SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ravel Andrade estava em estúdio gravando uma cena da série biográfica “Eu Sou”, na pele de Raul Seixas. Ao fim da performance, o produtor Kassin, responsável pela parte musical da produção, deu um toque no ator. “Ravel, o Raul faz o ré com o dedo mindinho nessa nota aqui”, disse, ajustando o acorde no violão para manter a verossimilhança.
Esse nível de detalhe nas cenas que incluem performances musicais é uma das preocupações de “Raul Seixas: Eu Sou”, que chega ao Globoplay nesta quinta-feira (26), com oito episódios. É também a razão da série, com criação de Paulo Morelli, que divide a direção com Pedro Morelli, ambos da O2 Filmes, ter escalado um ator que também é músico, caso de Ravel.
Além da semelhança física, ele compõe e toca, algo que, segundo Pedro, foi fundamental para as cenas de Raul em ação não só nos palcos, mas compondo. “São várias das melhores cenas da série, na minha opinião”, ele diz. “Não daria para fazer playback do cara fingindo que está compondo. Ele vai errando, aquilo é totalmente improvisado.”
A série é baseada em livros, entrevistas com pessoas que conviveram com Raul e também no baú mantido por Kika e Vivian Seixas, viúva e filha do músico baiano. A produção do Globoplay é a primeira de diversas iniciativas -incluindo shows, exposição e um documentário- relacionadas à família Seixas para homenagear o Maluco Beleza, morto em 1989, na ocasião em que ele faria 80 anos.
Além de fazer Ravel tocar exatamente como Raul, a série mesclou na edição as vozes do ator com a de Tony Gambel, cantor maranhense conhecido por ter um timbre muito parecido com o do baiano. Músicos que tocaram com Raul também colaboraram com a produção.
Paulo Morelli, criador da série, se inspirou numa declaração do roqueiro baiano -“sou um ator tão bom que finge que sou compositor e poeta e todo mundo acredita”. “Fui percebendo que ele criava personagens”, diz o codiretor. “E que o núcleo seria contar a história de um criador e uma criatura. O Raulzito, antes da fama, cria o Raul Seixas para ser famoso e acredita que tem de ser radical para ser um artista de verdade. Leva essa ideia ao extremo, ao ponto de matar o criador.”
Nessa história, de “uma criatura que mata o criador ao mesmo tempo que o imortaliza”, segundo Paulo, há algumas liberdades criativas. O Raul de “Eu Sou” vê discos voadores e encontra figuras como Elvis Presley, Lampião e Jesus Cristo, que permeavam seu imaginário. Também vai até a casa de John Lennon -história que ele contava, mas não há evidência de que foi mesmo verdadeira.
Os diretores dizem que a série não tenta proteger Raul e mostra a derrocada dele com o álcool -época em que, segundo relatos, bebia 23 horas por dia. “Ele não tirava o pé do radicalismo, e a gente vai ver isso pelas drogas, sim, e muito pelo álcool”, afirma Paulo. “Isso foi destruindo o corpo dele. Então a série mostra isso e não alivia.”
Dois dias depois da estreia de “Eu Sou” no Globoplay, na data do aniversário de 80 anos de Raul, este sábado (28), acontece uma edição do “Baú do Raul”, show em que outros artistas interpretam as músicas do baiano. No Circo Voador, no Rio de Janeiro, nomes como Frejat, BNegão e Ana Cañas subirão ao palco para dar vida a esse cancioneiro.
“O primeiro Baú do Raul aconteceu em 1993. É um projeto feito há muito tempo por minha mãe, Kika, em que também estou ajudando”, diz Vivian, sobre o show, que também terá edições em São Paulo e em Salvador.
A filha de Raul, que é DJ, preparou ainda um outro espetáculo para homenagear o pai. Ao lado de Paula Chalup, também DJ e produtora musical, ela fará o “Rock das Aranhas Live”, que estreia no festival Doce Maravilha, em setembro, no Rio, com “uma metamorfose de Raul Seixas para sonoridades contemporâneas”.
