Um novo modelo de inteligência artificial está abrindo caminhos para aplicações mais adaptadas à realidade brasileira. Batizado de Gaia, o sistema foi desenvolvido com foco no idioma português e já está sendo adotado por diversas instituições no país, como o Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE-GO) e o CESAR, em Recife.

Baseado no Gemma 3, um conjunto de modelos de IA de código aberto, o Gaia se destaca por sua capacidade de análise e geração de conteúdo textual com dados e contexto do Brasil. A proposta é criar soluções em áreas como tradução, atendimento por chatbots, processamento de linguagem natural e outras aplicações específicas à realidade nacional.

“É uma resposta direta à necessidade de termos IAs que compreendam melhor o português falado no Brasil, com todas as suas nuances culturais e linguísticas”, explica Celso Camilo, professor da Universidade Federal de Goiás (UFG) e integrante do CEIA – Centro de Excelência em Inteligência Artificial, uma das instituições responsáveis pelo projeto.

Expansão do ecossistema de IA brasileira

O surgimento do Gaia soma-se a outras iniciativas voltadas ao idioma, como o Sabiá, da Maritaca AI, e o Tucano, desenvolvido por Nicholas Kluge, da Universidade de Bonn. A demanda por modelos especializados cresce à medida que empresas e órgãos públicos buscam soluções mais precisas e contextualizadas para suas necessidades.

Na mesma linha, o Itaú lançou recentemente o Aroeira, um conjunto de dados em português aberto a pesquisadores, reforçando a tendência de ampliação da infraestrutura de IA local.

Aplicações concretas já em andamento

O Gaia já está em uso em diferentes frentes no país:

  • TCE-GO: identificação de similaridades em processos;
  • TCM-GO: extração de informações e fiscalização de editais;
  • Unimed Fesp: apoio na validação de diagnósticos médicos;
  • BeNext: desenvolvimento de chatbots para atendimento;
  • BHub: suporte automatizado ao cliente;
  • CESAR: uso na educação e em sistemas de aprendizado.

Luciano Martins, da DeepMind, reforça o diferencial do Gaia: “Ele está ajustado para enfrentar problemas reais do Brasil. Nosso objetivo é ampliar o acesso à IA de qualidade e fortalecer a criação de soluções locais”.

Código aberto e colaboração ampla

Disponível publicamente na plataforma Hugging Face e integrado ao Vertex AI Model Garden do Google Cloud, o Gaia representa uma iniciativa conjunta entre o CEIA-UFG, a Associação Brasileira de Inteligência Artificial (ABRIA), as startups Amadeus AI e Nama, além do apoio técnico do Google DeepMind.

A equipe de desenvolvimento sinaliza que está aberta a colaborar com outras iniciativas voltadas ao idioma. “Temos limitações de tempo e equipe, mas seguimos dispostos a dialogar com quem estiver investindo na construção de modelos em português”, afirmou Martins ao Estadão.