BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um mês e meio após ser lançada no Congresso com discurso de oposição, a federação entre União Brasil e PP convocou uma entrevista coletiva nesta quarta-feira (11) para acusar o governo Lula de colocar o país em uma “rota sem saída” de “escalada do desequilíbrio fiscal”.

O ato contou com a presença dos presidentes das duas siglas e com diversos parlamentares.

O PP tem 1 ministério (Esporte) e o União Brasil, 3. Entre eles o Turismo, cujo titular, Celso Sabino, falava sobre projetos de sua pasta em uma comissão da Casa a poucos metros dali, no mesmo instante do ato contra o governo.

Petistas afirmaram, em caráter reservado, considerar Lula alheio aos problemas em sua base de apoio no Congresso, envolto em viagens internacionais que tiveram como destino recente a França e o Principado de Mônaco, com próxima parada já definida: o Canadá, para encontro da cúpula do G7.

A entrevista coletiva convocada por União Brasil e PP teve como objetivo afirmar que as bancadas das duas siglas irão “fechar questão” contra a proposta do governo de aumento de impostos com o objetivo de compensar o recuo nas medidas do IOF —mesmo antes de o texto ser apresentado oficialmente.

O presidente do União Brasil, Antonio Rueda, afirmou que “a escalada de desequilíbrio fiscal, criada pelo atual governo, entrou em uma rota sem saída” e que “taxar, taxar, taxar, não pode e não será nunca a saída”.

União Brasil e PP —cuja federação ainda em processo de formação se chama União Progressista— têm 109 deputados federais e 14 senadores.

Além de Rueda, estavam na entrevista o vice-presidente do partido, ACM Neto, e o líder da bancada na Câmara, Pedro Lucas Fernandes (MA) —responsável por recusar o Ministério das Comunicações após resistência interna na bancada.

Do lado do PP, estava o presidente da sigla, o senador Ciro Nogueira (PI), além do líder da bancada na Câmara, Dr. Luizinho (RJ), entre vários outros parlamentares.

Como mostrou a Folha de S.Paulo, apesar do aparente discurso majoritário fiscalista, o Congresso, dominado pelo centrão, mantêm paradas há meses propostas do governo com o objetivo de cortar gastos, além de aprovar aumento de despesas no Legislativo.

Entre outros, os projetos para coibir os supersalários na administração pública e o que endurece as regras de aposentadoria dos militares. Além disso, o Congresso foi responsável por elevar o gasto com emendas parlamentares nos últimos anos de menos de R$ 20 bilhões para mais de R$ 50 bilhões ao ano.

Em resposta ao ato da federação, o líder da bancada do PT, Lindbergh Farias (RJ), também chamou uma entrevista para defender o governo e afirmar que as elites e os parlamentares críticos estariam buscando blindar super-ricos e empresários em detrimento da população mais pobre.

Um vice-líder do governo diz que auxiliares de Lula não estão repassando ao presidente da República o grau de insatisfação dos parlamentares e o tamanho do que ele classifica como uma crise. Esse mesmo aliado do Executivo diz que a percepção generalizada entre parlamentares é a de que Lula e o Palácio do Planalto estão desconectados da realidade.

Apesar de governistas enxergarem um nível desproporcional das críticas dos parlamentares neste momento, eles reconhecem que, enquanto não houver um esforço do governo para pagar as emendas parlamentares, nenhuma matéria de interesse do Planalto será analisada em plenário.

Nesse sentido, há um temor entre esses aliados do Planalto de que isso possa prejudicar o andamento de outras propostas consideradas prioritárias para o governo até o início do recesso parlamentar (em meados de julho). Eles citam medidas como a isenção do pagamento de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 e a PEC da Segurança Pública.

Também nesta quarta-feira o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), viu encerrada a sessão da Comissão de Finanças e Tributação, da qual participava, após bate-boca com bolsonaristas.

Ele acusou parlamentares da oposição —os deputados Carlos Jordy (PL-RJ) e Nikolas Ferreira (PL-MG)— de fazerem molecagem ao atacar o governo e não ficarem na sala para ouvirem a resposta.

A afirmação do ministro e a reação dos parlamentares de oposição desencadearam uma sequência de bate-bocas, o que levou o presidente da comissão, Rogério Correia (PT-MG), a encerrar a reunião.

De acordo com sua agenda, Lula se reuniu pela manhã desta quarta com Haddad, a chefe de sua articulação política, Gleisi Hoffmann, o secretário de Comunicação Social, Sidônio Palmeira, além dos líderes do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e no Congresso, o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP).

À tarde, só havia previsão de uma nova reunião com Sidônio.

No início da noite, o presidente publicou uma foto ao lado do cantor Ney Matogrosso e da primeira-dama, Janja. “Querido Ney, recebê-lo nessa tarde trouxe muita alegria para mim e para @JanjaLula. Você é essa pessoa especial que encanta pela força da sua arte e da sua história”, escreveu o petista na publicação.