Pesquisa diz que jardins bem projetados ajudam as pessoas a relaxar imediatamente, pois fazem com que os observadores os vejam de forma diferente. Nosso olhar muda mais rápido e com mais frequência nesses espaços verdes, dizem os cientistas, que acreditam que suas descobertas podem ajudar pessoas afetadas por doenças neurodegenerativas.
A equipe da pesquisa acredita ter encontrado “a chave” para entender os efeitos relaxantes que os jardins podem ter sobre os observadores, explicando que eles são projetados especificamente para deixar o olhar das pessoas vagarem.
Para investigar o que há nesses jardins que faz as pessoas se sentirem mais relaxadas ao observá-los, eles foram ao Murin-an em Kyoto, Japão, onde avaliaram o impacto no observador em comparação com um jardim menos cuidado.

“Jardins japoneses bem projetados têm cenários evocativos e abstratos projetados com grande detalhe”, disse a autora do estudo, a professora Seiko Goto, em um comunicado à imprensa. “Esses cenários estimulam o observador a observar por mais tempo para entender a composição e o significado da paisagem, enquanto o olhar vagueia mais e mais rápido.”
O autor sênior do estudo, Professor Karl Herrup, neurobiólogo da Universidade de Pittsburgh, nos EUA, disse que eles encontraram uma correlação entre mudanças rápidas de olhar e uma redução na frequência cardíaca e melhora do humor, o que também pode servir como auxílio para a meditação. “A redução do estresse experimentada pelos observadores de um jardim japonês bem elaborado se deve em grande parte às características do design que levam a pessoa a realizar mudanças horizontais frequentes e rápidas no olhar.”
Durante um dia de manutenção em 2023, a equipe de pesquisa conseguiu acesso sem perturbações ao jardim Murin-an. Da mesma forma, o segundo jardim, localizado na Universidade de Kyoto, estava desabitado durante o período em que o experimento foi realizado.
Um total de 16 estudantes observaram ambos os jardins por sete minutos. Os pesquisadores registraram os movimentos dos olhos, os batimentos cardíacos antes e durante a observação, e o humor antes e depois de ver os jardins. Diferentemente do jardim universitário, no jardim Murin-an os pontos de fixação dos observadores estavam mais espalhados, cobrindo todo o campo de visão.
O Prof. Goto, pesquisador da Universidade de Nagasaki, no Japão, especializado em arquitetura paisagística, disse: “Para induzir uma atenção tão intensa do observador, não só a qualidade do projeto, mas também a qualidade da manutenção é importante. O olhar do observador se move continuamente em busca de mais fascínio pelas árvores bem podadas e pelo solo imaculado.”
Todos os participantes indicaram que se sentiam mais relaxados e queriam revisitar o jardim Murin-an, o que eles preferiram muito mais do que o jardim da universidade.
Os pesquisadores disseram que suas descobertas, publicadas no periódico Frontiers in Neuroscience, podem ter algumas semelhanças com outras terapias que utilizam o movimento dos olhos para reduzir o estresse.

O posicionamento dos elementos de design é “crucial”. Enquanto ambos os jardins incorporavam elementos aquáticos, pedras, árvores e uma ponte, no jardim Murin-an o olhar do observador é guiado por elementos dispostos horizontalmente. Já no jardim da universidade, os objetos de maior interesse estão no centro do campo visual.
“O jardim Murin-an foi projetado como um jardim de observação que deve ser apreciado de um ponto de vista específico em relação aos elementos do projeto”, disse o Prof. Herrup. “É essa atenção aos detalhes que atrai o olhar para os padrões que aliviam o estresse.”
Fonte: Ciclo Vivo