A conta está ficando salgada para o governo federal: de janeiro a maio deste ano, a União teve que desembolsar R$ 370 milhões só para cobrir dívidas não pagas por Goiás com bancos e organismos internacionais. O estado, que faz parte do Regime de Recuperação Fiscal (RRF), representa 8,36% do total de R$ 4,42 bilhões bancados pelo Tesouro Nacional nesse período para honrar compromissos de estados e municípios.

Somente em maio, R$ 73,8 milhões foram repassados para cobrir parcelas inadimplidas de financiamentos contratados com aval da União. Goiás aparece entre os maiores devedores do país, atrás apenas de Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul — juntos, esses quatro estados são responsáveis por quase 97% de toda a fatura paga pela União neste ano.

Uma dívida que não para de crescer

A situação de Goiás está longe de ser novidade. Desde 2019, o Tesouro Nacional já precisou pagar R$ 5,73 bilhões para cobrir atrasos do estado. Em 2024, foram R$ 903 milhões e, no ano anterior, R$ 919 milhões. A maior parte dessas dívidas envolve contratos com o Banco do Brasil, Caixa Econômica, Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Antes mesmo de aderir formalmente ao RRF, Goiás já se beneficiava de decisões liminares do Supremo Tribunal Federal (STF), que impediram o bloqueio de receitas estaduais por inadimplência.

O problema é que, embora a União banque os calotes, a recuperação desses valores é baixa: desde 2016, foram pagos R$ 79,8 bilhões para socorrer estados e municípios, mas apenas R$ 5,7 bilhões retornaram aos cofres públicos — em grande parte por causa das regras do RRF, que adiam a cobrança das contragarantias.

A nova aposta: Propag

Na tentativa de virar essa página, o governo goiano protocolou, na última semana, um pedido formal de adesão ao Programa de Pleno Pagamento de Dívidas dos Estados (Propag). O plano prevê que o estado quite 20% da dívida consolidada — cerca de R$ 3,9 bilhões — com ativos próprios, como parte da dívida ativa e recursos ligados ao setor minerário, hídrico e créditos da Lei Kandir.

O novo programa federal, recém-lançado, busca oferecer condições mais suaves de renegociação para estados com alto endividamento que já passaram por programas de socorro, como o RRF. Se aprovado, Goiás poderá reduzir os juros sobre a dívida, ganhar um alívio de R$ 3 bilhões no teto de gastos e abrir espaço fiscal para novos investimentos.

O secretário estadual da Economia, Francisco Sérvulo, está otimista. A expectativa é de que a proposta seja aprovada até outubro, após análise técnica do Ministério da Fazenda, que tem até 60 dias para emitir um parecer.

Corrida contra o tempo (e contra os concorrentes)

Enquanto isso, a pressão política aumenta. Minas Gerais, que também enfrenta grave crise fiscal, já aprovou sua própria adesão ao Propag, forçando Goiás a acelerar os trâmites para ser o primeiro a fechar com o novo modelo.

No curto prazo, o estado continua protegido pelas regras do RRF, que suspendem a cobrança imediata das contragarantias. Mas a conta segue crescendo — e o caminho até um equilíbrio fiscal real ainda parece longo.