Se você esteve por Goiânia entre os anos de 2010 e 2015 e passou dos 30, provavelmente tem um capítulo pessoal com Cristiano Araújo. Ele não era apenas um cantor popular — era o som da cidade, a trilha de festas, encontros e madrugadas cheias de emoção. Com seu timbre marcante e presença vibrante, Cristiano parecia traduzir a alma da capital goiana e levou esse espírito aos palcos do Brasil e do mundo.
Nesta segunda-feira, 24 de junho, completa-se uma década desde o trágico acidente que interrompeu de forma abrupta a vida do artista e de sua namorada, Allana Moraes. Mesmo após dez anos, a ausência de Cristiano ainda ecoa nos microfones, nas caixas de som e na lembrança de quem teve o privilégio de ver sua estrela brilhar de perto.
Um artista que moldou o sertanejo moderno
Cristiano não foi apenas um sucesso radiofônico — ele ajudou a esculpir o sertanejo contemporâneo. Saiu dos barzinhos de Goiás, onde começou a tocar aos 9 anos, para conquistar arenas lotadas com sua entrega visceral. O divisor de águas veio em 2011, com o lançamento do DVD Efeitos, onde dividiu palco com nomes como Gusttavo Lima e Jorge, da dupla Jorge & Mateus. Dali em diante, a carreira deslanchou.
Canções como “Maus Bocados”, “Caso Indefinido” e “É Com Ela Que Eu Estou” não só dominaram as rádios, como viraram hinos de uma geração que viveu, sofreu e amou ao som de sua voz.
Vínculos que o tempo não apaga
Colegas de profissão ainda se emocionam ao lembrar de momentos ao lado de Cristiano. A compositora Amanda Borges e o cantor Zé André foram dois dos muitos artistas que cruzaram seu caminho. Amanda conheceu o cantor nos bastidores, quando ele ainda sonhava em deslanchar. “Ele era movido por uma vontade imensa de fazer história”, relembra. Já Zé André, que fazia dupla com o irmão de Cristiano, Felipe Araújo, conta que o cantor acreditava neles como poucos. “Disse que apostaria todas as fichas na gente. Tinha uma fé que contagiava.”
Uma madrugada vivida pouco antes do acidente uniu os três — Amanda, Zé André e Felipe — em uma roda de violão, onde Cristiano cantou pela primeira vez, de forma despretensiosa, “De Quem é a Culpa”, música que mais tarde se tornaria um clássico com Marília Mendonça. “Foi como se ele soubesse da força daquela canção. Foi emocionante demais”, diz Amanda.
Além da música: amor, generosidade e saudade
Cristiano também deixava sua marca fora dos holofotes. Era generoso com amigos, incentivava novos talentos e valorizava composições alheias. Uma das memórias mais doces de Amanda foi quando ele demonstrou interesse em gravar sua música “Infinito”, mesmo sem conseguir, na época, a liberação dos empresários. “Isso diz muito sobre o carinho dele pela arte dos outros”, lembra.
Zé André resume o legado do amigo em uma frase simples: “O Cristiano virou referência. Todo mundo que vive da música em Goiânia, de alguma forma, carrega um pouco dele.”
Allana: a parceira de vida e palco
Discreta, doce e presente, Allana Moraes era mais do que namorada: era companhia constante nas viagens e bastidores. O relacionamento, iniciado em 2013, foi marcado por carinho e cumplicidade. Cristiano chegou a comprar alianças pouco antes do acidente, com a intenção de formalizar ainda mais o compromisso com a jovem. A tragédia, no entanto, impediu que os planos se concretizassem.
A despedida precoce de um ídolo
Na madrugada de 24 de junho de 2015, a história mudou para sempre. Após um show em Itumbiara, Cristiano e Allana voltavam de carro quando o veículo capotou na BR-153, em Goiás. Ambos estavam no banco de trás, sem cinto de segurança, e foram lançados para fora. Allana morreu na hora. Cristiano chegou a ser socorrido com vida, mas não resistiu aos ferimentos.
O episódio comoveu o país e escancarou o quanto o cantor já fazia parte da cultura popular brasileira.
Dez anos depois, ainda presente
Mesmo com sua partida precoce, Cristiano Araújo permanece gigantesco. No Spotify, ainda soma cerca de 4,7 milhões de ouvintes mensais. Seus maiores sucessos ultrapassam a casa dos 100 milhões de reproduções. No YouTube, seu canal oficial se aproxima dos 4 milhões de inscritos — números impressionantes para um artista que não está mais fisicamente entre nós.
Cristiano era, e continua sendo, muito mais do que um nome no sertanejo. Era chama viva, emoção crua e verdade no palco. E, para Goiânia, continua sendo aquele cara que fez da cidade não só seu ponto de partida, mas também seu palco eterno.
Cristiano não se foi — ele ecoa. Em cada letra, cada acorde, cada memória de quem um dia dançou, chorou ou se apaixonou ao som da sua voz.