SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O tom da grande maioria dos imigrantes que o UOL ouviu nos últimos dias é de medo. Apesar de autoridades afirmarem que o risco não existe, ser deportado diretamente dos estádios que vão receber partidas do Mundial de Clubes da Fifa é um risco que todos temem.

“Muita gente local está vendendo os ingressos por medo de ir nesses locais”, admite Claiton Vieira, torcedor do Flamengo, que tem documentação para morar nos EUA.

Em um grupo de 300 palmeirenses que moram nos EUA, os membros trocam informações sobre imigração durante todo o dia, compartilhando eventos, análises e temores. O tom é o mesmo: ninguém duvida que o governo americano possa usar o futebol, tradicionalmente um esporte latino por lá, para buscar quem não está legalizado.

“Estão deportando até quem está fazendo o processo de imigração legalizado, para ninguém pegar o green card. E estão agindo na covardia: ficam à paisana, para ninguém saber e não começar um protesto. Como se fossem policiais civis. Para poder prender quem eles querem, sem alarde. Todo mundo está com medo de ir aos jogos por causa disso”, disse outro brasileiro, torcedor do Fluminense, que, apesar de ter o green card, pediu para não ser identificado.

“A gente nota esse receio através dos grupos de zap, Facebook”, completa Vieira, que tem uma opinião um pouco menos caótica sobre o risco. “É fato que os agentes de imigração vão estar presentes nos estádios, mas vão estar pra ajudar na segurança, não vão checar o status imigratório das pessoas. Até porque fica inviável checar o status de mais de 50 mil pessoas”.

Nos últimos dias, em cidades como Los Angeles e Nova York, pessoas foram às ruas para protestar contra a política de imigração do presidente Donald Trump. A reportagem presenciou movimentações em NY e na Filadélfia, pacíficos. Na Califórnia, a violência é um problema há duas semanas.

Na Flórida, onde o UOL também tem jornalistas enviados para o Mundial de Clubes, o clima é de tranquilidade – o estádio da abertura (o Hard Rock Stadium terá hoje, às 21h Inter Miami x Al Ahly) deve estar cheio, mas mais por causa de uma promoção para estudantes do que por interesse no torneio.

Hoje, o The New York Times publicou que a administração Trump recuou na postura agressiva de deportações. Um memorando teria sido enviado pedindo para evitar batidas em hotéis, restaurantes e até fazendas.

“Cada país tem suas políticas próprias. Para a Fifa, queremos a união. Torcedores do mundo inteiro virão aos EUA e irão ao México e ao Canadá (sedes da Copa de 2026). Como sempre, antes do Mundial se falam de muitos temas, mas quando tudo começa, é uma festa”, disse Gianni Infantino, presidente da Fifa, no início da semana.

A reportagem entrou em contato com a Fifa e questionou sobre o temor dos torcedores e se há algo que a entidade possa fazer. Quando receber uma resposta, a matéria será atualizada.