deixou pelo menos 610 mortos e mais de 4.700 feridos do Irã, segundo um balanço oficial do regime que só incluiria vítimas civis. Já em Israel, houve 28 mortos, segundo autoridades e socorristas do Estado judeu.
As consequências do conflito ainda são incertas. Nesta quarta, o Parlamento do Irã votou para suspender a cooperação com o organismo de supervisão nuclear das Nações Unidas (AIEA, na sigla em inglês), segundo a televisão estatal.
“A Agência Internacional de Energia Atômica, que se negou até mesmo a condenar minimamente o ataque às instalações nucleares do Irã, colocou em jogo sua credibilidade internacional”, justificou o presidente da Casa, Mohammad Bagher Ghalibaf. A decisão ainda requer a aprovação do Conselho de Guardiães, o órgão facultado para examinar a legislação.
No final de maio, dias antes dos ataques, a agência afirmou que o Irã havia acelerado o ritmo de produção de suas reservas de urânio enriquecido com 60% de pureza nível próximo dos 90% necessários para produzir armas nucleares.