SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, vai comparecer à reunião do G7 que começa neste domingo (15) envolvido em disputas com quase todos os países do bloco, que reúne Washington e mais seis das economias mais desenvolvidas do mundo todas consideradas aliadas tradicionais dos EUA.
A cúpula do G7 acontece na cidade de Kananaskis, no Canadá, um país que Trump quer ver anexado ao seu uma ameaça que repetiu durante visita do premiê Mark Carney à Casa Branca. Os outros membros do grupo, além da União Europeia, são o Reino Unido, a França, a Alemanha, a Itália e o Japão. Todos são países contra os quais Trump conduz sua guerra tarifária e negocia novos acordos comerciais.
Além de ser a primeira reunião do grupo desde o início do segundo mandato de Trump, este também deve ser a primeira cúpula do G7 na qual a presença dos Estados Unidos é motivo de dor de cabeça para outros líderes.
Desde que voltou à Casa Branca, o republicano tem se ocupado de dinamitar as relações tradicionais entre Washington e as capitais europeias intensificando uma corrida armamentista no continente, à medida que países como a Alemanha buscam uma arquitetura de segurança independente da Otan, a aliança militar ocidental frequentemente criticada por Trump.
O republicano deve ter uma série de reuniões bilaterais durante a cúpula, e ainda não se sabe se a dinâmica vista no Salão Oval da Casa Branca, onde Trump transformou encurralar líderes estrangeiros em esporte, se repetirá um encontro entre o republicano e o presidente ucraniano Volodimir Zelenski, um dos convidados para a cúpula do G7, ainda não está confirmado.
Desde que o presidente americano e seu vice, J. D. Vance, constrangeram o ucraniano em audiência transmitida ao vivo, no fim de fevereiro, outros líderes se viram pressionados e humilhados por Trump em seu alçapão no Salão Oval. A última vítima foi o presidente sul-africano, Cyril Ramaphosa, em maio, quando foi grosseiramente inquirido sobre um fantasioso genocídio branco em seu país. A argumentação de Trump, com filmes e documentos, era baseada em fake news, mostrou-se depois.
Os participantes da cúpula do G7 também devem discutir novas sanções contra a Rússia pela invasão da Ucrânia outro ponto no qual o apoio dos EUA já não é mais garantia.
Altas autoridades da Alemanha tem dito à imprensa do país, sob reserva, que a reunião será uma oportunidade para medir a disposição de Trump em relação a novas medidas contra o Kremlin depois de declarações públicas do republicano expressando frustração com o impasse entre Moscou e Kiev. A União Europeia anunciou esta semana mais um pacote de medidas econômicas contra a Rússia de Vladimir Putin, impondo sanções contra o sistema financeiro e energético do país.
Também estarão presentes, como convidados, a Índia, o México e o Brasil, entre outros. O presidente Lula (PT) deve comparecer, assim como a presidente mexicana, Claudia Sheinbaum quem decide quais serão os países convidados é o país anfitrião, neste caso, o Canadá, governado pelo premiê de centro-esquerda Carney. Ainda não se sabe se Sheinbaum terá uma reunião bilateral com Trump.
Como a Folha mostrou, também não há previsão de encontro de Lula com o presidente americano. Auxiliares do presidente preveem uma participação do petista com ênfase no tema da transição energética e sem embates diretos com o republicano.
Um cenário em que Lula discurse para uma plateia na qual estará Trump é visto como oportunidade por alguns aliados do petista. Na visão deles, o brasileiro se fortaleceria diante de sua base política caso se coloque como um antípoda do americano. Essa ala diz, reservadamente, que Lula poderia dar recados, mesmo que velados, para fortalecer sua posição como um líder que se opõe à linha de Trump.
A hipótese de um embate direto, no entanto, é encarada como pouco provável por um outro grupo de auxiliares, que diz que esse tipo de abordagem mais agressiva não segue a forma como Lula atuou em outras cúpulas do G7. Ele foi convidado para o encontro do grupo de 2023, em Hiroshima (Japão), e no ano seguinte, em L’Áquila (Itália).
Um aliado cita o caso do G7 na Itália, em que Javier Milei estava entre os presentes e nem por isso Lula personalizou seu discurso no presidente argentino, que se opõe a ele.
Na ocasião, o petista usou suas intervenção para destacar os objetivos da presidência brasileira do G20 bloco de economias industrializadas e emergentes do globo e para defender uma governança internacional da inteligência artificial.