SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Previsto para as próximas reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central), o fim do ciclo de alta da Selic traz boas oportunidades de investimento na renda fixa, apontam gestores.
Enquanto os instrumentos pós-fixados perdem atratividade, os prefixados e híbridos podem oferecer retornos acima da média.
O que pode soar contraintuitivo diz respeito a uma janela descompassada entre os juros futuros e as taxas esperadas por economistas. Por exemplo, o contrato de juro com vencimento em 2027 é negociado a cerca de 14%, ao passo que a pesquisa Focus aponta uma Selic de 10,50% em dois anos. Caso este cenário se concretize, é possível travar um rendimento com base nesses 14% comprando um título atualmente e ter um ganho maior do que o CDI (Certificado de Depósito Interbancário) previsto.
Atualmente, a Selic está a 14,75% ao ano. A expectativa de boa parte do mercado financeiro é que ela suba para 15% na reunião do Copom desta quarta (18) e permaneça neste patamar até o fim de 2026, quando começaria a baixar.
Porém, os juros futuros não precificam essa queda esperada por economistas. Segundo analistas, é aí que pode morar uma oportunidade.
“Perto do fim do ciclo de alta de juros é um bom momento para investir em títulos prefixados ou títulos indexados à inflação”, diz Roberto Elaiuy, gestor de renda fixa da Kinea Investimentos.
O título prefixado do Tesouro Direto com vencimento em 2028 oferecia, na última sexta-feira (13), um retorno de 13,63%. O título para 2032 pagava 13,87%. Já o Tesouro IPCA+ (NTN-B), que combina um juro prefixado com a variação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) no período, está com taxa acima de 7%.
Ao fim de março, esse retorno estava maior. Prefixados pagavam cerca de 15%, e os híbridos, IPCA mais 8%. Conforme a inflação perdeu força, a economia global deu sinais de desaceleração e o dólar passou a cair, os juros futuros foram baixando e a rentabilidade acompanhou.
No entanto, analistas apontam que os retornos ofertados ainda são atrativos. Segundo a expectativa de economistas consultados pela pesquisa Focus, no próximo ano a Selic cairá a 12,50% e, em 2027, a 10,50%. Em 2028, iria a 10%.
“É um momento ímpar. Hoje temos taxas extremamente atrativas no prefixado e no IPCA+, mas o pós-fixado ainda é uma ótima escolha. Hoje, temos um juro real que jamais foi visto”, diz Julio Ortiz, sócio-fundador e CEO da CX3 Investimentos.
Juro real é a taxa que excede a inflação -atualmente, ele está na faixa dos 9%. “É muito alto, vai pegar na atividade econômica. Só por essa métrica o Banco Central deveria interromper esse ciclo extremamente contracionista”, diz Elaiuy, da Kinea.
Segundo analistas, a janela, porém, pode se fechar rapidamente, ou reabrir, a depender das próximas reuniões do Copom.
“A mudança macroeconômica ainda não aconteceu. Depende muito da mensagem do comunicado e da ata”, diz Pedro Rudge, sócio-fundador da Leblon Equities e diretor da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
“É uma janela interessante. Se a pessoa acha que a curva de juros vai fechar, NTN-Bs e títulos prefixados são boas opções. Mas, para essa avaliação, há profissionais que passam o tempo todo debruçados sobre isso”, diz Lucas Pereira, gestor de renda fixa da AMW.
Para o investidor comum, pode ser difícil avaliar o cenário e ter tempo hábil de aproveitar as oportunidades do mercado. Além disso, títulos prefixados e híbridos não são indicados para os mais conservadores, já que, para resgatar o exato retorno contratado, é preciso esperar até o vencimento -e aguentar as oscilações na tela da corretora. Fora que, se o cenário macreconômico mudar, o que não é raro, ele pode contratar uma rentabilidade abaixo do CDI.
Para quem tem mais apetite para o risco, eles são boas opções na composição da carteira de renda fixa, dizem especialistas, assim como os fundos de investimento.
Os fundos que navegam a renda fixa diariamente são os fundos de gestão ativa. Ou seja, eles não seguem um índice de forma passiva, mas operam de modo a aproveitar as ondas do mercado.
“O investidor de varejo não se antecipa, ele se movimenta depois que a performance acontece. Enquanto os fundos não performam acima do CDI, o investidor posterga essa migração”, diz Elaiuy, da Kinea.
No entanto, tais fundos também não são indicados para investidores conservadores, já que o valor da cota muda diariamente, conforme os movimentos do mercado. Além disso, o custo é mais elevado, com taxas de administração e de performance, quando eles excedem o CDI.
Ultimamente, porém, a maioria dos fundos perde para a Selic. O fraco desempenho, segundo gestores, é fruto de diversos fatores: maior competição de títulos isentos do Imposto de Renda, Selic muito alta e aversão a risco global.
Dentre os que superam o CDI, destacam-se os fundos que investem em crédito privado, como debêntures e direitos creditórios, e em títulos públicos, segundo levantamento da Mais Retorno. É o caso dos cinco mais rentáveis dos últimos 12 meses. Todos renderam mais que o CDI acumulado no período, de 11,8%.
“Em geral, os fundos com mais crédito privado são mais arriscados, o que pode gerar mais volatilidade”, diz Guilherme Almeida, diretor de renda fixa na Suno Research.
Um fundo institucional da Genial, de crédito privado, foi o campeão, com alta de 42%, exemplificando a máxima do mercado de que quanto maior o risco, maior pode ser o retorno.
Já o Rio Bravo Estratégico, com foco em NTN-Bs, subiu 18%. O IMA-B, índice da Anbima que calcula a média de rentabilidade desses títulos, teve um ganho de 5% no mesmo intervalo (somando com a inflação, 10,5%).
Especialistas ressaltam, entretanto, que tais resultados não garantem uma performance futura.
“O investidor deve avaliar a performance passada no longo prazo para ver como o gestor navega sob diferentes momentos macroeconômicos, especialmente os de maior volatilidade e estresse”, diz Almeida.
Ele também diz que o perfil do investidor deve pesar mais na escolha do que o fundo em si.
“É preciso refletir qual o intuito de procurar um veículo como esse. Se ele tem conhecimento e disponibilidade para gerir os próprios investimentos, pode ser mais vantajoso. Alocando diretamente nos ativos se elimina alguns custos. Agora, se isso não for possível, os fundos de gestão ativa são boas opções para perfis mais moderados caso eles queiram superar o CDI”, afirma Almeida.
O recomendado é também comparar fundos de estratégias semelhantes entre si, olhando para as taxas. Em seguida, é preciso ler a lâmina ou o prospecto do fundo de investimento para avaliar se a estratégia se encaixa na carteira do investidor.
AS 5 MAIORES VALORIZAÇÕES DE FUNDOS DE RENDA FIXA NOS ÚLTIMOS 12 MESES
_Fonte: Mais Retorno_
1. Institucional CP FI RF – 41,7%
2. CSHG Roka Himalaia FIC FIF RF Infra CP RL – 21,2%
3. Rio Bravo Estratégico – 18,1%
4. Kadima RF Ativa FI Financeiro RF LP RL – 17,6%
5. Bram FI RF CP Credit High Yield – 17,0%