BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O Alto Comando do Exército fechou na terça-feira (24) a lista de promoção dos três novos generais quatro estrelas. Ex-comandante Militar do Planalto no 8 de janeiro, o general Gustavo Henrique Dutra não foi escolhido e passará à reserva.
A decisão do Alto Comando mantém fora da cúpula da Força os kids pretos militares com formação em forças especiais que tiveram grande repercussão com as investigações da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado.
Os kids pretos tiveram grande representatividade na cúpula do Exército durante o governo Jair Bolsonaro (PL), com quatro forças especiais no Alto Comando da Força. Nenhum outro general com essa formação integrou o grupo dos 16 generais da mais alta patente após o início do governo Lula (PT).
Três generais foram escolhidos para a cúpula do Exército. São eles: general Luiz Gonzaga Viana Filho (infantaria), general Luís Cláudio de Mattos Basto (infantaria) e general Alcides Valeriano de Faria Júnior (cavalaria).
Dutra e outros cinco generais de três estrelas que disputavam uma das vagas do Alto Comando do Exército devem ir para a reserva no fim de julho, quando se espera que Lula assine o decreto promovendo os novos oficiais.
O general Gustavo Henrique Dutra de Menezes está hoje na vice-chefia do Estado Maior do Exército. Formou-se na Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) em 1987 e, nos anos seguintes, direcionou sua carreira para as forças especiais.
Como kid preto comandou o contingente brasileiro no Haiti, em 2015, e participou da missão de verificação dos direitos humanos na Guatemala. Comandou ainda a Aman, o Comando de Operações Especiais e a 1ª Brigada de Infantaria de Selva, em Boa Vista (RR), antes de assumir o Comando Militar do Planalto.
Dutra era o responsável pela área em que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro estabeleceram o principal acampamento em que pediam intervenção militar contra a vitória de Lula na eleição presidencial.
O general contou à Polícia Federal e à CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do Distrito Federal que o Exército atuou para a desmobilização gradual do acampamento em frente ao Quartel-General.
A falta de uma ação mais incisiva do Exército contra os acampamentos foi criticada por autoridades.
A decisão de não desmobilizar à força o acampamento foi tomada pelo ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes.
Quando militares tentaram retirar os manifestantes do local, em 29 de dezembro, por decisão de Dutra, o chefe da Força ligou para o general e o chamou de irresponsável e inconsequente. Freire Gomes alegava, como mostrou a Folha, que uma operação de desmonte mal-ajambrada na véspera da viagem de Bolsonaro aos Estados Unidos poderia incendiar os ânimos.
A avaliação de generais ouvidos pela Folha é que a promoção de Dutra poderia reacender discussões sobre a atuação do Exército diante dos acampamentos golpistas. O fato de ser um kid preto também pesou para o general ser preterido.
Oficiais-generais também destacaram que Viana Filho, oficial que disputava a vaga da turma de 1987, tem vasta experiência na área de inteligência e logística, predicados que o levaram a ser promovido.