BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – A ex-presidente Cristina Kirchner disse que irá se apresentar no tribunal de Comodoro Py na próxima quarta-feira (18), quando termina o prazo para que ela comece a cumprir a pena de seis anos confirmada pela Suprema Corte argentina.

“Não somos a direita mafiosa que se esquiva de ordens judiciais, foge por três anos e, ao retornar, consegue que o Partido Judicial os proteja e, além disso, os absolva”, escreveu a peronista nesta sexta-feira (13), em sua conta no X, em referência a um assessor do ex-presidente Mauricio Macri.

“Por isso, na próxima quarta-feira, dia 18 de junho, comparecerei em Comodoro Py para comparecer perante o tribunal, como sempre faço”, seguiu a líder do PJ (Partido Justicialista), confirmando que se apresentará quando se encerra o prazo de cinco dias úteis dado pela Justiça para que ela se apresente.

Cristina justificou o pedido de prisão domiciliar protocolizado por sua defesa, apontando que ele tem razões pessoais e institucionais. Além de solicitar que a política cumpra a sua pena em casa, os advogados dela também pedem que ela não use tornozeleira eletrônica.

A defesa tenta que a autorização para a prisão domiciliar seja concedida antes que se encerre o prazo de cinco dias, para que Cristina não precise passar nenhum dia detida em algum dos locais que serão indicados pelo Ministério de Segurança Pública à Justiça.

“Fui presidente por dois mandatos consecutivos e, de acordo com a regulamentação atual, devo ter a guarda vitalícia: é obrigatória e não posso retirá-la voluntariamente. Essa guarda se deve aos riscos a que estão expostos aqueles que ocuparam os mais altos cargos”, disse Cristina.

Do ponto de vista pessoal, ela relembrou ter sido vítima de uma tentativa de assassinato em 2022, na porta de sua casa, enquanto era vice-presidente.

“A gravíssima tentativa de atentado não se concretizou. ‘A bala não saiu’ por um verdadeiro e autêntico milagre, pelo qual sempre agradecerei a Deus. Os autores do crime são conhecidos e estão sendo julgados, mas o Partido Judicial se recusou a avançar em relação aos mandantes e financiadores.”

Cristina também lançou um novo ataque aos juízes, chamando-os de “triunvirato fantoche” e sugerindo que suas decisões afetam a vontade popular. A ex-presidente pretendia se candidatar a uma vaga de deputada na província de Buenos Aires, nas eleições que ocorrem em setembro.

Com a decisão do Supremo, Cristina Kirchner perde o direito de se candidatar pelo resto de sua vida, a menos que receba um indulto presidencial.

A condenação está relacionada ao caso Vialidad, que se refere a decretos assinados pela ex-presidente que permitiram ao empresário Lázaro Báez, próximo ao casal Cristina e o também ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007), assumir 51 contratos rodoviários, o que teria ocorrido com a anuência dela.

Cristina foi presidente da Argentina por dois mandatos (2007-2015). Mais recentemente, foi vice de Alberto Fernández (2019-2023) e, desde o início do governo de Javier Milei, não ocupa cargos públicos.

A política foi condenada por administração fraudulenta em prejuízo do Estado, com a pena máxima prevista para esse delito.

Após a confirmação da condenação, Cristina pretende levar o caso a tribunais e organizações internacionais. A defesa tem seis meses para apresentar uma petição à Comissão Interamericana de Direitos Humanos.

Ainda na segunda (9), antecipando-se à decisão do Supremo, o advogado Gregorio Dalbón confirmou ter apresentado um documento ao Tribunal Penal Internacional por suposta “perseguição política” contra ela.

Nos últimos dias, desde que o Supremo se manifestou sobre a causa Vialidad, milhares de manifestantes têm se reunido na frente da casa de Cristina, lançando gritos de apoio e cânticos peronistas. A ex-presidente aparece na varanda de seu apartamento, ao menos uma vez por dia, e acena para os militantes, o que tem incomodado os adversários dela.

Na quinta-feira (12), manifestantes bloquearam rodovias nas imediações de Buenos Aires e também armaram um acampamento de protesto em frente à sede da Suprema Corte, no centro da cidade. Lideranças do peronismo também estudam mobilizar uma marcha de apoio para o dia previsto para a prisão de Cristina.