“Não é um projeto de música eletrônica. É um projeto audiovisual para fãs do Raul”, ela diz. “Estamos masterizando e remixando as músicas, dando um toque mais moderno, mas sem descaracterizar a obra. Vamos pegar entrevistas, fotos e vídeos e projetar enquanto fazemos essa apresentação.”
Haverá também no “Rock das Aranhas” uma versão do próprio Raul recriado por inteligência artificial, pelas mãos de Bruno Sartori, especialista na tecnologia. O cantor vai surgir “falando e cantando, para emocionar o público”, ela diz. “Também vou contar histórias. É um espetáculo -com duas DJs, sem banda.”
Vivian conta que os tributos a Raul incluem um documentário, ainda em fase de captação de recursos, no qual ela vai a Salvador passar por lugares onde o pai esteve e falar com gente com quem ele conviveu. Será o “olhar de uma filha que perdeu o pai aos oito anos de idade”.
O material da família Seixas também será a base da exposição “O Baú do Raul”, que abre no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, em 11 de julho. Com curadoria de André Sturm, também diretor do museu, a mostra terá roupas, manuscritos de letras, instrumentos e centenas de materiais de Raul.
Os itens, que também incluem objetos da coleção de Sylvio Passos, amigo e fundador do fã-clube oficial de Raul, serão concentrados principalmente no primeiro andar, divididos tematicamente por sucessos do artista. São 13 espaços, cada um correspondente a uma música, como “Ouro de Tolo”, “Gita”, “Eu Nasci Há 10 Mil Anos Atrás” e “Mosca na Sopa”.
“Cada ambiente tem uma cenografia que é composta por uma ambientação e objetos relacionados àquela música e àquele momento”, diz Sturm, afirmando que a exposição não será baseada na cronologia da carreira do artista. “Então vai ter, digamos, uma foto daquela época, um objeto daquela época, enfim, a gente usa as músicas como o eixo da narrativa do Raul.”
No segundo andar, o visitante encontrará todos os álbuns de Raul e poderá descobrir pérolas menos conhecidas do repertório do cantor. O terceiro piso trará atividades imersivas, em especial um cenário de estúdio e um camarim, em que as pessoas terão a oportunidade de se vestir como o Maluco Beleza e gravar em vídeo uma performance cantando músicas dele.
Segundo Sturm, além de ampliar o interesse por Raul, a mostra quer despertar algo mais subliminar nos visitantes. “Ele ironizava e criticava diversos elementos da sociedade, né? Mas sempre em tom de deboche, não para pôr para baixo, mas fazendo graça, mostrando o ridículo. Espero que vejam que dá para você criticar, tirar sarro, fazer piada, sem que ninguém precise ficar ofendido e querendo te matar ou te perseguir por causa disso.”
RAUL SEIXAS: EU SOU
Quando Lançamento nesta quinta-feira (26)
Onde No Globoplay
Classificação 16 anos
Elenco Ravel Andrade, João Pedro Zappa, Amanda Grimaldi, Carol Abras, Julia Stockler, Chandelly Braz
Produção O2 Filmes
Direção Paulo Morelli, Pedro Morelli
O BAÚ DO RAUL
Quando A partir de 11 de julho. Ter. a sex., das 10h às 19h. Sáb., das 10h às 20h. Dom. e feriados, das 10h às 18h
Onde Museu da Imagem e do Som (MIS) – av. Europa, 158, São Paulo
Preço R$ 30 (à venda a partir de 28 de junho)
Classificação Livre
Link: https://mis-sp.org.br/exposicao/bau-do-raul/
BAÚ DO RAUL – ESPECIAL RAUL 80 ANOS
Quando Neste sábado (28), a partir das 20h
Onde Circo Voador – r. dos Arcos, s/nº, Rio de Janeiro
Preço R$ 180. Meia-entrada disponível com doação de um quilo de alimento não perecível
Classificação 18 anos
Participações Frejat, Paulinho Moska, Rick Ferreira, Arnaldo Brandão, Baia, Ana Cañas, Clariana, André Prando, BNegão, Thathi, Putos Brothers Band, Emílio Dantas, Vivi Seixas