SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A promessa de modernizar o acesso ao transporte público em São Paulo esbarra em um problema recorrente: as falhas na leitura de bilhetes de QR code (“código de resposta rápida”, em português) nas catracas de acesso a estações de trem e metrô.

Lançado em dezembro de 2020, o modelo substituiu os antigos bilhetes magnéticos de papel, conhecidos como Edmonson. A mudança visava facilitar o trajeto dos usuários e diminuir custos com logística, distribuição e armazenamento dos bilhetes.

Com o fim de bilheterias em algumas estações do Metrô e da CPTM, em 2021, as passagens começaram a ser vendidas principalmente por aplicativos e máquinas de autoatendimento.

Hoje, são emitidos mais de 500 mil bilhetes de QR code por dia em São Paulo, segundo a Autopass, empresa responsável pela gestão da bilhetagem eletrônica.

Questionada sobre as falhas, a empresa informou que acontecem devido ao “armazenamento inadequado” dos bilhetes.

Impressos em papel térmico –o mesmo utilizado para as notas fiscais nos comércios– os QR codes são sensíveis ao calor e umidade e, por isso, têm vida útil curta. Guardados em uma carteira, acabam amassados ou desbotados.

Outros motivos, segundo a Autopass, incluem atualizações sistêmicas nas catracas, leitura dos bilhetes no local incorreto da catraca ou, no caso dos bilhetes digitais, pouca iluminação da tela do celular.

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Francisco Antônio, 33, diz ter problemas com a leitura dos QR codes físicos quase diariamente em seu trajeto entre Franco da Rocha, município na região metropolitana de São Paulo, e estações da CPTM como Lapa, Brás e Barra Funda, em São Paulo.

“As falhas atrapalham tudo. Para quem é trabalhador, pega o último trem da noite, é pior ainda”, diz.

Para Eduardo Rezende, 46, as falhas na leitura são mais frequentes em horários de pico.

O supervisor de serviços da prefeitura costuma comprar os QR codes via aplicativo, para ir ao trabalho. Mas, se a primeira leitura falha, o bilhete digital fica inválido. “Em várias ocasiões já tive que sair da estação para acessar o aplicativo e comprar outro bilhete, já que dentro não costuma ter rede”, diz.

Procurados, Metrô e CPTM afirmam que, em caso de falhas, os colaboradores são instruídos a auxiliar o passageiro na impressão de um novo QR code, de forma gratuita.

No entanto, Rezende diz que é difícil conseguir ajuda dos agentes durante os horários de maior lotação.

“Quando dá erro [na leitura], a conduta mais comum dos agentes é liberar o acesso dos passageiros com o próprio cartão”, relata o músico Lucas Marquezin, 28. Segundo ele, o problema às vezes é com apenas uma das catracas, e funciona tentar passar em outra antes de pedir ajuda.

Os bilhetes QR code são vendidos desde 2020 em formato digital –no aplicativo TOP e no canal da Autopass no WhatsApp– e físico, nas máquinas de autoatendimento e pontos de venda parceiros. Custam R$ 2,60 para estudantes (mediante comprovação) e R$ 5,20, a tarifa básica desde janeiro de 2025.

Em março deste ano, o Metrô anunciou a venda do estoque de bilhetes Edmonson que restaram após a mudança para os QR codes. A campanha “É verdade esse bilhete?” nas redes sociais recebeu comentários de usuários pedindo a volta dos bilhetes magnéticos e criticando os problemas do modelo em QR code.

Segundo a companhia, a comercialização do Edmonson não foi descontinuada, apenas reduzida, e ainda representa 4% das vendas anuais.