SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Rússia anunciou que os Estados Unidos suspenderam as negociações diretas para normalizar as relações entre as duas maiores potências nucleares do planeta nesta segunda (16). Nenhum motivo foi apresentado para a decisão, que pressiona o presidente Vladimir Putin.
“Esperamos que a pausa que eles fizeram não dure muito tempo,” disse a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, sem esconder a surpresa com a nova guinada de Donald Trump que coincide com a presença do americano na cúpula do G7 no Canadá, onde os sócios do clube das nações ricas poderiam cobrá-lo sobre sua posição sobre a Guerra da Ucrânia.
Desde que o republicano voltou ao poder, em janeiro, ele mudou completamente a política americana para a Rússia. Primeiro, estabeleceu contatos diretos com Putin, com quem já falou cinco vezes ao telefone desde então, e abriu canais de negociação em níveis técnicos.
Mais importante ainda, Trump retirou o apoio incondicional a Kiev na guerra provocada pela invasão russa de 2022, levando os rivais à mesa para conversar. O processo teve duas rodadas até aqui, bastante truncadas e com cheiro de impasse no ar.
Isso dito, o presidente americano seguiu mordendo e assoprando, ora lembrando que pode adotar sanções ainda mais duras contra a Rússia, ora ligando para Putin o que ocorreu de novo no sábado (14).
Na conversa, o tema central foi o ataque de Israel ao Irã, um aliado de Moscou. Trump disse que contava com Putin para agir como mediador para retomar as negociações nucleares entre Teerã e Washington, outro processo enrolado cuja estagnação foi uma das justificativas apresentadas por Tel Aviv para bombardear a teocracia persa.
Mas as discussões diretas entre Trump e Putin pareceram azeitadas, o que leva ao estranhamento da decisão desta segunda. Não há um cancelamento total: Zakharova disse que a próxima rodada de conversas havia sido suspensa.
Desde 18 de fevereiro, quando houve a primeira reunião direta entre russos e americanos desde a invasão da Ucrânia na Arábia Saudita, dois outros encontros ocorreram em Istambul, nos dias 27 de fevereiro de 10 de abril.
Não são conversas fáceis, dado que os EUA, ao lado de países europeus, são os promotores das sanções que asfixiam a economia russa desde o início do conflito. O porta-voz de Putin, Dmitri Peskov, já havia dito que não é o caso de esperar avanços rápidos e significativos.
Mas ele sempre celebrou a retomada das conversas, ora parada. Entre os temas estão, claro, as punições a Moscou, a questão de ativos russos congelados no exterior, a retomada de relações diplomáticas integrais, com volta de pessoal às respectivas embaixadas e consulados, a reabertura de voos e comércio entre os países.
A suspensão pode ser uma forma de pressão sobre Ucrânia. Escanteado do noticiário pela guerra Israel-Irã, o conflito na Europa segue se desenrolando. No fim de semana, o presidente Volodimir Zelenski disse que havia contido o ímpeto russo na região de Sumi (norte), mas ao mesmo tempo houve avanços de Moscou no leste e sul do país.
Ainda há expectativa sobre a retaliação de Putin pelo ataque com drones infiltrados na Rússia contra a sua frota de bombardeiros estratégicos. Depois de duas semanas violentas, a guerra aérea contudo arrefeceu um pouco.
O que não mudou foi o status das negociações, paradas desde que russos e ucranianos entregaram condições por escrito para debater a paz que são consideradas inexequíveis de lado a lado.
Segundo um observador da política russa disse à Folha, comentando o caso apenas com os dados iniciais, além da casualidade do G7, há a possibilidade que Trump resolveu apertar um pouco Putin em um momento global de “power politics”, ou a política da força no caso, a decisão israelense de atacar o Irã sem forças dos EUA a seu lado.