BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Banco Central realizou uma intervenção dupla no câmbio na manhã desta quarta-feira (25), com compra e venda casada de dólares. Simultaneamente, a autoridade monetária vendeu US$ 1 bilhão no mercado à vista e negociou todos os 20 mil contratos em uma operação de swap cambial reverso, o que também equivale a US$ 1 bilhão.
No leilão à vista, o BC aceitou oito propostas, com diferencial de corte de -0,000300, entre 9h30 e 9h35. Na intervenção de swap cambial reverso, foram aceitas duas propostas no total dos 20 mil contratos, com taxa de corte de 6,0100, com vencimento em 1º de agosto.
Com o leilão à vista, na prática, o BC retira dólares das reservas internacionais que somaram US$ 341,5 bilhões em maio e vende aos operadores de câmbio. Já o efeito prático da operação de swap cambial reverso é equivalente a uma compra de dólares no mercado futuro.
No swap cambial reverso, o BC recebe a variação do dólar, acrescida de uma taxa de juros (cupom cambial), e se compromete a pagar a variação da taxa de juros doméstica acumulada no mesmo período (Selic).
Ao atuar nas duas pontas com operações que movimentam cifras equivalentes, os leilões não devem influenciar o comportamento da taxa de câmbio. O dólar abriu próximo da estabilidade nesta quarta, com os investidores acompanhando notícias sobre o conflito entre Israel e Irã e à espera dos leilões do BC. Às 9h05, a moeda norte-americana caía 0,01%, cotada a R$ 5,5191.
Operações semelhantes foram feita pelo BC em 2019, na gestão de Roberto Campos Neto. Na época, o movimento foi chamado pelo mercado financeiro de “casadão”.
De acordo com especialistas, o alívio deve ser sentido no cupom cambial, ou seja, na taxa de juros em dólares.
De acordo com um agente do mercado, o cupom cambial pago pelo Banco Central custa aproximadamente 1% a mais do que a autoridade monetária recebe com os recursos das reservas internacionais alocados nos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Com a realização de leilões conjugados, o BC reduz esse custo.
Sérgio Goldenstein, ex-chefe do departamento de Mercado Aberto do BC, diz que o cupom cambial é afetado para baixo pelos dois instrumentos. “A venda de dólares pelo BC no mercado à vista irriga esse mercado e reduz o custo da linha. Já a redução do estoque de swaps tira risco do mercado e é baixista para o cupom cambial”, afirma.
Um efeito secundário da venda de dólares no mercado à vista, segundo ele, é a redução do estoque de operações compromissadas. “Os bancos liquidam a compra de dólares via débito em suas contas de reservas bancárias no BC, o que diminui o excesso de liquidez no mercado monetário”, diz.
Questionado sobre o tema durante a apresentação de dados do setor externo, o chefe de departamento de estatísticas do BC, Fernando Rocha, disse não ter comentários sobre a dinâmica de swap e cupom cambial.
Com relação a possíveis efeitos secundários das operações, ele afirmou que “em termos estritamente estatísticos, essa operação não tem impactos diretos na dívida bruta”.
A dívida bruta compreende números do governo federal, do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e de governos estaduais e municipais. Esse é um dos principais indicadores econômicos observados pelos investidores na hora de avaliar a saúde das contas públicas do país.