O aterro sanitário localizado próximo à região do Ouro Verde, a cerca de 10 quilômetros de Brazlândia, voltou a chamar a atenção das autoridades ambientais após um novo deslizamento registrado na quarta-feira (18). Durante uma vistoria técnica, equipes que analisavam os impactos do incidente relataram tremores de terra, indicando a possibilidade de novos desmoronamentos na área.

O local, que recebe resíduos sólidos dos municípios de Padre Bernardo e Cristalina, está situado dentro de uma Área de Preservação Ambiental (APA) e opera sem licenciamento ambiental válido. Ainda assim, segue funcionando há cerca de seis anos, amparado por decisões judiciais. A administração do aterro é de responsabilidade de uma empresa privada.

Diante do risco iminente de contaminação, especialmente do Rio Descoberto — responsável por abastecer milhares de famílias no Distrito Federal e entorno —, técnicos da Gerência de Prevenção de Acidentes Ambientais foram deslocados para conter o avanço do chorume. Imagens recentes registram o líquido tóxico descendo encostas próximas ao rio, com potencial de afetar diretamente o fornecimento de água da região.

Para avaliar a extensão dos danos, drones têm sobrevoado a área afetada e levantado imagens que embasarão os laudos técnicos. As equipes também têm percorrido propriedades vizinhas e orientado os moradores sobre os riscos de contaminação. O chorume liberado contém metais pesados e representa uma grave ameaça à saúde humana e à biodiversidade local.

Além das medidas emergenciais, as autoridades estudam a responsabilização civil e criminal da empresa gestora do aterro. Paralelamente, tentam estabelecer diálogo com a prefeitura de Padre Bernardo em busca de soluções conjuntas.

A situação atual é reflexo de uma crise anunciada. O Ministério Público de Goiás (MPGO) informou que desde 2021 tenta interditar o funcionamento do aterro judicialmente, em parceria com o Ministério Público Federal (MPF). Uma ação civil pública chegou a ser ajuizada na Justiça Federal de Luziânia, alertando para a ilegalidade da operação na APA do Rio Descoberto.

Em março de 2025, uma decisão liminar chegou a suspender o envio de resíduos para o local e proibiu a participação da empresa em processos licitatórios, devido à ausência de licenciamento. Mesmo assim, denúncias continuaram a surgir. Inspeções relataram escoamento de chorume, peixes mortos, resíduos expostos ao ar livre, solo contaminado e até presença de animais domésticos entre o lixo — um retrato claro da negligência ambiental que se arrasta há anos.

Outros aterros do estado, incluindo os de Goiânia e Aparecida de Goiânia, também estão sendo monitorados com mais rigor diante do temor de que novas tragédias ambientais venham à tona.