FOLHAPRESS – Ao final de uma cena inicial eletrizante, visualmente deslumbrante, com duração de 13 minutos, durante a qual um grupo de cangaceiros invade a casa do herdeiro de um coronel recém-falecido, a primeira palavra que aparece na tela é “novela”.
A frase exata que surge na abertura de “Guerreiros do Sol” é: “novela criada e escrita por George Moura e Sergio Goldenberg”. A surpresa, para mim, se deu porque não parece uma cena de novela, mas de um filme ou série com bom orçamento.
Moura e Goldenberg fizeram seus nomes como autores de minisséries de altíssima qualidade, como “Amores Roubados”, “Onde Nascem os Fortes” e “Onde Está Meu Coração”, entre outras. É verdade que a dupla assinou em 2014 o remake de “O Rebu”, mas esta nova versão da novela de Bráulio Pedroso é muito mais uma série, com 36 episódios de 30 minutos, do que um folhetim tradicional.
Vistos os primeiros cinco episódios de “Guerreiros do Sol”, continuei em dúvida sobre o gênero do que assisti. O produto tem muitas características de uma minissérie. Serão 45 episódios, com 50 minutos de duração.
O texto é sofisticado, e exige que o espectador acompanhe a trama com atenção. Nitidamente, não há pressa para desenrolar o novelo da história. Há cenas longas e diálogos fartos, sem edição frenética.
Por outro lado, de fato, há traços de um produto mais popular, que nos acostumamos a chamar de novela. A protagonista narra trechos da história em off, uma muleta que ajuda o espectador a compreender a ação.
Moura e Goldenberg esticam a corda do melodrama, explorando o amor, inicialmente impossível, entre Rosa, vivida por Isadora Cruz, e Josué Alencar, papel de Thomas Aquino. José de Abreu, interpretando o coronel Elói, parece um personagem de novela das seis. Aqui e ali, os personagens dizem lugares-comuns e reproduzem clichês gastos.
O fato de a Globo querer aplicar o selo de novela à “Guerreiros do Sol” não é irrelevante neste momento. Ao contrário. Parece uma necessidade reforçar o seu posicionamento no mercado enquanto produtora deste gênero de teledramaturgia, e não de séries.
Não por acaso, na última segunda-feira (9), o canal Viva, por assinatura, mudou de nome e passou a se chamar Globoplay Novelas, com a promessa de exibir exclusivamente folhetins em sua programação. Entre os destaques da semana de inauguração estão “O Amor Invencível”, uma novela mexicana, “Hercai: Amor e Vingança”, uma telenovela turca, e “Guerreiros do Sol”.
A trama de Moura e Goldenberg será exibida de segunda a sexta no canal repaginado e em blocos de cinco capítulos por semana na plataforma de streaming do grupo. A previsão da Globo é que seja vista em 2026 na TV aberta.
“Guerreiros do Sol” é livremente inspirado num livro com o mesmo título, do historiador Frederico Pernambucano de Mello, considerado a obra fundamental sobre o cangaço brasileiro. A obra desmonta a imagem romântica, que se tornou clichê, de um Lampião que roubava dos ricos para dar aos pobres ou do cangaceiro que agia em resposta às injustiças dos coronéis. Mello fala de um negócio muito lucrativo e com muito marketing.
O historiador defende que Lampião e outros cangaceiros tinham um “escudo ético” para justificar os crimes que cometiam como modo de vida. Diziam que estavam se vingando de crimes cometidos contra eles.
Com base apenas nos primeiros cinco episódios, não dá para afirmar até onde a série pretende enfrentar os mitos a respeito de Lampião e Maria Bonita. Os roteiristas acolhem a história de que o personagem Josué Alencar abraçou o cangaço após vingar o assassinato do pai. “Virei cangaceiro não por minha maldade, mas pela maldade dos outros”. Também aparece ajudando os necessitados num mercado.
A trama acolhe temas espinhosos que espelham a contemporaneidade, como machismo, assédio sexual, sororidade feminina, ignorância científica e o uso heterodoxo da religião para justificar atos de violência.
Novela ou série, com ganchos irresistíveis ao final de cada episódio, “Guerreiros do Sol” é uma produção de qualidade, que merece ser vista.
GUERREIROS DO SOL
– Avaliação Bom
– Quando Disponível no Globoplay, com cinco novos episódios por semana. Qua. (11), às 22h40, estreia no canal Globoplay Novelas
– Classificação 16 anos
– Autoria George Moura e Sergio Goldenberg
– Elenco Isadora Cruz, Thomás Aquino e Irandhir Santos