SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A companhia teatral Mungunzá, que criou e administra o Teatro de Contêiner, na Luz, deve entregar nos próximos dias para gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) duas propostas para sua permanência no terreno público que ocupa desde 2016.
A Prefeitura de São Paulo notificou os artistas no fim do mês passado para que entregassem a área num prazo de 15 dias.
O prazo se encerrou na segunda-feira (9), e as integrantes do coletivo Tem Sentimento, que foi acolhido pelo teatro, estão em vigília durante a noite para evitar o despejo.
A prefeitura afirma que precisa do terreno para a construção de um “hub de moradias sociais”. Os artistas lembram que, neste ano, a prefeitura já derrubou o teatro Vento Forte, que era tombado e funcionava dentro do parque do Povo, no Itaim Bibi.
Junto com o arquiteto Luiz Henrique Boschi Grecco, que já trabalhou com a companhia em outros momentos, foram criadas as duas opções para a ocupação do terreno, que fica numa área para onde a cracolândia se deslocou nos últimos anos. No mês passado, após um esvaziamento do principal ponto de concentração, na rua dos Protestantes, os usuários voltaram a se espalhar pela região central da cidade.
Em uma delas, o teatro permanece onde está e é construída uma praça no restante do terreno, com arquibancadas, um espaço para apresentações ao ar livre, quadra, playground e o plantio de novas árvores. “Se a prefeitura concordar com esse projeto, a gente se compromete a fazer toda a zeladoria do espaço”, afirma Marcos Felipe, um dos atores da companhia.
A outra possibilidade inclui um prédio com um vão livre no térreo, que permitiria a manutenção do teatro e a construção de áreas de lazer, como quadra e playground, ao lado do prédio. “O projeto teria uma laje de 224 metros quadrados, o que significaria uma área de 200 metros quadrados a ser distribuída entre as unidades habitacionais por andar”, diz Grecco.
No projeto, ele sugere que o prédio tenha seis andares, com base na altura da maioria dos edifícios da região. “A manutenção da praça atende ao conceito de que habitação não se resume a ter um teto, mas em criar áreas de convivência, cultura e lazer para as pessoas”, diz o arquiteto. “O projeto seria também um respiro para quem vive em volta também”, completa.
Marcos Felipe destaca que muitos prédios em volta estão atualmente com o comércio projetado para o térreo vazio e protegido por tapumes. A instalação do fluxo, como é chamada a concentração de usuários, e de uma tenda da saúde também afastou as crianças que antes brincavam em um playground construído pela companhia. “Cerca de 50 crianças frequentavam aqui todos os dias”, afirma.
O conceito do teatro junto com uma praça no mesmo terreno é uma reivindicação histórica do grupo. Eles chegaram a entregar um projeto para a prefeitura em 2019, com a construção de um espaço de lazer e cultura, que funcionaria no mesmo terreno, do lado oposto ao teatro. A ideia incluía ainda um espaço para a instalação de um circo.
A proposta previa também a manutenção do prédio, onde funcionou um hotel no passado, como um centro de formação e atendimento com várias entidades sociais. “Seria uma versão orgânica da cidade que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) anunciou recentemente com o nome de Casa Zero 11”, diz o ator.
O prédio, que não é tombado, foi preservado na gestão do prefeito Gilberto Kassab (na época no DEM, hoje no PSD), quando foi iniciado o projeto Nova Luz. Na ocasião, a prefeitura considerou que o edifício poderia ser preservado por razões estéticas.
A área de lazer não é uma demanda apenas do grupo. No mês passado, o vice-prefeito Mello Araújo (PL) chegou a prometer a comerciantes da Santa Efigênia e moradores da região que iria atuar dentro da administração municipal para que no local fosse construída uma praça para o lazer das famílias da região.
A prefeitura chegou a propor a mudança do grupo para um terreno na rua Conselheiro Furtado, 150, na Liberdade. Além de não haver espaço para a montagem dos contêineres na disposição atual, os artistas dizem que o imóvel iria retirá-los da região onde atuam. O projeto é premiado nacional e internacionalmente por seu padrão arquitetônico.