CURITIBA, PR (FOLHAPRESS) – A antiga casa do escritor curitibano Dalton Trevisan, morto em dezembro, vai virar um espaço cultural dedicado à obra do contista. O anúncio foi feito pela prefeitura de Curitiba nesta quinta-feira (11) e envolve uma parceria com a Construtora Hugo Peretti, dona do terreno onde está localizada a mítica residência. O contista completaria 100 anos neste sábado (14).
A construtora vai erguer no terreno um condomínio residencial e a casa será repassada à Fundação Cultural de Curitiba, que ficará responsável pela gestão do espaço e pelo atendimento do público. Não foi divulgada uma data prevista de inauguração do local.
O imóvel tem cerca de 168 metros quadrados e é uma construção antiga, da década de 1920, cravada em uma esquina, no encontro das ruas Ubaldino do Amaral e Amintas de Barros, no Alto da Quinze, um bairro central e de classe média. A casa já é tombada como UIP, a Unidade de Interesse de Preservação, pelo município.
Trevisan viveu ali durante 68 dos seus 99 anos. Mas, em 2021, após um assalto mais violento, e com um acúmulo de problemas típicos de imóvel antigo, ele se mudou para um apartamento e a casa foi vendida.
“Começou a pandemia, o centro ficou vazio, ele ganhou o Camões, o Machado de Assis, os valores dos prêmios foram amplamente noticiados, aí mostravam a casa de esquina, onde ele morava sozinho. Ele estava muito vulnerável”, contou Fabiana Faversani em entrevista à Folha no ano passado.
Amiga de Trevisan e agente literária, Fabiana foi responsável nos últimos 20 anos por organizar a obra dele.
“Ele nunca tinha morado em apartamento e estava resistente, mas ele depois gostou, ficou bem. Era um apartamento antigo, com cômodos grandes, piso de taco, pé direito alto. Um imóvel antigo”, disse ela.
A nova moradia permaneceu central, na alameda Doutor Muricy, perto da Biblioteca Pública do Paraná e da praça Tiradentes, uma das regiões mais movimentadas de Curitiba. “Perto de personagens dele, da Cruz Machado”, lembrou Fabiana.
No mesmo prédio, o Edifício São Bernardo, também já moraram outros nomes da literatura paranaense, como Paulo Leminski, Alice Ruiz e Helena Kolody.
Embora Trevisan também fosse famoso por rejeitar entrevistas e fotografias suas, recluso não é uma palavra fiel ao escritor. Pedestre com aversão a carro, ele costumava andar por toda a região central, vendo e ouvindo a cidade, que se tornou também uma personagem na sua obra.
“Se tivesse um rosto conhecido, as pessoas contariam suas histórias a ele? Ele queria continuar na posição de ouvinte, de observador. E ele era um doce, tinha um humor fabuloso, de fácil trato”, lembrou Fabiana.
Nesta quinta-feira (12), será assinado um protocolo entre a construtora e a prefeitura prevendo a restauração da casa e sua transformação em um espaço cultural.
“É uma honra e um dever para Curitiba prestar essa homenagem a um dos maiores nomes da literatura brasileira. Dalton Trevisan é parte da identidade cultural da nossa cidade. Esta parceria garante que a casa onde ele viveu, criou personagens e escreveu suas histórias seja não apenas preservada, como determina a legislação, mas também transformada em um espaço acessível à população”, disse o prefeito Eduardo Pimentel (PSD).