SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Neste domingo (15), no auditório da Feira do Livro, que acontece em São Paulo, o escritor Peter Pál Pelbart leu uma carta aberta aos judeus como ele, denunciando violências do Estado de Israel e fazendo um apelo para que não sejam submissos ao governo israelense.

A escritora portuguesa Alexandra Lucas Coelho, que vem direto de uma manifestação contra o genocídio em Gaza na praça Roosevelt para a mesa mediada no evento por Eduardo Sterzi, acrescentou: “Felizmente, muitos judeus insubmissos atravessam o meu livro”.

Coelho veio à Feira falar de sua obra “Gaza Está em Toda Parte”. O título, segundo ela, não foi uma decisão consciente de fazer referência ao livro do alemão Günter Anders, “Hiroshima Está em Toda Parte”, apesar da familiaridade da escritora com o trabalho de Anders.

“Não existe paralelo da situação da Palestina com nada no planeta”, diz. “Gaza já foi um campo de concentração em um passado recente. Agora, é um campo de extermínio.”

A intenção da jornalista portuguesa com esse livro é, segundo suas palavras, partilhar os horrores praticados contra o povo palestino no Oriente Médio.

“Esse livro pode ser visto como uma crônica em tempo real do genocídio que estamos todos vendo, apesar de os maiores horrores estarem sendo cometidos às escuras. As imagens são piores do que estamos vendo, e já estamos vendo coisas que nunca havíamos visto”, afirmou.

A jornalista apontou falhas na cobertura do conflito pela imprensa. “O jornalismo ocidental foi e está sendo cúmplice do Estado de Israel. Isso é absolutamente devastador para o mundo.”

Perguntada sobre sua opinião sobre o posicionamento do presidente Lula, que defende a coexistência de um Estado de Israel e outro palestino, Coelho foi categórica. “A solução de dois Estados é inviável. O governo de Israel hoje trata palestinos como algo que vale menos que animais. Eu não acredito em um futuro para Israel”, disse.

Um pouco antes, no palco Petrobras, a também escritora portuguesa Lídia Jorge lançava “Misericórdia”, romance marcado pela experiência do luto e pelo cuidado com os mais vulneráveis, em mesa mediada por Luana Chnaiderman.

A obra surgiu de um apelo da mãe da autora, então internada em um lar para idosos: “Escreve para que as pessoas tenham compaixão daqueles que perdem sua autoestima”.

Após a morte da mãe, Jorge escreveu o livro como forma de elaborar “um luto feito a partir de um triunfo sobre a morte”. Segundo ela, não se trata de uma narrativa melancólica, mas de combate. “Enquanto alguém falar por nós, resistimos”, afirmou.

Para a autora, “Misericórdia” é uma extensão do poema que Dylan Thomas escreve ao pai: “Raiva! Raiva! Raiva! Não entres tão depressa nesta noite tranquila”.

Na mesma tarde, a jornalista Bianca Santana falava de seu livro infantil “Quem Limpa?” em conversa no Tablado Literário mediada pelo jornalista Tiago Pechini.

A obra é uma explicação para crianças sobre o trabalho doméstico, “um tema muito interessante para pensar a desigualdade”, segundo ela.

A resposta para a questão apontada pelo título do título surge muito facilmente para Santana: “Quem limpa no Brasil são as mulheres negras”.

A jornalista faz referência à escritora italiana Silvia Federici, que estuda a divisão sexual do trabalho. “Na transição para o capitalismo, o trabalho passa a ser remunerado, mas não o doméstico. No caso do Brasil, após a abolição da escravatura, o trabalho doméstico passou a tornar-se fonte de renda quase exclusiva das mulheres negras”, apontou.